MÚSICA E RESISTÊNCIA


A MPB durante a ditadura civil-militar

A música como um importante meio cultural de resistência durante o período ditatorial

Por Gabriel Milaré -3386Postado: 17 de agosto, 2020    

MPB

A Música Popular Brasileira (MPB) sempre foi um dos instrumentos de identidade nacional. Durante o período ditatorial brasileiro (1964-1985), a produção artística adotou certas características fruto exatamente das imposições que o cenário autoritário de então impunha. No entanto, isso não anulou o caráter crítico da produção musical no país.

Algumas vozes e personalidades foram imortalizadas durante as décadas de 1960, 1970 e 1980. Alguns cantores utilizavam sua personalidade artística para também adotar uma postura política. As letras críticas, desafiadoras e que denunciavam a situação brasileira marcaram a trajetória de tantos cantores e compositores, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina, Milton Nascimento, Geraldo Vandré, entre diversos outros.

MPB

Nos primeiros anos de regime, as denúncias sociais e às medidas anti-democráticas marcaram a produção musical. O aumento da miserabilidade com o regime, devido a alguns programas de contenção econômica como o PAEG – Programa de Ação Econômica do Governo – gerou canções como “Pedro Pedreiro” de Chico Buarque:

Manhã parece carece de esperar também / Para o bem de quem tem bem / De quem não tem vintém / Pedro pedreiro tá esperando a morte / Ou esperando o dia de voltar pro Norte / Pedro não sabe, mas talvez no fundo / Espere alguma coisa mais linda que o mundo / Maior do que o mar / Mas pra que sonhar se dá / Um desespero de esperar demais / Pedro pedreiro quer voltar atrás / Quer ser pedreiro, pobre e nada mais / Sem ficar esperando, esperando, esperando

Com a instituição do AI-5 (1968), a crítica musical precisou se maquiar para passar pela censura prévia imposta pelo regime. Músicas de duplo sentido – como “Cálice” de Gilberto Gil e Chico Buarque, fazendo referência ao verbo “calar-se” – tentavam driblar a ditadura e seus censores. Diversos cantores adotavam pseudônimos para esconder sua identidade – a de alguns já muito perseguida.

O final da década de 1960 também protagonizou a emergência da Tropicália, um movimento artístico que propunha uma inovação musical a partir da mesclagem de manifestações brasileiras com algumas vanguardas europeias à época. A mistura da MPB com o Rock’n Roll foi uma das marcas desse sincretismo cultural. Nomes como o de Caetano Veloso subvertiam o padrão tradicionalista da população brasileira.

Com a crise do regime no final da década de 1970 e o processo de reabertura na década de 1980, a revogação do AI-5 abriu espaço para manifestações mais diretas e abertas aos resquícios do regime. Uma das músicas que marcou esse processo e que se tornou uma espécie de hino democrático no início dos anos 1980 foi “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré.

Pelos campos ha fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Vem vamos embora que esperar não e saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer

O perfil crítico da MPB não ficou restrito como uma marca de resistência cultural ao regime ditatorial brasileiro. Até hoje, com o fortalecimento de novos gêneros, como o funk e o rap, a produção musical ainda é um meio de denúncia. Muitos desses cantores citados permanecem em ativa até os dias atuais e, somadas a essas vozes, diversas outras compõe uma das marcas do conceito de brasilidade.

Fonte: Blog do Enem

MPB / João Gilberto é resultado de uma longa história


MPB – Música Popular Brasileira

Podemos dizer que a MPB surgiu ainda no período colonial brasileiro, a partir da mistura de vários estilos. Entre os séculos XVI e XVIII, misturou-se em nossa terra, as cantigas populares, os sons de origem africana, fanfarras militares, músicas religiosas e músicas eruditas europeias. Também contribuíram, neste caldeirão musical, os indígenas com seus típicos cantos e sons tribais.

Nos séculos XVIII e XIX, destacavam-se nas cidades, que estavam se desenvolvendo e aumentando demograficamente, dois ritmos musicais que marcaram a história da MPB: o lundu e a modinha. O lundu, de origem africana, possuía um forte caráter sensual e uma batida rítmica dançante. Já a modinha, de origem portuguesa, trazia a melancolia e falava de amor numa batida calma e erudita.

Na segunda metade do século XIX, surge o Choro ou Chorinho, a partir da mistura do lundu, da modinha e da dança de salão europeia. Em 1899, a cantora Chiquinha Gonzaga compõe a música Abre Alas, uma das mais conhecidas marchinhas carnavalescas da história.

