O planeta Terra, nossa casa, testemunha uma mudança climática sem precedentes, se tornando mais quente na maioria dos locais, a exemplo do próprio Sertão. Nessas milhares de espécies nativas e adaptadas estão a chave da Arca: as informações genéticas que permitirão os contínuos ganhos de produtividade na agricultura, novos fármacos, novas enzimas, novos alimentos e uma outra revolução tecnológica através da genômica e ciências afins.WhatsAppFacebookMessengerPostado em 28/04/2022 2022 20:00 , Agronegócios. Atualizado em 28/04/2022 20:43
Colunista Geraldo Eugenio
Geraldo Eugênio, Agrônomo | Professor Titular da UFRPE-UAST
Já se vão 69 anos, quando a partir do trabalho de alguns jovens em laboratórios do Reino Unido resolveram participar de uma gincana, que à época era a corrida para desvendar a estrutura física do DNA – Ácido desoxirribonucleico, a molécula que havia sido identificada como portadora das informações genéticas e, portanto, a chave da vida.
O desvendar da estrutura do DNA

Dentre os concorrentes de um lado do Atlântico, nos Estados Unidos, afiava suas espadas ninguém menos do que o magnífico Linus Pauling, que havia desvendado a arquitetura molecular das proteínas. Do outro, no Laboratório Cavendish, da renomada Universidade de Cambridge, dois jovens talentosos, aventureiros e avessos a escrúpulos, o zoólogo John Watson e o físico James Crick.
Os dois haviam avançado, mas não chegavam à imagem que queriam até que em uma visita a uma pesquisadora, a não menos inteligente e dedicada Rosalind Franklin, conhecendo seus trabalhos de raio-x com a molécula do DNA, saíram de fininho e publicaram, em 1953, um trabalho de três páginas, que talvez seja a mais importante publicação científica na história da humanidade.
Em 1962, os espertalhões, junto com Maurice Wilkins, foram agraciados como Prêmio Nobel de Medicina. Rosalind foi passada para tràs, até que anos após sua morte precoce, morreu aos 37 anos, foi reconhecida como fundamental no feito que mudou a biologia de ponta cabeça.
A aceleração da biotecnologia – a biologia molecular avançou de forma acelerada. O trabalho dos pioneiros da genética foram sendo melhor conhecidos, a exemplo de Thomas Hunt Morgan, com suas mosquinhas Drosófilas, bem como a descoberta clássica da Dra. Barbara McClintok, de que os genes não eram tão fixos como se pensavam e, se moviam.
O resultado foi espetacular e que houve de avanço na aplicação da biotecnologia em áreas como a saúde, a alimentação e a indústria de modo geral é absolutamente fenomenal. A humanidade avançou em sete décadas o que não havia feito em centenas de milhares de anos. A resposta ao vírus Covid 19, em se conseguir desenvolver, produzir e aplicar uma vacina em um período inferior a um ano é o melhor exemplo desta saga.
A genômica
Nos anos 80 vários países se uniram e lançaram um desafio titânico, conhecer todos os genes distribuídos em 23 pares de cromossomos e que constituem o genoma humano. Volta Crick à cena e lidera o programa em sua fase final quando, finalmente foi apresentado o feito homérico.
O projeto Genoma Humano foi um investimento bilionário, consumindo a energia e o conhecimento de milhares de cientistas e centenas de milhões de dólares. A partir deste esforço inicial, as técnicas e o conhecimento avançaram de tal forma que, hoje um bom laboratório é capaz de sequenciar um genoma de alguma planta, microrganismo, vírus, ou animal em semanas a um custo infinitamente menor.
A caatinga e o tesouro que nela está depositado
A Caatinga é um Bioma único, contemplado de diversidade, com espécies nativas, adaptadas e resilientes/ Foto: Governo Federal
O desafio é trazer Rosalind Franklin, James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins para uma trilha na Caatinga, tal qual um grupo de amigos fez a semana passada à Serra do Cruzeiro, em Serra Talhada. Não é, Ivanildo?
Nesta subida íngreme e linda se discutia também a importância dos genes das espécies que formam o bioma caatinga, dos mecanismos adaptativos e do poder de resiliência que apresenta esta comunidade de organismos que evoluem em um ambiente às vezes hostil, por milhões de anos. Uma discussão boa mas um tanto abstrata, mas o que existe de concreto neste sítio mágico?
O futuro da humanidade
Na caatinga está escondida a Arca Gênica da humanidade, pelo menos foi no que o Éwerton concordou. O planeta Terra, nossa casa, testemunha uma mudança climática sem precedentes, se tornando mais quente na maioria dos locais, a exemplo do próprio Sertão. Nessas milhares de espécies nativas e adaptadas estão a chave da Arca: as informações genéticas que permitirão os contínuos ganhos de produtividade na agricultura, novos fármacos, novas enzimas, novos alimentos e uma outra revolução tecnológica através da genômica e ciências afins.
Esse patrimônio genético não é algo trivial mas representa nada mais do que a vida no planeta e a permanência do homem por um longo período à frente. É neste sentido que se chama a atenção para todos os profissionais envolvidos com a biologia, de modo geral, sejam com árvores, minha amiga e Professora Isabelle Meunier, grãos, forragens, frutas, hortaliças, microrganismos e com a fauna que caberá a todos, sem exceção, conectar as pontas deste quebra cabeça e valer a máxima de que, aqui, na Caatinga, está nossa Arca Gênica.
Louve-se o esforço da FACEPE em lançar um edital para projetos de pesquisa, intitulado Fronteiras do Conhecimento. Que se participe deste esforço fazendo com que outras iniciativas se sigam e que desvendemos os mistérios de nosso tesouro.
* Geraldo Eugênio é professor Titular da UFRPE-UAST
Fonte: Jornal do Sertão