AS MÃES DA PRAÇA DE MAIO | ARGENTINA



Direitos Humanos

Para não esquecer: a história das Mães da Plaza de Mayo, na Argentina

Catorze mães que se encontravam desesperadas com o desaparecimento de seus filhos e filhas decidiram reunir-se na Plaza de Mayo, em frente à Casa Rosada, sede do poder federal. A razão deste encontro: receber alguma resposta do governo que, naquele momento, estava a cargo do ditador Jorge Rafael Videla.

Como todo o país se encontrava em estado de sítio, era proibida a reunião de três ou mais pessoas ou mesmo permanecer parado em vias públicas. Para que se dispersassem, portanto, a polícia foi chamada e, aos gritos de “¡Circulen, señoras, circulen!”, tentavam desfazer o grupo.

Elas acataram as ordens e juntaram-se em duplas, e, de braços dados, começaram a circular pelo monumento da Plaza de Mayo, a Pirâmide de Mayo. O lenço branco em suas cabeças, então feito com tecido de fraldas de bebês, e que representavam seus filhos e filhas, passou a ser usado também como modo de reconhecerem-se entre elas. Não imaginavam que este acabaria por se converter em um símbolo mundial de luta e resistência.

Enquanto isso, para desacreditá-las em suas vigílias, o governo e seus simpatizantes começaram a chamá-las de Las Locas de Plaza de Mayo. Ao perceber que, cada vez mais, se multiplicavam os lenços, a ditadura de Videla decidiu reagir e infiltrou, entre um de seus grupos, um jovem loiro, de olhos azuis, que alegava ter um parente desaparecido. Chamado carinhosamente pelas Madres de “Loirinho” (“el Rubito”) por sua aparência angelical, o jovem, que se apresentou como Gustavo Niño, era nem mais nem menos que o oficial Alfredo Astiz, conhecido hoje como “O anjo da morte”.

Uma das fundadoras das Mães da Praça de Maio, Esther Ballestrino era uma paraguaia que se refugiara na Argentina em 1947, quando foi perseguida pela ditadura de Higinio Morínigo. Entre seus amigos mais próximos estava Jorge Mário Bergoglio, o futuro Papa Francisco que, anos mais tarde, diria às filhas dela: “Sua mãe me ensinou a pensar”.

Ateia e comunista, a amiga do futuro papa havia sofrido o desaparecimento de sua filha Ana María, razão que a levou a se juntar com as outras Madres. Meses depois do sequestro, Ana María foi encontrada viva. Esther, então, junto com suas três filhas, refugiou-se no Brasil e, mais tarde, na Suécia.

Para desacreditá-las em suas vigílias, a ditadura e seus simpatizantes começaram a chamá-las de Las Locas de Plaza de Mayo. Em 1977, três das mães fundadoras do grupo foram sequestradas, torturadas e atiradas vivas sobre o mar

Já segura com a família no exílio, porém, Esther não pôde manter-se de braços cruzados e retornou a Buenos Aires para acompanhar novamente as Madres. Ao revê-la, as amigas lhe disseram que seu dever já estava cumprido e que agora ela estaria em perigo em seu país e sugeriram que retornasse ao exílio, ao que Esther teria respondido: “Não, não vou sair daqui até que todos apareçam” .

Entre 8 e 10 de dezembro de 1977, as forças comandadas por Astiz sequestraram 12 pessoas, entre elas Esther Ballestrino, Azucena Villaflor e María Bianca de Ponce, também fundadoras das Madres. Foram torturadas por dez dias e depois colocadas em um avião e atiradas vivas no litoral de Santa Teresita e Mar del Tuyo. Em 2017, Astiz foi condenado à prisão perpétua pelos crimes que cometeu na ditadura e declarou: “Nunca vou pedir perdão”.

