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O REINO UNIDO JÁ FOI UMA REPÚBLICA


A década em que o Reino Unido foi uma república em vez de monarquia

Com toda a sua pompa e circunstância, a monarquia britânica é um dos principais símbolos do Reino Unido no mundo. É uma marca global e vale milhões. Muitos milhões.

Esta instituição com mais de mil anos de história é considerada uma das principais fontes do “soft power” britânico – como é chamada a capacidade de influenciar os outros sem uso da força.

A consultoria Brand Finance estimou o valor da marca da monarquia britânica em 2017 em cerca de US$ 87 bilhões, dos quais cerca de US$ 32,8 bilhões correspondem aos prédios e outros ativos da Coroa e os restantes US$ 54 bilhões integram o valor intangível da monarquia, ou seja, os benefícios econômicos que ela pode gerar para o Reino Unido no futuro.

Uma pesquisa do YouGov realizada em meados de março no Reino Unido revela que 81% dos consultados tinham uma imagem positiva da rainha Elizabeth 2ª, que este ano comemora seu jubileu de platina em seu 70º aniversário no trono.

Com toda essa popularidade e história milenar, é difícil imaginar o Reino Unido sem uma monarquia. No entanto, houve um período no século 17 em que o país aboliu a Coroa.

O que aconteceu naquela ocasião? E por que o regime político que substituiu a monarquia não prosperou?

Um rei que perde a cabeça

Na década de 1640, um confronto eclodiu na Inglaterra entre o rei Carlos 1º e o Parlamento, que levou a uma guerra civil.

O historiador britânico Blair Worden, que escreveu extensivamente sobre essa época e passou a maior parte de sua carreira lecionando na Universidade de Oxford, aponta que três crises separadas ocorreram naquela época.

“A Coroa dependia do Parlamento para arrecadar fundos e, quando o Parlamento não concordou, o monarca tentou aumentar os impostos sem o Parlamento, o que levou a uma crise política.”

Ao mesmo tempo, houve uma crise religiosa pela insistência do monarca em impor práticas anglicanas à Igreja na Escócia, algo que os escoceses resistiram e que levou às chamadas “guerras dos bispos”.

“A terceira é uma crise britânica, porque os reis da Inglaterra também eram governantes da Escócia e da Irlanda. No início do século 17, os ingleses estavam tomando terras na Irlanda, o que levou a uma revolta local contra eles, de modo que, por volta de 1640, a crise política e religiosa coincide com a crise entre Inglaterra, Escócia e Irlanda”, diz Worden.

A guerra civil termina com o triunfo do Parlamento sobre Carlos 1º, embora os acontecimentos tenham tomado um rumo que ninguém havia previsto até então.

“Para vencer a guerra, o Parlamento teve que recrutar um exército que se tornou muito radical e revolucionário, e em 1649, como resultado da pressão dessa força, o rei foi executado e a monarquia abolida. A Câmara dos Lordes também foi dissolvida e eliminada. Eram coisas que ninguém imaginava em 1642, quando a guerra começou”, diz Worden.

A decapitação de Carlos 1° foi precedida por outro evento absolutamente inusitado: seu julgamento e condenação à morte sob a acusação de “alta traição” contra seu reino.

“Esse era um conceito muito novo. Normalmente, as pessoas eram processadas por traição porque agiram contra o rei. Pela primeira vez, surge o conceito de um monarca que traiu seus súditos”, diz Worden.

Para garantir que tudo transcorreria segundo seus objetivos, o exército, liderado por Oliver Cromwell, se encarregou de expurgar o Parlamento, evitando pela força que os membros que não concordassem com o julgamento e condenação do monarca pudessem participar do processo.

Novo sistema de governo

Após a abolição da monarquia, uma nova forma de governo foi instituída.

“Essencialmente era o que hoje conhecemos como república. Havia um Conselho de Estado, eleito pelos parlamentares, que exercia o poder executivo com liderança rotativa. O acervo dos palácios reais foi colocado à venda, com exceção do alguns que foram mantidos para o Conselho de Estado, e o povo da Inglaterra foi declarado o poder soberano”, disse a historiadora Anna Keay, autora do livro recentemente publicado The Restless Republic: Britain without a Crown, à BBC Mundo. .

Foi lançada uma agenda reformista que incluiu mudanças na igreja, que se tornou muito mais protestante em seus rituais. Além disso, neste período o Reino Unido teve a primeira constituição escrita de sua história.

“Houve muitas mudanças na forma como as pessoas viviam suas vidas. Por exemplo, os casamentos deixaram de ser realizados em igrejas, tornaram-se atos seculares. E qualquer um que tivesse lutado em nome de Carlos 1° durante a guerra civil foi proibido de participar o governo do país”, diz Keay.

Esse governo parlamentar duraria cerca de quatro anos e, segundo Blair Worden, foi acusado de ser “tão tirânico” quanto o rei havia sido, pois combinava poderes executivo e legislativo sem qualquer contrapeso.

Mas o poder ficaria ainda mais concentrado a partir de 1653 quando, após um golpe que dissolveria o Parlamento, Oliver Cromwell se coloca como “Senhor Protetor” da nação.

“É como se Cromwell tivesse parcialmente restaurado a monarquia. Ele não é chamado de rei. Seus poderes são circunscritos, mas é uma espécie de retorno ao mandato de um único governante, mas com parlamentos que são convocados regularmente e têm seus poderes constitucionais garantidos. Ele não usa uma coroa, mas quer ter o poder de um rei. Ele quer poder exercer o poder e implementar suas políticas, mas também teme ser acusado de usurpador”, diz Worden.

A seu favor, Cromwell tinha o prestígio que acumulou como líder militar durante a guerra contra Carlos 1°, bem como nas guerras seguintes em que derrotou as forças favoráveis ​​à monarquia na Escócia e na Irlanda, incorporando esses territórios à Commonwealth.

Por outro lado, o Cromwell foi um grande defensor da liberdade de consciência e da liberdade de religião, algo que ficaria como legado.

“É um período de grande debate e não havia governo que pudesse, na época, realmente controlar a liberdade de expressão. Há uma grande expansão das publicações impressas: panfletos, livros, jornais. É uma espécie de experiência extraordinária em teologia, com grupos religiosos discutindo entre si, e há um grande debate sobre o princípio da liberdade de consciência”, explica Worden.

© Getty ImagesRichard Cromwell sucedeu seu pai, Oliver Cromwell, mas não conseguiu se manter no poder por muito tempo

Cromwell morre em 1658 e, no seu lugar, seu filho Richard é nomeado o novo Lorde Protetor, mas ele não consegue se manter no poder por muito tempo e, pouco depois, a monarquia é restaurada.

Uma revolução que ninguém queria

Ao analisar esse período em que o Reino Unido não teve uma monarquia, os historiadores concordam que um dos elementos que levaram ao seu fracasso foi o fato de que, desde o início, ninguém tinha a intenção de estabelecer uma república e que isso, de alguma forma, ocorreu por acidente.

“Eles (que derrubaram e julgaram Carlos 1º) queriam punir o rei, mas não eram republicanos no sentido atual. Não acreditavam que a monarquia fosse ruim. Em princípio, o que eles queriam era ter bons monarcas que fossem controlados pela lei e que não agissem arbitrariamente”, diz Worden.

Anna Keay lembra que, mesmo depois da execução do rei Carlos 1º, não houve consenso sobre o que ia ser feito e semanas se passaram antes que a abolição da monarquia fosse decidida, algo que, segundo ela, só foi possível porque parlamentares a favor do rei foram impedidos de participar da decisão sobre se o monarca deveria ser processado e qual deveria ser o novo regime político.

Assim, a república na Inglaterra nasceria desse ato de força e envolta em uma falta de consenso a favor desse sistema político.

Worden aponta que entre 1649 e 1660 não houve governo com uma ampla base de apoio.

“A república fracassa porque ninguém a queria. Aconteceu quase por acaso. Aqueles que aboliram a monarquia estavam muito divididos entre si e não tinham fé na república. Então, quando chega a fase final do protetorado, a revolução desmorona por dentro. Eles estavam profundamente divididos em questões religiosas e lutavam entre si”, diz.

“Enquanto isso, eles são vistos com desgosto pela maioria da população. A nação tolerou Cromwell porque havia paz sob seu comando, mas uma vez que o exército começa a lutar entre si, em 1659 e 1660, o apoio público ao regime desaparece” “, afirma o especialista.

© Getty ImagesSelo de 1656 que comemora o protetorado de Cromwell

Desse modo, em maio de 1660, o parlamento concorda com a restauração da monarquia. Com isso, Carlos 2º, filho de Carlos 1º, assume o poder.

Legado polêmico

Assim como a figura do próprio Oliver Cromwell, considerado por alguns como traidor e por outros como patriota, a fase republicana do Reino Unido gera polêmica e opiniões conflitantes.

Blair Worden acredita que a guerra civil que levou a este período gerou as sementes da atual polarização política que caracteriza o Reino Unido.

“A política inglesa é muito adversária. Você tem um governo, você tem uma oposição e eles devem se odiar. E isso realmente remonta, eu acho, ao século 17. Está lá no final do século 17, quando nós tivemos os dois primeiros partidos políticos, o Partido Conservador e o Partido Whig, que são a continuação do Partido Realista e do Partido Parlamentar das guerras civis”, diz.

Anna Keay, por sua vez, afirma que ainda que a república tenha sido um fracasso institucional, ela deixou um legado “maravilhoso”.

“Foi um período de imensa energia, atividade intelectual e mudança. A alfabetização aumentou muito. Jornais começaram a ser publicados e lidos em grande volume. A ideia de que o parlamento poderia ser um corpo soberano ganhou verdadeira relevância, assim como a noção de tolerância religiosa, que foi praticada durante um tempo.”

“Pesquisas científicas também foram impulsionadas, à medida que novas ideias eram discutidas e havia uma mentalidade mais aberta a novas formas de fazer as coisas”, diz a historiadora.

© Getty ImagesJornais impressos viveram auge durante os anos de república

Do ponto de vista político, Keay ressalta que o Reino Unido realmente surgiu naquela época, pois, uma vez que o Exército Republicano assumiu o controle da Irlanda e da Escócia, esses territórios se uniram politicamente à Inglaterra pela primeira vez.