Já no início do século XX começam a surgir as bases do que seria o samba. Dos morros e dos cortiços do Rio de Janeiro, começam a se misturar os batuques e rodas de capoeira com os pagodes e as batidas em homenagem aos orixás. O carnaval começa a tomar forma com a participação, principalmente de mulatos e negros ex-escravos. O ano de 1917 é um marco, pois Ernesto dos Santos, o Donga, compõe o primeiro samba que se tem notícia: Pelo Telefone. Neste mesmo ano, aparece a primeira gravação de Pixinguinha, importante cantor e compositor da MPB do início do século XIX.

Com o crescimento e popularização do rádio nas décadas de 1920 e 1930, a música popular brasileira cresce ainda mais. Nesta época inicial do rádio brasileiro, destacam-se os seguintes cantores e compositores: Ary Barroso, Lamartine Babo (criador de O teu cabelo não nega, entre outras marchinhas de carnaval), Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues e Noel Rosa. Surgem também os grandes intérpretes da música popular brasileira: Carmen Miranda, Mário Reis e Francisco Alves.

Na década de 1940 destaca-se, no cenário musical brasileiro, Luis Gonzaga, o “rei do Baião”. Falando do cenário da seca nordestina, Luis Gonzaga faz sucesso com músicas como, por exemplo, Asa Branca e Assum Preto.

Enquanto o baião continuava a fazer sucesso com Luis Gonzaga e com os novos sucessos de Jackson do Pandeiro e Alvarenga e Ranchinho, ganhava corpo um novo estilo musical: o samba-canção. Com um ritmo mais calmo e orquestrado, as canções falavam  principalmente de amor. Destacam-se neste contexto musical: Dolores Duran, Antônio Maria, Marlene, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Angela Maria e Caubi Peixoto.

Em fins dos anos 50 (década de 1950), surge a Bossa Nova, um estilo sofisticado e suave. Destaca-se Elizeth Cardoso, Tom Jobim e João Gilberto. A Bossa Nova leva as belezas brasileiras para o exterior, fazendo grande sucesso, principalmente nos Estados Unidos.

A televisão começou a se popularizar em meados da década de 1960, influenciando na música. Nesta época, a TV Record organizou o Festival de Música Popular Brasileira. Nestes festivais são lançados Milton Nascimento, Elis Regina, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Edu Lobo. Neste mesmo período, a TV Record lança o programa musical Jovem Guarda, onde despontam os cantores Roberto Carlos e Erasmo Carlos e a cantora Wanderléa.

Na década de 1970, vários músicos começam a fazer sucesso nos quatro cantos do país. Nara Leão grava músicas de Cartola e Nelson do Cavaquinho. Vindas da Bahia, Gal Costa e Maria Bethânia fazem sucesso nas grandes cidades. O mesmo acontece com DJavan (vindo de Alagoas), Fafá de Belém (vinda do Pará), Clara Nunes (de Minas Gerais), Belchior e Fagner (ambos do Ceará), Alceu Valença (de Pernambuco) e Elba Ramalho (da Paraíba). No cenário do rock brasileiro destacam-se Raul Seixas e Rita Lee. No cenário funk aparecem Tim Maia e Jorge Ben Jor.

Outros caminhos da música brasileira

Nas décadas de 1980 e 1990 começam a fazer sucesso novos estilos musicais, que recebiam fortes influências do exterior. São as décadas do rock, do punk e da new wave. O show Rock in Rio, do início dos anos 80, serviu para impulsionar o rock nacional.Com uma temática fortemente urbana e tratando de temas sociais, juvenis e amorosos, surgem várias bandas musicais. É deste período o grupo Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Titãs, Kid Abelha, RPM, Plebe Rude, Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii, Ira! e Barão Vermelho. Também fazem sucesso: Cazuza, Rita Lee, Lulu Santos, Marina Lima, Lobão, Cássia Eller, Zeca Pagodinho e Raul Seixas.

Os anos 90 também são marcados pelo crescimento e sucesso da música sertaneja ou country. Neste contexto, com um forte caráter romântico, despontam no cenário musical : Chitãozinho e Xororó, Zezé di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo e João Paulo e Daniel.

Nesta época, no cenário rap destacam-se: Gabriel, o Pensador, O Rappa, Planet Hemp, Racionais MCs e Pavilhão 9.

O século XXI começa com o sucesso de grupos de rock com temáticas voltadas para o público jovem e adolescente. São exemplos: Charlie Brown Jr, Skank, Detonautas e CPM 22.
http://www.suapesquisa.com/mpb/