“Podemos assegurar-lhe que há milhares e milhares de lares sofrendo muita dor, muita angústia, muito desespero e tristeza porque não nos dizem onde estão nossos filhos, não sabemos nada sobre eles, nos tiraram a coisa mais preciosa que uma mãe pode ter, seu filho. Só queremos saber onde estão nossos filhos, vivos ou mortos! Angústia porque não sabemos se estão doentes, se estão com frio, se estão com fome, não sabemos nada, e desespero, senhor, porque não sabemos mais a quem recorrer. Imploramos a vocês, são a nossa última esperança! Por favor, nos ajude! Ajude-nos por favor! Vocês são a nossa última esperança”, exclamaria Marta Alconada diante do jornalista holandês Frits Jelle Barend, que havia chegado ao país para cobrir a Copa do Mundo de 1978. Marta morreu em 2007. Nunca pôde saber o que aconteceu com seu filho Domingo. Entretanto, graças a essa entrevista, o mundo foi capaz de descobrir o que estava acontecendo na Argentina dos desaparecidos.

Muitas Madres se foram com o passar do tempo, algumas poucas com o alento de, pelo menos, terem enterrado os restos mortais de seus filhos. Outras, apenas com a dor do silêncio. Até os dias de hoje, esse pacto de silêncio dos militares permanece.

Em 3 de novembro de 1995, nasceu o grupo H.I.J.O.S. com o objetivo de reivindicar a luta de pais e companheiros por seus desaparecidos, buscar a restituição de identidades de irmãos e familiares sequestrados pela ditadura e fazer justiça contra militares e civis que apoiaram a ditadura.

Das Madres, com o passar dos anos, surgiram as hoje conhecidas Abuelas de Plaza de Mayo, as Avós, que seguem na busca por seus netos, filhos e filhas de seus filhos desaparecidos. De lá para cá, a identidade de 128 netos pôde ser reconhecida. As Abuelas estimam em 500 os bebês roubados pela ditadura.

Comprei um lenço branco e fui para a praça. Sentei-me num banco e comecei a chorar. Uma Madre se aproximou de mim e disse 'Quem você perdeu?' 'Minha filha', respondi. 'Bem, aqui não se vem para chorar, aqui se vem para lutar'

A atual presidenta das Abuelas, Estela de Carlotto, juntou-se às Madres em abril de 1978, alguns meses depois do desaparecimento de sua filha Laura, que estava grávida de três meses. Em agosto daquele mesmo ano, os militares convocaram-na para lhe devolver o corpo da filha. Um dos poucos casos da época em que um membro da família recebeu os restos de um dos seus para ser enterrado.

Estela, no entanto, sabia que seu neto havia nascido em cativeiro: “Em 1985, já na democracia, fiz com que exumassem o corpo de minha filha e a equipe de antropologia forense examinou-o cuidadosamente para determinar com exatidão tudo o que os militares haviam negado. A deterioração de seus dentes provava seu longo sequestro; através da pélvis, soubemos que ela tinha tido um bebê e, por causa das balas que haviam se alojado em seu crânio, que havia sido executada por um tiro de Itaka a 30cm de distância e pelas costas… Assim, reuni provas para a Justiça e demonstrei lá fora, onde tínhamos causas abertas, o que havia acontecido aqui. E desta vez, sim, eu quis vê-la… Vi seus pequenos ossos, seu cabelo, eu a vi, a vi. E, finalmente, encerrei meu luto e nunca mais precisei ir ao cemitério novamente. Vou somente de vez em quando. ”

Quanto ao filho de Laura, Guido, como a mãe queria que o bebê se chamasse, Carlotto sabia que estaria por ali, perto, longe, não importava, pois para ela, nada nem ninguém iria impedi-la de procurar por ele. Entre tanta dor, muita luta e após 36 anos, um teste de DNA revelaria em 2014 que o neto 114 era o Guido de Estela. “É um caso especial para mim porque, além da felicidade de tê-lo encontrado, meu pedido de ‘eu não quero morrer sem abraçá-lo’ foi cumprido”.

Quem deu a notícia a Guido de que ele era filho de desaparecidos foi sua tia Claudia, que trabalha na CONADI (Comissão Nacional pelo Direito à Identidade). “Tenho que lhe dizer que os resultados são positivos e que você é o filho de Laura Carlotto e Walmir Óscar Montoya, meu sobrinho”.