“Assim, embora as estruturas políticas não tenham durado, as mudanças possibilitadas pela turbulência e o radicalismo desse período se tornariam muito importantes no desenvolvimento das ilhas britânicas nas décadas e séculos que se seguiram”, diz ela.

A historiadora destaca que, embora o reinado de Carlos 2º tenha significado a restauração da monarquia em termos muito semelhantes aos de Carlos 1º, em 1688 houve uma série de mudanças políticas que realmente transformaram o regime ao estabelecer a obrigação do rei de consultar o Parlamento, assim como a convocação desse poder legislativo pelo menos uma vez a cada três anos. Além disso, foi estabelecida a necessidade de garantir legalmente a tolerância religiosa e a liberdade de imprensa.

“Dessa forma, uma geração após a restauração da monarquia, grandes mudanças que eram uma espécie de legado dos anos republicanos entrariam em vigor e transformariam a monarquia em, em essência, uma monarquia constitucional”, conclui Keay.

Fonte: BBC News

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Sítios arqueológicos pré-coloniais para visitar no Brasil


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Sítios arqueológicos pré-coloniais para visitar no Brasil 5 de janeiro de 2021 194 Segundo levantamento de 2008 feito pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Brasil possui 14.000 sítios arqueológicos. Hoje, acredita-se que esse número já tenha saltado para 20 mil. Porém, desse total, somente 17 bens arqueológicos (11 sítios e 6 coleções) foram tombados pelo IPHAN, conforme esse instituto informa em seu site. É possível visitar muitos deles com boa estrutura para receber o visitante. Há, porém, aqueles que se encontram em locais de difícil acesso e outros que precisam de autorização para serem visitados. Listamos abaixo, em ordem alfabética por estado (17 ao todo), os sítios arqueológicos pré-coloniais, isto é, sítios com vestígios de ocupação anterior à chegada dos portugueses. Para saber quais deles estão abertos ao turismo veja, no final, o ítem “Para organizar sua visita”. CONTEÚDO Acre: geoglifos Amapá: Parque Arqueológico do Solstício Amazonas: Kuhikugu Bahia: Serra das Paridas e Pedra da Santana Goiás: Serranópolis Maranhão: sambaqui do Pindaí Mato Grosso: caverna Kamukuaká, Santa Elina, Pedra Preta Minas Gerais: Lagoa Santa Pará: caverna da Pedra Pintada Paraíba: Pedra do Ingá Pernambuco: Vale do Catimbau Piauí: Serra da Capivara Rio de Janeiro: Camboinhas Rio Grande do Norte: Xiquexique e Mirador Roraima: Pedra Pintada Santa Catarina: Garopaba do Sul e Ilha do Campeche São Paulo: Barra do rio Itapitangui 1. Acre: geoglifos Em 1977, foram descobertos no Acre, 24 gigantescos geoglifos  em formatos variados: círculos, quadrados, octógonos e outras formas. Hoje, com o uso de imagens por satélite do Google Earth já foram identificados 400 geoglifos que se espalham pelo estados do Acre, Rondônia e sul do Amazonas chegando à Bolívia. São valetas com 2 a 3 metros de profundidade e medindo entre 100 a 300 metros de largura. A maioria está em bom estado de conservação. Foram feitos por grupos indígenas, talvez Aruaques, que habitaram a região entre, aproximadamente, 200 a.C. e 1300 d.C. O estudo dessas estruturas de terra cada vez mais confirma que o processo de ocupação e povoamento da região amazônica, no primeiro milênio da era cristã, foi empreendido por grupos indígenas numerosos e com grande capacidade tecnológica para modificar o ambiente de terra firme e várzea, imprimindo na paisagem características de sua identidade. Geoglifo, Acre. 2. Amapá: Parque Arqueológico do Solstício O Parque Arqueológico do Solstício, no município de Calçoene, litoral do Amapá, abriga um conjunto megalítico formado por 127 rochas dispostas em formato circular, no topo de uma colina. O círculo tem 30 m de diâmetro com pedras de granito com até 4 m de comprimento. Foi apelidado de “Stonehenge do Amapá”, em referência ao círculo neolítico da Inglaterra. Supõe-se que tenha sido um observatório astronômico de antigas populações indígenas que ocupavam a região, considerando que um dos blocos de pedra alinha-se com o solstício de dezembro. As pesquisas são muito recentes (iniciadas em 2006) mas já foram encontrados poços funerários, fragmentos de cerâmica e vestígios de aldeia de até 1km ao longo dos rios. A datação do círculo ainda é muito imprecisa, oscilando entre 500 e 2000 anos. Vídeo sobre os megalitos do Amapá, produzido pela BBC 3. Amazonas: Kuhikugu Chamado pelos arqueólogos de X11, o sítio arqueológico de Kuhikugu localiza-se dentro do Parque Indígena do Xingu, região do Alto Xingu. Seu nome foi dado em homenagem aos índios Cuicuro (Kuikuro ou Guicurus) que auxiliaram o arqueólogo Michael Heckenberger na descoberta desse complexo urbano, o maior da região. Foi construído, provavelmente, pelos antepassados dos atuais povos Cuicuros, que chegaram à região do Alto Xingu por volta do ano 500, procedente do oeste. O sítio, que pode ter abrigado até 50 mil habitantes, era uma cidade murada com troncos de árvore, cercada de fossos de proteção e que se comunicava com outros centros por estradas retilíneas de 10 a 20 metros de largura. As escavações sugerem que havia, no mínimo, 15 núcleos populacionais espalhados no Alto Xingu. Entretanto, como a maior parte da região não foi estudada, a quantidade correta pode ter sido muito maior. 4. Bahia: Serra das Paridas e Pedra da Santana O complexo arqueológico Serra das Paridas, no município de Lençóis, na Chapada Diamantina foi descoberto em 2005, por catadores de mangaba após um incêndio florestal que deixou em exposição pedras com pinturas rupestres. Atualmente, o local possui infraestrutura para receber visitantes que queiram conhecer os 18 locais de pinturas rupestres. Seguindo em direção ao sul, por 264 km de estrada, está a Pedra da Santana, no município de Paramirim. Trata-se de uma estrutura em forma de dolmen, a segunda conhecida do Brasil (existe outra em Goiás, na cidade de Anicurus) e, talvez, únicas em toda a América do Sul. Não se tem estudos a respeito até para se confirmar se, de fato, trata-se de uma obra humana. Mas, por sua singularidade, merece ser conhecida. Pedra de Santana, Bahia. 5. Goiás: Serranópolis Segundo o IPHAN, foram descobertos 1.435 sítios arqueológicos no estado de Goiás. Entre eles, destacam-se os vestígios pré-coloniais do município de Serranópolis, no sudoeste do estado onde estão sendo investigados 40 abrigos rochosos. As paredes dos abrigos estão cobertas por pinturas rupestres e gravações. As pesquisas relevaram que o local teve uma ocupação indígena densa e persistente, desde 9000 a.C. até a fixação de colonizadores, no século XVIII. A datação mais antiga é confirmada pelo achado, em 1996, de um esqueleto masculino, na Gruta do Diogo, batizado de “Homem da Serra do Cafezal”, popularmente conhecido como Zé Gabiroba. Pintura rupestre de Serranópolis, Goiás. 6. Maranhão: sambaqui do Pindaí O sambaqui do Pindaí, situado entre os quilômetros 22 e 23 da rodovia que liga as cidades de São Luís a São José de Ribamar, é uma jazida de grande importância por ser uma das primeiras do gênero na região e pela abundância de vestígios de grupos indígenas extintos. Em 1927, foram encontrados fragmentos de cerâmica que se encontravam expostos no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. O sítio foi tombado pelo IPHAN em 1940. 7. Mato Grosso: caverna Kamukuaká, Santa Elina, Pedra Preta O estado do Mato Grosso tem 792 sítios arqueológicos cadastrados, mas somente um deles foi tombado pelo IPAHN: a caverna Kamukuaká, no município de Parantinga, junto, mas fora dos limites, do Parque Nacional dos Guimarães. Trata-se de um sítio arqueológico vivo, que conta com os relatos dos descendentes indígenas Waurás para a interpretação dos materiais encontrados. A caverna, considerada sagrada pelos Waurás por ser a morada dos espíritos ancestrais, tem pinturas rupestres e esculturas usadas em ritos xamânicos. Ali são realizados os rituais de furação de orelha e tem início o ritual do Kuarup. O sítio arqueológico de Santa Elina, no município de Jangada vem sendo pesquisado desde 1984 por arqueólogos da Universidade de São Paulo e do Museu Nacional de História Natural de Paris. É considerado o terceiro mais antigo das Américas, com 27 mil anos AP. O primeiro é o Boqueirão da Pedra Furada, no Piauí, com 50 mil anos; o segundo é Monte Verde, no Chile, com 30 mil anos. Nas escavações foram encontradas mais de mil pinturas rupestres, 800 fragmentos de preguiça gigantes, restos de fogueira e mais de 25 mil artefatos que comprovam a presença humana. Nas cercanias da cidade de Barra do Garças há muitas cavernas, abrigos e rochas com pinturas rupestres que mostram figuras abstratas, humanas ou o que parecer ser astros como os cometas azuis, do Abrigo da Serra da Estrela Azul e as estrelas-sóis avermelhadas, da Gruta do Moreti, no distrito de Vale dos Sonhos. No município de Cárceres encontram-se outros sítios arqueológicos às margens do rio Paraguai e, inclusive, no perímetro urbano, os sítios Carne Seca e Bairro Cavalhada. Ali foram encontrados urnas funerárias, ferramentas de trabalho e vestígios dos Xarayés, etnia indígena já extinta. O sítio arqueológico Pedra Preta, no município de Paranaíta, no extremo norte de Mato Grosso é composto por um afloramento rochoso, que chega a 37 metros de altura. Nele foram gravados monumentais painéis de petróglifos, inscrições rupestres: são desenhos geométricos, figuras humanas ou animais de grandes dimensões. Mais informações sobre esses e outros sítios arqueológicos brasileiros, veja no Portal Mato Grosso, aqui. Petróglifo de Paranaíta, Mato Grosso. 8. Minas Gerais: Lagoa Santa O estado de Minas Gerais possui milhares de sítios arqueológicos pré-coloniais. Ali ocorreram as primeiras pesquisas arqueológicas do Brasil, graças ao trabalho do dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880). Em 1843, este pesquisador pioneiro encontrou ossadas humanas misturadas com as de animais desaparecidos nas cavernas de Lagoa Santa. O chamado “homem de Lagoa Santa” teria vivido na América do Sul entre 12 e 8 mil anos atrás e apresentava características físicas bem diferentes das dos índios atuais. Na década de 1970, no abrigo número IV da Lapa Vermelha, município de Confins, foi descoberto o crânio de Luzia, o mais antigo fóssil humano. Em Santana do Riacho, na Serra do Cipó, foi encontrada a maior coleção de esqueletos o que contribuiu para o estudo biológico das primeiras populações americanas, além de grande quantidade de material lítico: lascas de quartzo, anzóis e contas de osso para colares, restos alimentares de animais de pequeno e médio porte. O vale do rio Peruaçu, no extremo norte de Minas Gerais, é outro importante sítio arqueológico com mais de 140 cavernas. No abrigo Lapa do Boquete encontraram-se espaços reservados às fogueiras alimentares, cheias de conchas de moluscos aquáticos e de coquinhos queimados. A Lapa da Cerca Grande, em Matozinhos, é uma ampla gruta com 2 km de comprimento, com sete entradas e treze aberturas para luz externa. Especialistas que realizaram estudos na região encontraram cerca de 300 figuras, além de vestígios arqueológicos, como um esqueleto em posição sentada com a cabeça entre os joelhos. Além disso, foram descobertas também evidências de cultura indígena pré-cerâmica. Mais recentemente, iniciaram-se os trabalhos de investigação na Serra da Moeda, entre as bacias dos rios Paraopeba e das Velhas, que possui vestígios de ocupação humana pré-histórica (sepultamentos e abrigos com pinturas rupestres) e histórica, sendo esta datada a partir de fins do século 17, em função da exploração das jazidas minerais. Esqueleto de 10 mil anos encontrado na Lapa dos Santos, em Matozinhos, Minas Gerais. 