2022: ENTRE A FICÇÃO CIENTÍFICA E A FOME

 terça-feira, 11 janeiro 2022

Apesar do poder de transformação da ciência, ela ainda se põe incrivelmente a serviço dos detentores do capital

O enredo do filme “Não olhe para cima” tem total aderência com o momento atual que vivemos. Então vejamos: ao invés de negar o fim iminente da espécie humana por um meteoro que se aproxima, estamos a discutir e buscar por vida fora do planeta enquanto se encerram as nossas possibilidades por aqui.

Embora a ciência tenha todo o poder para lutar contra esta tendência de aniquilação (“Olhe para o clima”, “Olhe para a pandemia”, “Olhe para a superbactéria”), ela ainda se põe incrivelmente a serviço dos detentores do capital, quando deixa de investigar por novos antibióticos ou de apontar por novos modos de produção e distribuição de renda. É óbvio que o incentivo à miséria e fome afeta a todos – a concentração de renda não é sustentável – uma vez que tudo é interligado: um vírus circula todo o planeta em questão de dias. E a covid mostrou que o dinheiro não significa imunidade. E da forma com que ele é investido pode gerar “apartheid vacinal” que retorna para todos sob forma de novas variantes.

Embora essa forma servil da ciência para com o mercado seja danosa, há uma série de outros efeitos colaterais: para garantir insumos, há a necessidade de apropriação de novas divisas, o que impede com que se tenha um envolvimento global na busca por soluções – nem todo mundo pode fazer ciência.

Explico melhor, o negacionismo científico (com corte de recursos e desinvestimento em educação) conta muito dos planos para o futuro de cada nação: este processo é uma carta consentida de escravidão em que se tem a clara postura de ser e de se manter fornecedor de mão de obra e matéria prima barata às custas da vida de seu povo; que busca restos de madeira para queimar em substituição ao inacessível gás de cozinha, que come pés de galinha quando possível e que deixa de acreditar na educação por ter de garantir a próxima refeição nas ruas.

E é isso o que deseja o liberalismo: manter pobres e escravos os povos que perdem toda a assistência do Estado para que os ricos usufruam de suas posses. E o planeta já percebeu o quão danoso é o comportamento humano. Embora a espécie humana tenha surgido apenas no último segundo do último dia do primeiro ano de sua existência, o planeta Terra já sabe como proceder: mudando o clima, alterando as estações, derretendo o permafrost…. Ele sabe que tudo isso é necessário para se livrar desta gripe insana chamada espécie humana.

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Helinando Oliveira é Professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) desde 2004 e coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (LEIMO).

Helinando Oliveira

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