As histórias são muitas. Impossível se esquecer de María Isabel Chorobik de Mariani, conhecida como Chicha, que morreu em agosto do ano passado aos 94 anos. Também fundadora das Madres, Chicha teve seu filho assassinado, assim como sua nora. Sua neta, Clara Anahí, tinha 3 meses de idade na época do sequestro. Ela, porém, não contou com a mesma sorte de Estela. Chicha partiu sem a ter encontrado. Até hoje, seguem buscando por Clara.

Só queremos saber onde estão nossos filhos, vivos ou mortos! Angústia porque não sabemos se estão doentes, se estão com frio, se estão com fome, não sabemos nada, e desespero, senhor, porque não sabemos mais a quem recorrer. Imploramos a vocês, são a nossa última esperança! Por favor, nos ajude!

Mercedes Colás de Meroño, com 94 anos, é a vice-presidente das Madres de Plaza de Mayo. Em 5 de janeiro de 1978, sua filha Alicia foi sequestrada. “Porota”, como a chamam, decidiu juntar-se às Madres. “Comprei um lenço branco e fui para a praça. Sentei-me num banco e comecei a chorar. Uma Madre se aproximou de mim e disse ‘Quem você perdeu?’ ‘Minha filha’, respondi. ‘Bem, aqui não se vem para chorar, aqui se vem para lutar’”. Alicia ainda está desaparecida e Mercedes continua marchando.

“Marchamos na Plaza de Mayo. Ali nos reunimos com nossos filhos, ali nos sentimos vivas. Desde o primeiro momento nós, Madres, sem sabermos, estávamos educando para a paz. Estávamos caminhando em uma Praça enfrentando a ditadura, fazendo um grande esforço para não ficarmos em uma cama chorando. Todas as manhãs, nos perguntávamos: o que vamos fazer? Todas as manhãs sem nossos filhos, todas as manhãs acordávamos e perdíamos a cada dia as esperanças de encontrá-los. Quando nos demos conta de que eles não voltariam, tomamos a decisão de não mais deixar a Plaza. Tomamos a decisão de lutar até o último dia de nossas vidas e também entendemos que a luta individual não fazia sentido, que deveríamos assumir a responsabilidade de socializar a maternidade, fazendo de nós mães de todos.

Palavras de Hebe de Bonafini, presidenta das Madres, que em 4 de dezembro do ano passado fez 90 anos. Em 2001, Hebe e as mães foram reprimidas pela polícia, quando elas saíram para defender as pessoas no massacre brutal que tirou a vida de 39 pessoas.

Em 8 de fevereiro de 1977, o filho mais velho de Hebe, Jorge Omar, foi sequestrado em La Plata e, em 6 de dezembro, sequestraram seu outro filho, Raúl Alfredo. Eles nunca apareceram. Hebe é aquela que mais duramente critica o atual governo argentino. Lembro-me de uma frase carinhosa dela para o presidente: “Eu disse isso antes e vou dizer de novo: Macri é um digníssimo filho de mil putas”.

Com o passar dos anos, criaram-se subdivisões entre elas. Em 1986, foi criada a Asociación Madres de Plaza de Mayo Línea Fundadora. Uma de suas representantes é Nora Cortiñas, ou Norita, como chamam essa mulher gigante de apenas um metro e meio. Seu filho, Carlos Gustavo Cortiñas, membro do Partido Peronista na Villa 31, foi sequestrado em sua casa em 15 de abril de 1977, na presença de sua esposa e de seu filho de 2 anos. Nunca se soube para onde o levaram ou o que fizeram com Carlos.

Em 13 de agosto de 1984, o general genocida Luciano Benjamin Menéndez foi convidado para um programa de televisão. Nora foi até lá e chamou-o de “covarde e assassino”. Menéndez desembanhou uma faca em uma tentativa vã de apunhalá-la. Uma imagem que permanecerá para a história. Segundo dizem, Menéndez não se incomodou por haver sido chamado de assassino, mas sim de covarde, como bem está bem representado na foto.

Em 22 de março passado, Norita completou 89 anos e não há outro lugar para ela que não seja nas ruas. Está presente em cada manifestação, em cada marcha e em todo grito que represente a defesa dos direitos humanos em qualquer lugar do mundo. Onde quer que vá, carrega consigo a foto do filho, dentro e fora do peito.