9. Pará: caverna da Pedra Pintada O sítio arqueológico Caverna da Pedra Pintada, no município de Monte Alegre foi estudado pela antropóloga Ana Roosevelt entre 1990 e 1992. Contêm pinturas rupestres entre 10 e 11.200 anos AP, retratando plantas, animais e até cenas de um parto. Foram encontrados também restos de cuias e fragmentos de cerâmica com até 7.600 anos de idade, a mais antiga das Américas, com o dobro de idade das de Santarém, ditas como as mais antigas do Brasil. A descoberta do sítio revolucionou os estudos arqueológicos pois recuou a data de povoamento da América e demonstrou que a floresta tropical, fechada e úmida, não foi obstáculo à ocupação humana como, até então, se suponha. Ao contrário, os pesquisadores têm encontrado evidências de que a Amazônia teve uma densa população de caçadores, pescadores e coletores. Vídeo das pinturas da Pedra Pintada, no Pará, TV Cultura 10. Paraíba: Pedra do Ingá Entre os 149 sítios arqueológicos do estado, a Pedra do Ingá, no município de mesmo nome, é um dos mais importantes do Brasil. Foi tombado como patrimônio cultural pelo Iphan em 1944. É um monumento identificado como itacoatiara, palavra indígena que significa “pedra pintada”: uma formação rochosa com 24 metros de comprimento e 3 metros de altura coberto com inscrições rupestres em baixo-relevo (petróglifos) de grande complexidade. As gravações têm 3 a 7 milímetros de profundidade. Não se sabe o que elas significam nem a data em que foram feitas e por quem. Recentemente foi encontrado outro sítio arqueológico bastante relevante no município de Pilões – um cemitério indígena da tradição Aratú. Pera do Ingá, Paraíba 11. Pernambuco: Vale do Catimbau O Patrimônio Arqueológico de Pernambuco possui 506 sítios arqueológicos cadastrados. Destaca-se o Parque Nacional do Vale do Catimbau, localizado no município de Buique, que abriga importante conjunto de pinturas rupestres datadas de 6 mil anos. O Vale do Catimbau, com 62 mil hectares, só perde em extensão para o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Vale do Catimbau, Pernambuco. 12. Piauí: Serra da Capivara Criado em 1979, o Parque Nacional da Serra da Capivara ocupa uma área de 135 mil hectares abrangendo os municípios de Canto do Buriti, Coronel José Dias, São João do Piauí e São Raimundo Nonato. Trata-se de um verdadeiro museu arqueológico a céu aberto. Em 2012, estavam cadastrados 1.028 sítios arqueológicos com pinturas rupestres. Mas esse número aumenta anualmente com novas descobertas. As pinturas mais antigas estão no sítio Toca do Boqueirão da Pedra Furada, com quase 30 mil anos. Em outros lugares elas tem entre 18 mil e 6 mil anos. Os restos humanos mais antigos encontrados são um esqueleto de uma mulher adulta de 9.670 anos. O parque foi criado graças ao trabalho da arqueóloga Niède Guidon que hoje dirige a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), instituição responsável pelo manejo e pesquisas do parque. Em 1991, foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco e, em 1993, reconhecido como patrimônio nacional. Apesar da dificuldade em se chegar ao local (o prometido aeroporto nunca saiu do papel), a cidade de São Raimundo Nonato oferece uma boa estrutura aos turistas com hotéis, pousadas e restaurantes. O parque possui todos serviços para atender os visitantes e fornece guias com formação superior em arqueologia. O acesso às pinturas é feito por meio de passarelas e escadas. Pedra Furada, símbolo do Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí. 13. Rio de Janeiro: Camboinhas A intensa ocupação desde o início da colonização e, principalmente, sediando a capital do país por mais de duzentos anos, contribuíram para a destruição de muitos sítios arqueológicos pré-coloniais no Rio de Janeiro. Mesmo assim, restou o sambaqui de Camboinhas, no município de Niterói, onde foram encontrados vestígios humanos com mais de 7 mil anos. 14. Rio Grande do Norte: Lageado de Soledade O Lajeado de Soledade, um dos sítios arqueológicos mais importantes do Brasil, está localizado no município de Apodi, na região oeste do Rio Grande do Norte. O local quase foi destruído pelos produtores de cal da região. Na década de 1990, a intervenção de geólogos da Petrobras e dos próprios moradores do distrito do Lajedo acabou salvando este sítio. No Lajedo, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte encontraram fósseis de animais pré-histórico, como o bicho-preguiça e tatus gigantes, mastodontes e tigres-de-dente-de sabre que viviam no Nordeste no período Glacial, além de pinturas rupestres. São vários os painéis dessas pinturas ainda preservadas que se encontram no leito de um rio seco, que podem ser observadas em visitas acompanhadas por guias. Segundo pesquisadores, os desenhos dessas pinturas teriam sido feitos por índios que habitavam essa região no período pré-histórico. O sertão do Seridó abriga os sítios arqueológicos Xiquexique 1 e 2, localizados no município de Carnaúba dos Dantas com pinturas rupestres datadas de 9 mil anos além de petróglifos, gravações executadas na pedra. Na mesma região, está o sítio arqueológico Mirador, em Parelhas. Por seu fácil acesso, estes sítios receberam um fluxo descontrolado de visitas de estudantes, turistas e moradores locais. Para preservar o material arqueológico, foram instaladas escadarias, trilhas, áreas de descanso e plataformas de madeira que permitem contemplar as pinturas rupestres. Pintura rupestre de Xiquexique, Rio Grande do Norte. 15. Roraima: Pedra Pintada O estado detém importante patrimônio arqueológico, que inclui gravuras e pinturas rupestres, que compõem os 87 sítios cadastrados pelo IPHAN. Entre eles, encontra-se, no município de Pacaraima, o sítio da Pedra Pintada (não confundir com o sítio homônimo, no Pará). É uma formação rochosa com mais de 35 metros de altura que abriga uma caverna na qual foram encontradas pinturas rupestres, pedaços de cerâmica, machadinhas, contas de colar entre outros artefatos. Por estar no interior da reserva indígena São Marcos, a visitação ao sítio só é concedida pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio). Pedra Pintada, em Pacaraima, Roraima. 16. Santa Catarina: Garopaba do Sul e Ilha do Campeche O IPHAN cadastrou 1.471 sítios arqueológicos no estado. Ali se encontram os maiores sambaquis do mundo, concentrados, principalmente nas cidades de Laguna e Jaguaruna. Destaca-se o sítio arqueológico de Garopaba do Sul, em Jaguaruna, com 30 metros de altura e 200 de diâmetro, e mais de 3.700 anos. Entre os achados encontraram-se restos humanos sepultados e estatuetas de pedra polida, os zoólitos, figuras de animais representadas de maneira estilizada representando em geral baleias, peixes e pássaros. Na Ilha do Campeche, em Florianópolis, encontra-se outro importante sítio arqueológico: um conjunto de inscrições e registros, a maior concentração desse tipo num único sítio arqueológico em todo o litoral brasileiro. São desenhos que lembram flechas e máscaras, símbolos geométricos, um monolito com nove metros de altura e um ponto magnético sinalizado com inscrição rupestre onde as bússolas têm comportamento alterado. O local possui ainda ruínas de armação de baleia, datada de 1772. A Ilha do Campeche foi tombada pelo IPHAN em 2001. Inscrições pré-históricas, Ilha do Campeche, Santa Catarina. 17. São Paulo: Barra do Rio Itapitangui Na área de proteção ambiental de Cananéia-Iguape, no litoral paulista, está o sambaqui da Barra do Rio Itapitangui, sítio arqueológico tombado em 1955. Apresenta-se como pequena elevação arredondada e constituída, exclusivamente, por carapaças de moluscos. É um testemunho da presença de grupos de coletores e pescadores naquela região. TOUR VIRTUAL: uma outra opção de visita Levar os alunos para conhecer um sítio arqueológico brasileiros é uma atividade importante para o estudo do meio e para a educação patrimonial. Mas nem sempre é possível organizar este trabalho. Uma alternativa são as viagens virtuais propiciadas pelos sites de (alguns) museus brasileiros. O blog Arqueologia e Pré-História montou uma lista com dezenas de links de museus arqueológicos virtuais de todo país. Com certeza você vai encontrar um museu em seu estado para trabalhar com os alunos em sala de aula. Vale a pena conferir a lista de Museus de arqueologia e pré-história no Brasil. Para organizar sua visita Nem todos os sítios arqueológicos pré-coloniais mencionados aqui estão abertos ao público. Uma lista atualizada dos locais abertos ao turismo e outras informações importantes (telefone, estrutura oferecida no local etc) pode ser encontrada no artigo Turismo Arqueológico, do site Arqueologia e Pré-História. Conheça e divulgue nosso patrimônio arqueológico. O fluxo turístico, quando bem monitorado, é uma fonte de rendas para a manutenção do sítio e para a população entorno, além de ser a maneira mais eficiente de valorizar e preservar nossa herança histórica. Fonte FUNARI, Pedro Paulo A. & NOELLI, Francisco Silva. Pré-História do Brasil. São Paulo: Contexto, 2002. GASPAR, Madu. A arte rupestre no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. MARTIN, Gabriela. Pré-História do nordeste do Brasil. Recife: UFPE, 1999. OLIVEIRA, TENÓRIO, M. Cristina Tenório (org.) Pré-História da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. PEREIRA, Edithe. Arte rupestre da Amazônia. São Paulo: Museu Goeldi / UNESP, 2003. PESSIS, Anne-Marie. Imagens da Pré-História. Parque Nacional Serra da Capivara. São Paulo: Fumdham, 2003 PROUS, André. Arqueologia brasileira. Brasília: UNB, 1992. PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros: a pré-história de nosso país. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. MIGLIACIO, Maria Clara. Patrimônio Arqueológico no Brasil: conceituação, legislação, licenciamento ambiental e desafios. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Pdf disponível aqui. Para o aluno ler GUARINELLO, Norberto Luiz. Os primeiros habitantes do Brasil. São Paulo: Atual. FUNARI, Pedro Paulo A. Arqueologia. São Paulo: Ática. FUNARI, Pedro Paulo A. Os antigos habitantes do Brasil. São Paulo: Unesp / Imprensa Oficial.

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GUERRA QUÍMICA NA ANTIGUIDADE: EVIDÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS


Há quase dois mil anos, dezenove soldados romanos correram para um túnel subterrâneo apertado, preparado para defender a cidade síria de Dura-Europos, do ataque de invasores persas-sassânidas que escavavam uma galeria para minar as muralhas de tijolos da cidade. Mas, em vez de invasores, os romanos encontraram uma fumaça negra e tóxica que os sufocou matando-os em minutos. Muitos deles ainda traziam, em suas bolsas presas nos cintos, o último pagamento em moedas. Perto dali, um soldado sassânida, talvez aquele que começou o fogo subterrâneo tóxico, acabou vitimado pelo gás agarrando-se desesperadamente à sua armadura enquanto engasgava. Esses 20 homens, que morreram em 256 d.C., podem ter sido as primeiras vítimas de guerra química com evidência arqueológica. Soldado sassânida encontrado próximo aos corpos dos legionários romanos na galeria subterrânea de Dura-Europos. A armadura erguida perto do pescoço sugere que ele, sem conseguir respirar, teria tentado se livrar dela. Armas químicas e biológicas na Antiguidade A ideia de usar substâncias tóxicas como arma de guerra é tão antiga quanto a própria guerra. Na Índia, por exemplo, o uso de venenos durante a guerra é mencionado tanto no Mahabharata quanto no Ramayana, textos que remontam há mais de cinco mil anos. Receitas de armas venenosas podem ser encontradas no Artaxastra (séc. IV a.C.), de Kautilya, um tratado sobre estratégia militar do período Mauria da Índia. Na China, há escritos que descrevem o uso de gases tóxicos pelos defensores de uma cidade. Produzidos pela queima de mostarda ou outros vegetais tóxicos, os gases foram bombeados por meio de foles nos túneis escavados pelo exército sitiante. No Ocidente, as referências sobre o uso de armas químicas aparecem na mitologia. No mito grego de Hércules, o herói mergulha suas flechas no sangue da Hidra para torná-las tóxicas. Flechas envenenadas foram usadas na Guerra de Troia, segundo narrado por Homero na Ilíada. O historiador Tucídides afirma que os gregos usaram flechas envenenadas na Guerra do Peloponeso. Hércules matando a Hidra, monstro de várias cabeças tão venenoso que matava os homens apenas com o seu hálito. As flechas de Hércules, mergulhadas no sangue da Hidra, tornaram-se letais ao simples contato. Mosaico de Líria, Valência, Espanha. Em uma batalha contra os conquistadores romanos, em 189 a.C., os gregos queimaram penas de galinha e usaram foles para soprar a fumaça nos túneis de cerco dos invasores romanos, sufocando-os. No Oriente Médio, onde a nafta inflamável e o betume oleoso eram fáceis de encontrar, eram comuns os incêndios intoxicantes. Essas e outras informações sobre o uso de armas químicas estão na literatura e da mitologia. Mas um pesquisador inglês apresentou evidências arqueológicas de uso de armas químicas em um combate ocorrido no século III d.C. na cidade fortificada de Dura-Europos, na margem do rio Eufrates, na Síria. Sítio arqueológico de Dura-Europos tendo ao fundo o rio Eufrates, Síria Dura-Europos: próspero centro urbano Dura-Europos foi uma antiga cidade de origem grego-macedônica, fundada no ano 300 a.C. sobre restos de uma localidade semita. Localizada a meio caminho entre Alepo e Bagdá, nas margens do rio Eufrates, na Síria atual, Dura-Europos era ponto estratégico de importantes rotas comerciais da Antiguidade. Formava parte da rede de comunicação do Império Selêucida, nascido com o desmembramento do Império Macedônico, de Alexandre Magno. No século II a.C., Dura-Europos foi ocupada pelo Império Parta e, no final do séc. I a.C., foi incorporada ao Império Romano. Sob a ocupação romana, Dura-Europos manteve sua condição estratégica, como ponto de contato das caravanas. Juntamente com Palmira, foi um próspero centro urbano e comercial. Como base militar romana, estava bem fortificada com muralhas e torres de vigia. Encruzilhada de povos e culturas, a cidade possuía templos aos deuses romanos, gregos, fenícios, divindades locais, sinagogas e, inclusive, uma igreja cristã, a mais antiga de que se tem notícia. Fortificações de Dura-Europos, na Siria. Em meados do séc. III d.C., a cidade caiu sob domínio do Império Sassânida, o último grande império iraniano antes da expansão muçulmana e a adoção do islamismo. Foi durante a guerra entre romanos e os invasores sassânidas que teriam sido utilizados gases tóxicos. A guerra Reconstituição do local onde foram encontrados os corpos de soldados romanos, em tunel escavado, Dura-Europos, Síria. Embora não existam registros escritos sobre o cerco final, ocorrido em 256 d.C., a arqueologia fornece uma pista sobre o que poderia ter acontecido durante a guerra em defesa de Dura-Europos. Descoberta em 1919 por soldados do Império Britânico, Dura-Europos foi escavada durante os anos de 1920 e 1930 por arqueólogos franceses e americanos. Foram encontradas duas galerias subterrâneas, uma escavada pelos persas e outra pelos romanos. No túnel romano, foram descobertos os corpos empilhados de 19 legionários e um único soldado sassânida. A interpretação inicial foi que uma batalha feroz ocorreu no túnel, na qual os sassânidas repeliram, com sucesso, os defensores romanos. Depois da batalha, os sassânidas incendiaram o túnel, conforme indica a presença de cristais de enxofre e betume no local. Outra interpretação Em 2009, um reexame das evidências levou a uma reinterpretação dos eventos ocorridos durante o cerco. O pesquisador britânico Simon James, da Universidade de Leicester, no Reino Unido, observou que os túneis eram estreitos e baixos para um combate corpo a corpo eficaz. Além disso, a posição dos corpos romanos, empilhados deliberadamente, sugere que aquele não era o lugar onde eles caíram. Segundo Simon James, os sassânidas ao se darem conta que seu túnel, construído abaixo do túnel romano, os deixava em posição desfavorável, resolveram surpreender os legionários com a fumaça letal. Usando um braseiro mantido acesso com foles, os invasores queimaram cristais de enxofre e betume. A mistura virou um gás sufocante e se transformou em ácido sulfúrico que foi inalado pelos defensores romanos. Em poucos minutos, os romanos que estavam no túnel morreram. O solitário soldado sassânida pode ter sido vítima de sua própria arma e também morreu intoxicado pelo gás venenoso. Em seguida, os sassânidas teriam arrastados os corpos romanos amontoando-os, e retomaram seu trabalho de escavação da galeria. Sem tempo para saquear os cadáveres, eles deixaram moedas, armaduras e armas intocadas. Os achados arqueológicos em Dura-Europos  fornecem a primeira evidência física de uma guerra química na Antiguidade, para além das fontes literárias e míticas. Quantas vezes essas armas químicas foram usadas é outra questão. Dura-Europos seria um exemplo único do uso de armas químicas ou essas armas foram mais amplamente usadas? Talvez surjam mais evidências arqueológicas que fornecerão novas respostas. Esquema das galerias subterrâneas escavadas pelos romanos e sassânidas, e local onde teria sido acesso o braseiro para queimar enxofre e betume.

Dura-Europos, Síria Fonte Archaeological evidence for 1.700-year-old chemical warface. Ancient Origins. 7 dez 2014. JAMES, Simon. Stratagems, combat and “chemical warfare” in the siege mines of Dura-Europos. AJA online. American Journal of Archaeology Institute of America. jan 2011. SILVER, Carly. Dura-Europos: crossroad of cultures. Archaeology Archive. 11 ago 2010. University of Leicester, 2014. The Final Siege of Dura: Ancient ‘Chemical Warfare’?. MAYOR, Adrienne. Greek fire, poison arrows & scorpion bombs: biological and chemical warfare in the Ancient World. Overlook Press, 2003.