Foram mais de 2000 marchas em 42 anos e, toda quinta-feira, estarão novamente marchando na Plaza de Mayo porque, para essas mulheres, baixar os braços ou desistir da luta nunca foi uma opção. “Quiséramos nós que não existissem as ‘Madres de Plaza de Mayo’ ou seus ‘pañuelos blancos’. Ninguém escolheu ser uma, ao contrário, mas esse foi nosso destino”, disse Taty Almeida, uma referência entre as Madres, hoje a seus 88 anos de idade. Seu filho Alejandro, de 20 anos, desapareceu em 17 de junho de 1975.

No dia 24 de março, quando se comemora o Día Nacional de la Memoria por la Verdad y la Justicia na Argentina, para não esquecer o golpe de 1976 e o terrorismo de Estado que levou a 30 mil desaparecidos em todo o país, elas estavam novamente presentes. Em abril, foi identificada na Espanha a neta número 129, filha dos militantes de esquerda Carlos Solsona e Norma Síntora, que estava grávida de nove meses quando foi sequestrada pela ditadura. Ela nunca foi encontrada. Aos 70 anos, Carlos, que nem sabia se o bebê era menino ou menina, se torna pai de uma mulher de 42 com quem foi impedido de conviver. “Ninguém tem ideia das milhares de noites que passei sem dormir esperando este momento”, disse.

Fico com a frase de Estela de Carlotto sobre sua luta e a passagem do tempo: “Às vezes eu digo, para ilustrar o quanto temos andado pelo mundo, que vamos continuar andando enquanto tivermos mobilidade. Por isso usamos bengala, para que nunca nos ajoelhemos” .

Aprendamos.

Tradução de Elisabete Bustamante
Fonte: Socialista Morena

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O GOLPE MILITAR NA ARGENTINA



Na Argentina, falar da ditadura e dos militares que a conduziram é motivo de desonra

País teve um dos regimes mais sanguinários do continente, com ao menos 30.000 mortos

Protesto em Buenos Aires reúne centenas de pessoas na Praça de Maio no aniversário do golpe militar na Argentina, dia 24 de março.
Protesto em Buenos Aires reúne centenas de pessoas na Praça de Maio no aniversário do golpe militar na Argentina, dia 24 de março.EMILIANO LASALVIA / AFP

FEDERICO RIVAS MOLINA

Em 18 de setembro de 1985, o procurador Julio César Strassera completou 52 anos. Uma coincidência o levou a ficar nesse dia diante dos militares que logo seriam sentenciados por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura. Strassera tinha trabalhado duro para conseguir a condenação de Jorge Rafael Videla, Emilio Massera, Leopoldo Galtieri, Armando Lambruschini e Orlando Agosti por criarem um plano repressivo que deixou 30.000 vítimas, entre mortos e desaparecidos. O argumento do promotor colocou um ponto na história argentina. Strassera citou Dante Alighieri e chamou os responsáveis pelo terrorismo de Estado de “tiranos que viveram de sangue e rapinagem”. E concluiu sua leitura com uma frase que ainda produz calafrios nos argentinos: “Senhores juízes, nunca mais”. O tribunal teve que pedir à polícia que esvaziasse a sala, que irrompeu eufórica.

Passaram-se 34 anos desde o julgamento da junta militar promovido pelo Governo de Raúl Alfonsín (1983-1989). Strassera citou no encerramento de suas considerações finais o Nunca Mais que foi o título do relatório da Conadep, a comissão da verdade liderada pelo escritor Ernesto Sábato e que registrou quase 9.000 casos de assassinados e desaparecidos pela ditadura. A cifra era provisória, compilada meses após o término do Governo militar graças ao depoimento de sobreviventes e parentes das vítimas. O trabalho da Conadep e, meses depois, o julgamento da Junta Militar, colocou a Argentina na vanguarda da luta contra a impunidade na América Latina. Esse exercício de memória e justiça continua ativo no país sul-americano. O espírito do Nunca Mais sobreviveu à passagem dos anos.