Obrigado por compartilhar. Lembre-se de citar a fonte: https://ensinarhistoria.com.br/guerra-quimica-na-antiguidade-evidencias-arqueologicas/ – Blog: Ensinar História – Joelza Ester Domingues

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OS CONFLITOS POR ÁGUA


Onde a escassez de água já provoca guerras no mundo (e quais as áreas sob risco iminente)

  • Sandy Milne
  • BBC Future
rio
Legenda da foto,Falta de água afeta aproximadamente 40% da população mundial e está causando conflitos e migrações

Em entrevista à BBC via Zoom de seu apartamento em Amsterdã, Ali al Sadr faz uma pausa para beber de um copo de água filtrada e limpa.

Percebendo a ironia, ele solta uma risada. “Antes de deixar o Iraque, eu lutava todos os dias para encontrar água potável”, diz ele. Três anos antes, al Sadr participou de protestos de rua em sua cidade natal, Basra. Os manifestantes exigiam ações concretas das autoridades diante da crescente crise de água na cidade.

“Antes da guerra, Basra era um lugar bonito”, acrescenta o jovem de 29 anos. “Eles costumavam nos chamar de Veneza do Oriente.”

Limitada de um lado pelo rio Shatt al Arab, a cidade é cortada por uma rede de canais.

Sadr diz que adorava trabalhar ao lado dos canais como estivador. “Mas quando saí, eles estavam jogando esgoto não tratado nos cursos d’água. Não podíamos nos lavar, o cheiro me deu enxaqueca e, quando finalmente fiquei doente, passei quatro dias na cama.”

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No verão de 2018, a água contaminada enviou 120 mil residentes aos hospitais da cidade e, quando a polícia abriu fogo contra os manifestantes, Al Sadr teve sorte de escapar com vida. “Em um mês, fiz as malas e fui para a Europa”, conta.

Histórias como a de Al Sadr estão se tornando muito comuns em todo o mundo. Um quarto da população mundial enfrenta agora uma grave escassez de água por pelo menos um mês por ano e, como no caso de Al Sadr, a crise está levando muitos a buscar uma vida mais segura no exterior.

protestos exigindo água potável
Legenda da foto,Protestos em Basra em 2018 por causa da contaminação da água na cidade

BBC Lê

A equipe da BBC News Brasil lê para você algumas de suas melhores reportagens

“Se não tem água, as pessoas começam a ir embora”, disse Kitty Van Der Heijden, chefe de cooperação internacional do Ministério de Relações Exteriores dos Países Baixos e especialista em hidropolítica.

A escassez de água afeta aproximadamente 40% da população mundial e, segundo estimativas das Nações Unidas e do Banco Mundial, secas poderiam colocar 700 milhões de pessoas em risco de deslocamento em 2030.

Muitos observadores como Van der Heijden estão preocupados pelo que poderia acontecer. “Se não há água, os políticos vão tentar controlar esse recurso e é possível que comecem a brigar por ele.”

Ao longo do século 20, o uso mundial de água cresceu mais do que o dobro da taxa de crescimento populacional. Essa dissonância está levando atualmente muitas cidades a racionar água, de Roma e Cidade do Cabo a Lima e municípios do Brasil.

A crise da água tem estado todos os anos, desde 2012, entre os cinco maiores perigos na lista de Riscos Globais por Impacto do Foro Econômico Mundial.

Em 2017, secas severas contribuíram para a pior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial, com 20 milhões de pessoas na África e Oriente Médio se vendo obrigadas a abandonar suas casas devido à escassez de alimentos e aos conflitos envolvendo acesso a água.

A relação entre guerra e água

Peter Gleick, diretor do Pacific Institute, com sede em Oakland, Califórnia, passou as últimas três décadas estudando o vínculo entre a escassez de água, guerras e migração. Ele acredita que os conflitos por água estão aumentando. “Com raras exceções, ninguém morre literalmente de sede”, disse Gleick.

“Mas cada vez mais pessoas morrem por causa de água contaminada ou devido a conflitos por acesso a água.”

Pescador no Iraque
Legenda da foto,Represas construídas pela Turquia reduziram o fluxo de água até o Iraque

Gleick e sua equipe estão por trás de uma cronologia de conflitos por água chamada Water Conflict Chronology. Trata-se de um registro de 925 conflitos hídricos, grandes e pequenos, que remontam aos dias do rei babilônico Hammurabi. A lista não é exaustiva e os conflitos enumerados variam de guerras a disputas de vizinhos. Mas o que a cronologia revela é que a relação entre água e conflitos é complexa.

“Classificamos os conflitos por água em três grupos”, diz Gleick. “Como um ‘desencadeador’ do conflito, onde a violência se associa a disputas sobre o acesso e o controle da água; como uma ‘arma’ do conflito, onde a água é utilizada como arsenal, inclusive mediante o uso de represas que retêm água ou inundam comunidades rio abaixo; e como um ‘alvo’ de conflitos, onde recursos hídricos ou estações de tratamento ou dutos são alvos de ataque.”

Agricultura é principal foco

No entanto, ao ver os registros que Gleick e seus colegas compilaram, fica claro que a maior parte dos conflitos está relacionada à agricultura. Talvez isso não seja surpreendente já que a agricultura representa 70% do uso da água doce no planeta.

Na região de Sahel, na África, por exemplo, há registros frequentes de violentos enfrentamentos entre pastores e agricultores devido à escassez de água para seus animais e cultivos.

À medida que aumenta a demanda por água, também cresce a escala dos potenciais conflitos. “As últimas pesquisas sobre o tema mostram que a violência relacionada com a água está aumentando com o tempo”, destacou Charles Iceland, diretor global de água do World Resources Institute.

“O crescimento da população e o desenvolvimento econômico estão impulsionando a crescente demanda por água no mundo todo. Ao mesmo tempo, as mudanças climáticas estão diminuindo o abastecimento de água ou fazendo com que as chuvas sejam mais erráticas em muitos lugares.”

Em nenhum lugar o efeito duplo de estresse hídrico e mudança climática é mais evidente do que na ampla bacia dos rios Tigre e Eufrates, que inclui Turquia, Síria, Iraque e oeste do Irã. Segundo imagens de satélite, a região está perdendo água subterrânea mais rápido que quase qualquer outro lugar do mundo.

E enquanto alguns países fazem tentativas desesperadas para garantir seu abastecimento de água, suas ações estão prejudicando seus vizinhos.

água chegando em cisterna na Califórnia
Legenda da foto,A escassez de água afeta aproximadamente 40% da população mundial

Durante junho de 2019, quando as cidades iraquianas sofreram uma onda de calor de 50° C, a Turquia disse que começaria a encher o reservatório de sua barragem de Ilisu, nas origens do Tigre.

A represa é parte de um projeto de longa duração da Turquia para construir 22 grandes diques e centrais elétricas ao largo do Tigre e do Eufrates que, segundo um informe da Agência Internacional Francesa de Água, está afetando significativamente o fluxo de água até a Síria, Iraque e Irã.

De acordo com a mesma fonte, esse projeto turco, chamado GAP (Guneydogu Anadolu Projesi), deve incluir a construção de até 90 represas e 60 centrais elétricas quando for finalizado.

Como o nível da água subiu atrás da barragem de Ilisu, de mais de 1,5 km de largura, o fluxo do rio para o Iraque foi cortado pela metade. A milhares de quilômetros de distância, em Basra, no Iraque, al-Sadr e seus vizinhos viram a qualidade da água se deteriorar.

Em agosto de 2018, centenas de pessoas começaram a chegar aos hospitais de Basra com erupções cutâneas, dores abdominais, vômitos, diarreia e até cólera, de acordo com a Human Rights Watch.

“Na verdade, a história de Basra tem duas partes”, destaca Charles Iceland. “Primeiro, há o despejo de esgoto nos cursos d’água locais sem nenhum tratamento. Mas a construção de barragens na fronteira com a Turquia também deve ser considerada: com menos água doce descendo o Tigre e o Eufrates, a água salgada (do Golfo persa) está se infiltrando rio acima. Com o passar do tempo, está arruinando as colheitas e deixando as pessoas doentes.”

Como prever conflitos por água

É um problema complexo, mas essa capacidade de enxergar vínculos entre eventos aparentemente díspares ajudou orientar o trabalho de Charles Island com a associação Água, Paz e Segurança (Water, Peace and Security), uma iniciativa financiada pelo governo holandês e um grupo de seis ONGs americanas e europeias, incluindo o Pacific Institute e o World Resources Institute.

Eles desenvolveram uma Ferramenta Global de Alerta Precoce, que usa inteligência artificial para prever conflitos. O sistema combina dados sobre chuva, safras ruins, densidade populacional, riqueza, produção agrícola, níveis de corrupção, secas e inundações, entre muitas outras fontes de dados, para produzir alertas de conflito.

Os potenciais conflitos são mostrados em uma projeção de Mercator com pontos vermelhos e laranja até o nível do distrito administrativo. Atualmente este sistema alerta para cerca de 2.000 possíveis pontos de conflito, com uma taxa de acerto de 86%.

Barco no rio Indo
Legenda da foto,O rio Indo é fonte vital de água para a Índia e o Paquistão, mas se origina nas montanhas do Tibete, controladas pela China

Embora a ferramenta de previsão identifique conflitos em potencial, ela também pode ajudar a entender o que está acontecendo em áreas que já estão enfrentando disputas devido à escassez de água.

As planícies do norte da Índia, por exemplo, são uma das áreas agrícolas mais férteis do mundo. No entanto, essa região é palco de frequentes confrontos entre agricultores devido à escassez de água.

Os dados revelam que o crescimento populacional e os altos níveis de irrigação já ultrapassaram os suprimentos de água subterrânea disponíveis. Apesar das exuberantes terras agrícolas na área, o mapa de Água, Paz e Segurança classifica quase todos os distritos no norte da Índia como “extremamente alto” em termos de estresse hídrico.

Vários rios importantes que alimentam a área, o Indo, o Ganges e o Sutlej, originam-se no lado tibetano da fronteira, mas são vitais para o abastecimento de água na Índia e no Paquistão. Vários conflitos na fronteira eclodiram recentemente entre Índia e China, por reivindicações de áreas de acesso ao rio.

Um violento confronto em maio do ano passado no vale de Galwan, por onde passa um afluente do Indo, deixou 20 soldados indianos mortos. Menos de um mês depois, houve relatos de que a China estava construindo “estruturas” que poderiam reduzir o fluxo do rio para a Índia.

Voluntários coletando garrafas de plástico em rio
Legenda da foto,A escassez de água não se deve somente à seca, mas também à contaminação e à poluição; acima, voluntários coletando garrafas de plástico em rio

O impacto da coesão social no grau de conflito

Mas os dados capturados pela ferramenta de alerta também revelam tendências surpreendentes, como migração populacional para algumas das áreas com maior estresse hídrico.

Omã, por exemplo, sofre de níveis mais altos de seca do que o Iraque, mas antes da pandemia recebia centenas de milhares de migrantes por ano. Isso porque Omã tem melhor classificação em termos de corrupção, infraestrutura hídrica, fracionamento étnico e tensão hidropolítica.

“A vulnerabilidade de uma comunidade à seca é mais importante que a seca em si”, afirmou Lina Eklund, pesquisadora de Geografia Física na Universidade de Lund, na Suécia.

O vínculo entre escassez de água e conflitos, em outras palavras, não é tão simples como parece. Mesmo quando existe uma seca grave, uma combinação complexa de fatores vai determinar se realmente isso levará a um conflito: a coesão social é um dos mais importantes.

Peguemos a região do Curdistão iraquiano, no norte do Iraque, por exemplo – uma área que sofreu uma seca de cinco anos que empurrou 1,5 milhão de agricultores sírios a centros urbanos em março de 2011. A comunidade curda, com seus vínculos fortes, não passou pelo mesmo êxodo, descontentamento ou lutas internas.

Jessica Hartog, chefe de gestão de recursos naturais e mudanças climáticas da International Alert, uma ONG com sede em Londres, explica que o governo sírio, que aspirava a autossuficiência alimentar, apoiou durante muito tempo a agricultura, com subvenções de combustível, fertilizantes e extração de água subterrânea.

Quando Damasco eliminou abruptamente essas ajudas em meio à seca, as famílias rurais se viram obrigadas a migrar em massa aos centros urbanos. A crise causou desconfiança no regime de Bashir al Assad e isso, por sua vez, impulsionou a guerra civil que tem dizimado o país.

Planta dessalinizadora de Jubail na Arábia Saudita
Legenda da foto,A Arábia Saudita atende 50% das suas necessidades de água com plantas dessalinizadoras

Como impedir confrontos por água

Mas se conflitos potenciais de água podem ser identificados, é possível fazer algo para impedir que eles ocorram?

Infelizmente, não existe uma solução única que possa ser aplicada a várias situações. Em muitos países, a simples redução de vazamentos no encanamento pode fazer uma grande diferença: o Iraque perde até dois terços da água tratada devido à infraestrutura danificada.

O World Resource Institute também sugere abordar a corrupção e reduzir a extração desmedida para agricultura. Charles Iceland propõe até mesmo aumentar o preço da água para refletir o verdadeiro custo de fornecê-la. Em muitas partes do mundo, as pessoas se acostumaram a ver a água como um recurso abundante e barato, e não algo que deveria ser valorizado como um tesouro.

O nível de água disponível também pode ser aumentado por técnicas como a dessalinização da água do mar. Atualmente, a Arábia Saudita atende 50% de suas necessidades de água por meio desse processo.

A reciclagem de águas residuais também pode oferecer uma alternativa de baixo custo e fácil de implementar que pode ajudar as comunidades agrícolas afetadas pelas secas.

Uma avaliação da dessalinização e do tratamento de águas residuais estima que o aumento do uso dessas técnicas poderia reduzir a proporção da população mundial que sofre de severa escassez de água de 40% para 14%.

Cultivos en California
Legenda da foto,A agricultura representa 70% do uso de água doce do planeta

Em âmbito internacional, é provável que grandes represas de países a montante aumentem o risco de disputas com pessoas que dependem desses recursos rio abaixo.

No entanto, Susanne Schmeier, professora de Direito e Diplomacia da Água, no instituto IHE Delft para a Educação sobre Água, nos Países Baixos, destaca que os conflitos ribeirinhos entre países são mais fáceis de detectar e menos prováveis de chegar a um ponto crítico.

“Os conflitos locais são muito mais difíceis de controlar e tendem a aumentar rapidamente, diferentemente dos conflitos transfronteiriços, onde as relações entre os Estados muitas vezes limitam a escalada dos conflitos relacionados com a água”, disse Schmeier.

No entanto, existem muitos exemplos em todo o mundo onde as tensões são altas: o conflito do Mar de Aral, envolvendo Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e Quirguistão; o conflito do rio Jordão entre os estados levantinos; e a disputa do rio Mekong entre a China e seus vizinhos do sudeste asiático.

Nenhuma dessas discórdias se transformou em conflito, mas Schmeier menciona uma disputa que poderia desencadear um confronto. Egito, Sudão e Etiópia dependem do rio Nilo e, durante muito tempo, trocam acusações sobre o projeto da Grande Represa do Renascimento da Etiópia (Great Ethiopian Renaissance Dam ou GERD)- uma obra de US$5 bilhões e três vezes o tamanho do Lago Tana.

Quando o governo etíope anunciou o plano de seguir adiante com o projeto, Egito e Sudão promoveram exercícios de guerra conjuntos em maio deste ano, que chamaram deliberadamente de “Guardiães do Nilo”.

Essa disputa talvez seja, atualmente, a de maior risco de se converter numa guerra pela água, mas há vários outros locais em estado crítico de tensão.

Funcionários paquistaneses, por exemplo, têm se referido à estratégia de uso das águas que cruzam a fronteira com a Índia de “guerra da quinta geração”, enquanto o ex-presidente do Uzbequistão Islam Karimov advertiu que disputas regionais por água poderiam provocar uma guerra.

“Não vou citar países específicos, mas tudo isso poderia se deteriorar ao ponto de o resultado ser não só um confronto, mas também guerras”, disse Karimov, que governou o país de 1991 até a sua morte em 2016.

Grande Represa do Renascimento
Legenda da foto,A Grande Represa do Renascimento, construída na Etiópia, é ponto de tensão crescente com o Egito e o Sudão

Os acordos para compartilhar a água são uma forma comum de acalmar esse tipo de disputa. Foram firmados mais de 200 acordos desse tipo desde o final da Segunda Guerra Mundial, como o Tratado de Águas do Indo de 1960, entre Índia e Paquistão, e o acordo entre Israel e Jordânia firmado antes do tratado de paz.

Dificuldade de negociação

Mas uma tentativa de mais de uma década da ONU de introduzir uma Convenção Global da Água sobre rios e lagos transfronteiriços só conseguiu que 43 países aderissem à iniciativa.

Hartog diz que os tratados modernos provavelmente precisarão incluir protocolos de mitigação de secas para acalmar os temores entre países de que nações vizinhas restrinjam o acesso a rios durante uma crise. Os acordos também devem conter mecanismos de resolução de disputas.

Um exemplo positivo é o de Lesoto, África do Sul, Botswana e Namíbia que, após um aumento perigoso nas tensões por acesso a água no ano 2000, intensificaram a cooperação através da chamada Comissão do Rio Orange-Senqu (Orasecom).

Neste caso, a negociação de acordos, com a consagração dos princípios de uso razoável da água, foi suficiente para aliviar a situação.

Dessalinização é estratégia mais eficiente

Mas, quando se trata de liberar recursos adicionais, os estudos indicam mais uma vez que a dessalinização e o tratamento de águas residuais são as estratégias mais eficientes.

Talvez o Egito esteja prestando atenção a isso. No ano passado, o governo egípcio negociou uma série de acordos para construir até 47 novas plantas de dessalinização, além da maior planta de tratamento de águas residuais do mundo.

No entanto, ainda que autoridades egípcias tenham acelerado a construção das plantas, a maior parte desses projetos só vai ser concluída depois de 2030. Enquanto isso, a situação da água no país continua a se deteriorar.

Hartog acredita que Egito, Etiópia e Sudão podem precisar de ajuda externa se quiserem evitar conflitos.

“Parece improvável que os três países cheguem a um acordo por conta própria e os esforços diplomáticos internacionais devem ser intensificados para evitar uma escalada”, disse ele, acrescentando que a pressão sobre o governo cada vez mais isolacionista de Addis Abeba está aumentando.

“Este poderia ser o melhor ponto de entrada para países como Estados Unidos, Rússia e China unirem forças para ajudar esses países ribeirinhos a garantir um acordo trilateral vinculativo.”

Rio Orange-Senqu
Legenda da foto,Em 2000 foi firmado um acordo para compartilhar água do rio Orange-Senqu no sul da África

E como resolver conflitos internos

Vários países estão impulsionando iniciativas para administrar melhor a água. O Peru, por exemplo, requer que os provedores de serviços de água revertam parte de seus lucros em pesquisa e uso de infraestrutura verde na gestão de águas pluviais.

O Vietnã está combatendo a poluição industrial ao longo de sua parte do Delta do Mekong e também está integrando infraestrutura para garantir uma distribuição mais justa entre seus residentes urbanos e rurais.

À medida que as mudanças climáticas e o crescimento populacional continuam a agravar o problema das secas em todo o mundo, essas soluções serão cada vez mais necessárias para interromper o conflito e a migração.

Em dezembro do ano passado, mais de dois anos depois de Ali al Sadr abandonar Basra, menos de 11% das casas dessa cidade iraquiana tinham acesso a água potável.

Uma injeção de US$ 6,4 milhões no final de 2020 da Holanda por meio do Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, está ajudando a melhorar a infraestrutura de água da cidade. Mas as quedas de energia no início do verão desligaram muitos dos sistemas de bombeamento de água em meio a altas temperaturas.