A última marcha, há uma semana, para lembrar o aniversário do golpe de 24 de Março de 1976 – que pôs fim ao Governo constitucional de Isabel Perón — e as vítimas da ditadura reuniu dezenas de milhares de pessoas na Plaza de Mayo, em frente à Casa Rosada, em Buenos Aires. Como todos os anos, os atos de repúdio se repetiram nas escolas públicas, a imprensa dedicou espaços à memória daqueles anos e os editores aproveitaram a força do aniversário para publicar livros sobre o assunto.

Acontece que há pouco espaço para dúvidas na Argentina: a ditadura e os militares que a lideraram são uma palavra feia, ruim, neste país onde o terrorismo de Estado foi especialmente sanguinário. Seus líderes já morreram, todos no ostracismo, sem que sequer se saiba com exatidão onde estão seus túmulos. Não há monumentos ou ruas que lembrem aqueles que certa vez foram amos e senhores.

Na Argentina não existe o “videlismo”, o “masserismo” ou o “galtierismo”, muito menos um partido militarista que supere a insignificância ou um político que defenda esses anos em público. Quem tiver aspirações eleitorais, faz melhor se guardar suas opiniões.null

O caminho da memória, no entanto, teve altos e baixos. As ações judiciais contra as Juntas seguiram as leis de Obediência Devida e de Ponto Final, aprovadas entre 1986 e 1987, após uma série de revoltas militares nos quartéis. As duas leis puseram fim a novos julgamentos e deixaram sob proteção os comandos médios e baixos que, com a desculpa de terem cumprido ordens, haviam sequestrado, torturado e assassinado. O então presidente Carlos Menem deu um passo além nos anos 90 e assinou um indulto para os chefes, que voltaram para suas casas. Mas as organizações de Direitos Humanos logo encontraram uma brecha no decreto de Menem e ativaram dezenas de causas por roubo de bebês: a ditadura tinha idealizado um plano para entregar para adoção as crianças nascidas nos centros de tortura de mães assassinadas em seguida.

O roubo de bebês devolveu à prisão personagens como Videla, mas ainda restavam dezenas de investigações congeladas pelas chamadas “leis do perdão” promulgadas por Alfonsín. Durante o Governo de Néstor Kirchner (2003-2007) tudo mudou. Em junho de 2005, a Corte Suprema declarou a inconstitucionalidade de ambas as normas e reativou dezenas de ações judiciais. O último relatório da Promotoria de Crimes contra a Humanidade do Ministério Público registrou 575 ações contra repressores, com 3020 imputados. Desde 2006, quando os casos foram reabertos, até setembro de 2018, data da última estatística, os tribunais argentinos proferiram 209 condenações contra 862 indiciados. Outros 715 militares aguardam sentença. A história sombria da ditadura está viva na Argentina.

Fonte: El País

O CINEMA ARGENTINO




O cinema argentino começa a ser produzido pouco depois da primeira exibição dos irmãos Lumière feita no país. Cerca de 4 meses depois, as primeiras obras começam a surgir, com vistas de acontecimentos cotidianos e também filmes de temática histórica e patriótica, caso de  “A Revolução de Maio”, estreado em 22 de maio de 1909. A literatura e história já formavam a base para o que seria o cinema argentino.

Em 1931 chega o cinema sonoro, dando espaço para a indústria cinematográfica no país. A soma de som e imagem enriqueceu o cinema argentino, que já começava a construir uma identidade própria.

A Argentina passa por um momento de dificuldade em 1942 e suspende-se a importação de filme virgem. Após a eleição de Perón é aprovada a Lei do Cinema, que deu espaço para as produções argentinas. Porém com a ditadura de 1955, passa por mais um problema e tem as produções paralisadas por 2 anos. Nesse momento ocorrem perseguições a pessoas ligadas ao cinema.

Com o surgimento de novos diretores e novas ideias em 1957, o cinema argentino começa a se renovar à partir de 1960. Na década de 80 o Cinema Pós-Ditadura  começa a ganhar visibilidade com nomes como María Luisa Bemberg (“Camila”), Pino Solanas (“Tangos, o Exílio de Gardel”) e Luis Puenzo (“A História Oficial”).

Em 1990 surge o que é chamado de Novo Cinema Argentino, carregado com novas perspectivas e realizações independentes. O precursor do movimento é Martín Rejtman com o filme “Rapado”. Diretoras e diretores ganham espaço com seus filmes nos anos seguintes, somando à história do cinema argentino com grandes filmes, como Lucrecia Martel com “O Pântano”, tornando-se um dos principais cinemas entre os países latino-americanos.

Na lista abaixo você encontrará uma diversidade de filmes para conhecê-lo melhor.

 

Camila (1984), Maria Luisa Bemberg


Camila é um filme do gênero drama que vai além do romance, passando pelas características sociais de Buenos Aires no século XIX. Na Argentina, uma bela aristocrata e um padre jesuíta se apaixonam. O filme é baseado em uma história verídica.

 

A História Oficial (1985), de Luis Puenzo


Primeiro filme argentino a ganhar um Oscar, A História Oficial é polêmico e tem tom de denúncia contra a ditadura militar sofrida pela Argentina. Após o fim da Guerra Suja no país, uma professora investiga a origem de sua filha adotiva.

 

O Pântano (2001), Lucrecia Martel


Com atmosfera pesada e estrutura de narrativa  diferenciada, o filme prende pela complexidade dos personagens e o visual criado por Lucrecia Martel. Na Argentina, conta-se a história de um casal que enfrenta um calor infernal em sua casa de campo, junto aos filhos adolescentes. Uma prima traz os filhos também. Quando a mulher sofre um acidente doméstico, os adultos vão para a cidade e os jovens ficam sozinhos.

 

Leonera (2008), de Pablo Trapero


Julia é presa acusada de ter matado o namorado que estava envolvido com outro homem. Grávida, enfrenta os desafios de criar o filho numa ala especial da prisão. O filme se concentra em retratar o cotidiano do presídio em que Julia passa a viver e os modos de relação dentro dessa realidade.

 

O Segredo dos Seus Olhos (2009), de Juan José Campanella


Segundo filme argentino vencedor na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar, O Segredo dos Seus Olhos conta a história de Benjamín, um oficial de justiça que decide escrever um livro após se aposentar, usando suas memórias como base da criação. Sua inspiração é um caso real de estupro e assassinato de uma jovem. Em sua jornada, o aposentado conhece o marido da vítima e promete ajudá-lo a encontrar o culpado.

 

Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual (2011), de Gustavo Taretto


Tratando de um assunto atual, Medianeras apresenta Martín e Mariana, seres solitários que moram em Buenos Aires e têm dificuldades em se relacionar com o mundo. Sempre se cruzam na rua, mas nunca se veem. A ascensão da tecnologia vem para mostrar como agora faz parte de nossas relações. Em busca de alguém que os compreenda, os protagonistas compartilham histórias.

 

Um Conto Chinês (2011), Sebastián Borensztein


Roberto, um homem solitário e ranzinza, é dono de uma loja de ferramentas em Buenos Aires. Sua rotina é metódica, mas passa por mudanças quando um chinês que não fala sequer uma palavra de espanhol aparece em seu caminho e Roberto decide ajudá-lo.

 

Querida, vou comprar cigarros e já volto (2011), de Mariano Cohn e Gastón Duprat


O filme nos faz refletir sobre nossas escolhas. Ernesto recebe uma proposta inusitada: receber 1 milhão de dólares para viver novamente 10 anos de sua existência em qualquer época que escolher. Ao aceitá-la, porém, ele percebe a complexidade da vida.

 

Elefante Branco (2012), de Pablo Trapero


Filme destaque do festival de Cannes em 2012, Elefante Branco trata de um assunto delicado: a Igreja. Mostrando uma Buenos Aires diferente das usuais cheias de glamour, aqui o centro são as periferias, retratadas quando os padres Julian, Nicolás e a assistente social Luciana lutam para melhorar as condições de vida de uma favela na periferia de Buenos Aires. Seus objetivos entram em conflito com os interesses do governo, do tráfico e da própria Igreja.

 

Relatos Selvagens (2014), de Damián Szifron


Com uma espécie de compilado, o filme reúne seis histórias que colocam os personagens em situações desafiadoras. Cada um dentro de sua própria história coloca em xeque seus lados selvagens e irracionais.

 

Assistindo a esses filmes, você estará conhecendo um pouco sobre a história da Argentina e de seu importante cinema.

Por Mariana R. Marques

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