É difícil para os residentes de Basra pensar em problemas a nível global quando enfrentam dificuldades para obter água potável diariamente. A cidade voltou a ser palco de agitação nos últimos meses, e Al Sadr acredita que as manifestações vão continuar até que a situação melhore.

“Quando eu estava protestando, não sabia o que estava por trás de toda essa crise”, disse Ali.

“Eu só queria pouco de água para beber.”

Destaque

AS GUERRAS POR ÁGUA | Documentário


Cerca de 1,6 bilhões de pessoas, em todo o mundo, não têm acesso a água potável. Dos 15 países mais carentes desse recurso, 12 estão no Oriente Médio, uma região já potencialmente explosiva por conta de inúmeros conflitos.

Destaque

POVOS ORIGINÁRIOS DOS EUA |SÉCULO 19


Essas imagens de povos originários dos EUA feitas no final do século 19 são surpreendentes

Redação Hypeness

Walter McClintock era um pesquisador branco, natural de Pittsburgh, na Filadélfia. Seu trabalho era concentrado nas florestas nacionais dos EUA, mas um de seus grandes legados para a história da América do Norte foram os seus registros fotográficos sobre os indígenas Siksikaitsitap ou também conhecidos como Blackfeet.

© Yuri Ferreira

Registros da vida indígena em na última década do século retrasado

Depois de se formar em Yale, McClintock começou a trabalhar para Washington como fotógrafo do Oeste, auxiliando uma comissão federal que avaliava a situação dos parques e florestas do país.

No meio dessas viagens, McClintock ficou amigo do líder formou-se em Yale em 1891. Em 1896, viajou para o oeste como fotógrafo para uma comissão federal que investigava as florestas nacionais. Ele se tornou amigo de William Jackson, um líder escoteiro Siksikaitsitap.

Quando a comissão concluiu seu trabalho de campo, o indígena apresentou McClintock à comunidade Blackfoot no noroeste de Montana. Ao longo dos próximos vinte anos, apoiado pelo ancião indígena Mad Wolf, McClintock fez várias fotografias dos Blackfoot, sua terra, sua cultura material e suas cerimônias.

Como seu contemporâneo, o fotógrafo Edward Curtis, McClintock acreditava que as comunidades indígenas estavam passando por transformações rápidas e dramáticas que poderiam obliterar sua cultura tradicional, como previa o antropólogo cultural Franz Boas. Por isso, o fotógrafo decidiu criar um registro de um modo de vida que poderia desaparecer. Ele escreveu livros, montou exposições fotográficas e deu inúmeras palestras públicas sobre o Siksikaitsitap.

Hoje os Blackfeet moram na fronteira entre os EUA e Canadá. Eles vivem em aldeias indígenas em diversas partes da região, que segue com sua natureza parcialmente conservada até os dias de hoje. Estima-se que atualmente existam 50 mil Siksikaitsitap vivendo na América do Norte:

Confira as imagens:

© Yuri Ferreira

Uma cabana indígena em Montana

© Yuri Ferreira

Indígenas Blackwood e sua criação de animais

© Yuri Ferreira

Imagens mostram espaço natural dos indígenas Siksikaitsitap.

© Yuri Ferreira

Povos indígenas Siksikaitsitap vivem entre Canadá e EUA.

© Yuri Ferreira

Espaço de sobrevivência blackfeet é repleto de cânions e pastos

© Yuri Ferreira

Povos indígenas foram exterminados pelos EUA durante invasão do Oeste

© Yuri Ferreira

Imagens de McCorlick mostram a vida dos indígenas blackfeet

Destaque

MORRE CABO ANSELMO | AGENTE INFILTRADO DA DITADURA


Cabo Anselmo, ex-agente infiltrado da ditadura militar, morre aos 80 anos

Ele fez treinamento de guerrilha em Cuba, foi preso ao voltar ao Brasil e passou a colaborar com o regime militar. Ele atuava como espião infiltrado nos movimentos de esquerda e levou muitos militantes de esquerda à tortura e à morte.

Por g1 Sorocaba e Jundiaí

16/03/2022


Cabo Anselmo, ex-agente infiltrado da ditadura militar, morre aos 80 anos

Cabo Anselmo, ex-agente infiltrado da ditadura militar, morre aos 80 anos

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O ex-agente infiltrado da ditadura José Anselmo dos Santos, conhecido como cabo Anselmo, morreu na noite de terça-feira (15), aos 80 anos. A informação foi confirmada ao g1 por um ex-advogado dele nesta quarta-feira (16).

Ainda segundo o ex-advogado, a morte do cabo Anselmo, que morava em Jundiaí, no interior de São Paulo, teria ocorrido em decorrência de um mal súbito. Não há informações sobre o velório e o enterro do ex-agente.

Cabo Anselmo — Foto: Reprodução/O Globo/Zé Moreau

Cabo Anselmo — Foto: Reprodução/O Globo/Zé Moreau

Conforme a Fundação Getúlio Vargas (FGV), José Anselmo dos Santos nasceu em Sergipe, no dia 13 de fevereiro de 1941.

Anselmo fez treinamento de guerrilha em Cuba, foi preso ao voltar ao Brasil e passou a colaborar com o regime militar. Ele atuava como espião infiltrado nos movimentos de esquerda e levou muitos militantes de esquerda à tortura e à morte.

Cabo Anselmo esteve na clandestinidade desde os anos 70 depois de passar por uma cirurgia plástica para não ser reconhecido. Ele chegou a usar uma identidade falsa e viveu escondido.

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MÚMIAS NO PERU PRÉ-INCA


Múmia no Peru estava acompanhada de 20 vítimas de sacrifício humano

Rafael Arbulu  

A múmia “Chabelo”, descoberta em 2021 no Peru, estava acompanhada de restos humanos de 20 outras pessoas – oito delas, crianças – que podem ter sido vítimas de algum ritual de sacrifício humano, de acordo com arqueólogos da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, capital do país.

Nós já falamos sobre “Chabelo” aqui no Olhar Digital: a múmia corresponde a um período pré-Inca e era um homem que, pensava-se, morreu com algo entre 18 e 22 anos de idade, em um período relativamente longevo, entre 800 e 1,2 mil anos atrás. Entretanto, revisões e análises feitas no corpo revelaram que, na verdade, o sujeito tinha cerca de 35 anos quando morreu.

Uma das oito crianças pré-Incas encontradas em um sítio arqueológico junto de múmia no Peru: indício apontam para a realização de sacrifícios humanos
Uma das oito crianças pré-Incas encontradas em um sítio arqueológico junto de múmia no Peru: indício apontam para a realização de sacrifícios humanos (Imagem: Universidad Nacional Mayor de San Marcos/Reprodução)

Revisitando o sítio onde a múmia foi encontrada, os pesquisadores da instituição encontraram restos mortais enrolados e amarrados. Alguns dos restos infantis tinham sinais de violência, como fraturas, e há indícios de que um ritual de sacrifício tenha sido usado, disseram os especialistas.

“Nós sabemos que as sociedades andinas tinham várias práticas funerárias, rituais; e do ponto de vista delas, elas enxergavam o mundo de forma completamente diferente da nossa”, disse Pieter Van Dalen Luna, professor de arqueologia da faculdade e líder do time que está escavando a área. “A concepção da morte era muito importante para eles; era quase que um mundo paralelo, a abóbada dos mortos”.

É bem provável que muitas outras coisas sejam descobertas: a região de Cajamarquilla, onde todos os restos mortais estavam enterrados, é um sítio arqueológico que, há cerca de mil anos, tinha quatro pirâmides e um alto trânsito de pessoas – o que faz os arqueólogos suspeitarem que a região se tratava de um centro comercial bem movimentado.

Entretanto, apenas cerca de 1% do sítio foi escavado. E como não existem registros de escrita naquele período, os trabalhos de pesquisa dependem quase que exclusivamente de percepção contextual vinda de objetos e corpos encontrados para se entender como era a vida na época.

O time agora pretende conduzir análises de DNA e radiocarbono para determinar maiores informações sobre os corpos encontrados.

Fonte: Olhar Digital

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AS MÃES DA PRAÇA DE MAIO | ARGENTINA



Direitos Humanos

Para não esquecer: a história das Mães da Plaza de Mayo, na Argentina

Catorze mães que se encontravam desesperadas com o desaparecimento de seus filhos e filhas decidiram reunir-se na Plaza de Mayo, em frente à Casa Rosada, sede do poder federal. A razão deste encontro: receber alguma resposta do governo que, naquele momento, estava a cargo do ditador Jorge Rafael Videla.

Como todo o país se encontrava em estado de sítio, era proibida a reunião de três ou mais pessoas ou mesmo permanecer parado em vias públicas. Para que se dispersassem, portanto, a polícia foi chamada e, aos gritos de “¡Circulen, señoras, circulen!”, tentavam desfazer o grupo.

Elas acataram as ordens e juntaram-se em duplas, e, de braços dados, começaram a circular pelo monumento da Plaza de Mayo, a Pirâmide de Mayo. O lenço branco em suas cabeças, então feito com tecido de fraldas de bebês, e que representavam seus filhos e filhas, passou a ser usado também como modo de reconhecerem-se entre elas. Não imaginavam que este acabaria por se converter em um símbolo mundial de luta e resistência.

Enquanto isso, para desacreditá-las em suas vigílias, o governo e seus simpatizantes começaram a chamá-las de Las Locas de Plaza de Mayo. Ao perceber que, cada vez mais, se multiplicavam os lenços, a ditadura de Videla decidiu reagir e infiltrou, entre um de seus grupos, um jovem loiro, de olhos azuis, que alegava ter um parente desaparecido. Chamado carinhosamente pelas Madres de “Loirinho” (“el Rubito”) por sua aparência angelical, o jovem, que se apresentou como Gustavo Niño, era nem mais nem menos que o oficial Alfredo Astiz, conhecido hoje como “O anjo da morte”.

Uma das fundadoras das Mães da Praça de Maio, Esther Ballestrino era uma paraguaia que se refugiara na Argentina em 1947, quando foi perseguida pela ditadura de Higinio Morínigo. Entre seus amigos mais próximos estava Jorge Mário Bergoglio, o futuro Papa Francisco que, anos mais tarde, diria às filhas dela: “Sua mãe me ensinou a pensar”.

Ateia e comunista, a amiga do futuro papa havia sofrido o desaparecimento de sua filha Ana María, razão que a levou a se juntar com as outras Madres. Meses depois do sequestro, Ana María foi encontrada viva. Esther, então, junto com suas três filhas, refugiou-se no Brasil e, mais tarde, na Suécia.

Para desacreditá-las em suas vigílias, a ditadura e seus simpatizantes começaram a chamá-las de Las Locas de Plaza de Mayo. Em 1977, três das mães fundadoras do grupo foram sequestradas, torturadas e atiradas vivas sobre o mar

Já segura com a família no exílio, porém, Esther não pôde manter-se de braços cruzados e retornou a Buenos Aires para acompanhar novamente as Madres. Ao revê-la, as amigas lhe disseram que seu dever já estava cumprido e que agora ela estaria em perigo em seu país e sugeriram que retornasse ao exílio, ao que Esther teria respondido: “Não, não vou sair daqui até que todos apareçam” .

Entre 8 e 10 de dezembro de 1977, as forças comandadas por Astiz sequestraram 12 pessoas, entre elas Esther Ballestrino, Azucena Villaflor e María Bianca de Ponce, também fundadoras das Madres. Foram torturadas por dez dias e depois colocadas em um avião e atiradas vivas no litoral de Santa Teresita e Mar del Tuyo. Em 2017, Astiz foi condenado à prisão perpétua pelos crimes que cometeu na ditadura e declarou: “Nunca vou pedir perdão”.

“Podemos assegurar-lhe que há milhares e milhares de lares sofrendo muita dor, muita angústia, muito desespero e tristeza porque não nos dizem onde estão nossos filhos, não sabemos nada sobre eles, nos tiraram a coisa mais preciosa que uma mãe pode ter, seu filho. Só queremos saber onde estão nossos filhos, vivos ou mortos! Angústia porque não sabemos se estão doentes, se estão com frio, se estão com fome, não sabemos nada, e desespero, senhor, porque não sabemos mais a quem recorrer. Imploramos a vocês, são a nossa última esperança! Por favor, nos ajude! Ajude-nos por favor! Vocês são a nossa última esperança”, exclamaria Marta Alconada diante do jornalista holandês Frits Jelle Barend, que havia chegado ao país para cobrir a Copa do Mundo de 1978. Marta morreu em 2007. Nunca pôde saber o que aconteceu com seu filho Domingo. Entretanto, graças a essa entrevista, o mundo foi capaz de descobrir o que estava acontecendo na Argentina dos desaparecidos.

Muitas Madres se foram com o passar do tempo, algumas poucas com o alento de, pelo menos, terem enterrado os restos mortais de seus filhos. Outras, apenas com a dor do silêncio. Até os dias de hoje, esse pacto de silêncio dos militares permanece.

Em 3 de novembro de 1995, nasceu o grupo H.I.J.O.S. com o objetivo de reivindicar a luta de pais e companheiros por seus desaparecidos, buscar a restituição de identidades de irmãos e familiares sequestrados pela ditadura e fazer justiça contra militares e civis que apoiaram a ditadura.

Das Madres, com o passar dos anos, surgiram as hoje conhecidas Abuelas de Plaza de Mayo, as Avós, que seguem na busca por seus netos, filhos e filhas de seus filhos desaparecidos. De lá para cá, a identidade de 128 netos pôde ser reconhecida. As Abuelas estimam em 500 os bebês roubados pela ditadura.

Comprei um lenço branco e fui para a praça. Sentei-me num banco e comecei a chorar. Uma Madre se aproximou de mim e disse 'Quem você perdeu?' 'Minha filha', respondi. 'Bem, aqui não se vem para chorar, aqui se vem para lutar'

A atual presidenta das Abuelas, Estela de Carlotto, juntou-se às Madres em abril de 1978, alguns meses depois do desaparecimento de sua filha Laura, que estava grávida de três meses. Em agosto daquele mesmo ano, os militares convocaram-na para lhe devolver o corpo da filha. Um dos poucos casos da época em que um membro da família recebeu os restos de um dos seus para ser enterrado.

Estela, no entanto, sabia que seu neto havia nascido em cativeiro: “Em 1985, já na democracia, fiz com que exumassem o corpo de minha filha e a equipe de antropologia forense examinou-o cuidadosamente para determinar com exatidão tudo o que os militares haviam negado. A deterioração de seus dentes provava seu longo sequestro; através da pélvis, soubemos que ela tinha tido um bebê e, por causa das balas que haviam se alojado em seu crânio, que havia sido executada por um tiro de Itaka a 30cm de distância e pelas costas… Assim, reuni provas para a Justiça e demonstrei lá fora, onde tínhamos causas abertas, o que havia acontecido aqui. E desta vez, sim, eu quis vê-la… Vi seus pequenos ossos, seu cabelo, eu a vi, a vi. E, finalmente, encerrei meu luto e nunca mais precisei ir ao cemitério novamente. Vou somente de vez em quando. ”

Quanto ao filho de Laura, Guido, como a mãe queria que o bebê se chamasse, Carlotto sabia que estaria por ali, perto, longe, não importava, pois para ela, nada nem ninguém iria impedi-la de procurar por ele. Entre tanta dor, muita luta e após 36 anos, um teste de DNA revelaria em 2014 que o neto 114 era o Guido de Estela. “É um caso especial para mim porque, além da felicidade de tê-lo encontrado, meu pedido de ‘eu não quero morrer sem abraçá-lo’ foi cumprido”.

Quem deu a notícia a Guido de que ele era filho de desaparecidos foi sua tia Claudia, que trabalha na CONADI (Comissão Nacional pelo Direito à Identidade). “Tenho que lhe dizer que os resultados são positivos e que você é o filho de Laura Carlotto e Walmir Óscar Montoya, meu sobrinho”.

As histórias são muitas. Impossível se esquecer de María Isabel Chorobik de Mariani, conhecida como Chicha, que morreu em agosto do ano passado aos 94 anos. Também fundadora das Madres, Chicha teve seu filho assassinado, assim como sua nora. Sua neta, Clara Anahí, tinha 3 meses de idade na época do sequestro. Ela, porém, não contou com a mesma sorte de Estela. Chicha partiu sem a ter encontrado. Até hoje, seguem buscando por Clara.

Só queremos saber onde estão nossos filhos, vivos ou mortos! Angústia porque não sabemos se estão doentes, se estão com frio, se estão com fome, não sabemos nada, e desespero, senhor, porque não sabemos mais a quem recorrer. Imploramos a vocês, são a nossa última esperança! Por favor, nos ajude!

Mercedes Colás de Meroño, com 94 anos, é a vice-presidente das Madres de Plaza de Mayo. Em 5 de janeiro de 1978, sua filha Alicia foi sequestrada. “Porota”, como a chamam, decidiu juntar-se às Madres. “Comprei um lenço branco e fui para a praça. Sentei-me num banco e comecei a chorar. Uma Madre se aproximou de mim e disse ‘Quem você perdeu?’ ‘Minha filha’, respondi. ‘Bem, aqui não se vem para chorar, aqui se vem para lutar’”. Alicia ainda está desaparecida e Mercedes continua marchando.

“Marchamos na Plaza de Mayo. Ali nos reunimos com nossos filhos, ali nos sentimos vivas. Desde o primeiro momento nós, Madres, sem sabermos, estávamos educando para a paz. Estávamos caminhando em uma Praça enfrentando a ditadura, fazendo um grande esforço para não ficarmos em uma cama chorando. Todas as manhãs, nos perguntávamos: o que vamos fazer? Todas as manhãs sem nossos filhos, todas as manhãs acordávamos e perdíamos a cada dia as esperanças de encontrá-los. Quando nos demos conta de que eles não voltariam, tomamos a decisão de não mais deixar a Plaza. Tomamos a decisão de lutar até o último dia de nossas vidas e também entendemos que a luta individual não fazia sentido, que deveríamos assumir a responsabilidade de socializar a maternidade, fazendo de nós mães de todos.

Palavras de Hebe de Bonafini, presidenta das Madres, que em 4 de dezembro do ano passado fez 90 anos. Em 2001, Hebe e as mães foram reprimidas pela polícia, quando elas saíram para defender as pessoas no massacre brutal que tirou a vida de 39 pessoas.

Em 8 de fevereiro de 1977, o filho mais velho de Hebe, Jorge Omar, foi sequestrado em La Plata e, em 6 de dezembro, sequestraram seu outro filho, Raúl Alfredo. Eles nunca apareceram. Hebe é aquela que mais duramente critica o atual governo argentino. Lembro-me de uma frase carinhosa dela para o presidente: “Eu disse isso antes e vou dizer de novo: Macri é um digníssimo filho de mil putas”.

Com o passar dos anos, criaram-se subdivisões entre elas. Em 1986, foi criada a Asociación Madres de Plaza de Mayo Línea Fundadora. Uma de suas representantes é Nora Cortiñas, ou Norita, como chamam essa mulher gigante de apenas um metro e meio. Seu filho, Carlos Gustavo Cortiñas, membro do Partido Peronista na Villa 31, foi sequestrado em sua casa em 15 de abril de 1977, na presença de sua esposa e de seu filho de 2 anos. Nunca se soube para onde o levaram ou o que fizeram com Carlos.

Em 13 de agosto de 1984, o general genocida Luciano Benjamin Menéndez foi convidado para um programa de televisão. Nora foi até lá e chamou-o de “covarde e assassino”. Menéndez desembanhou uma faca em uma tentativa vã de apunhalá-la. Uma imagem que permanecerá para a história. Segundo dizem, Menéndez não se incomodou por haver sido chamado de assassino, mas sim de covarde, como bem está bem representado na foto.

Em 22 de março passado, Norita completou 89 anos e não há outro lugar para ela que não seja nas ruas. Está presente em cada manifestação, em cada marcha e em todo grito que represente a defesa dos direitos humanos em qualquer lugar do mundo. Onde quer que vá, carrega consigo a foto do filho, dentro e fora do peito.

Foram mais de 2000 marchas em 42 anos e, toda quinta-feira, estarão novamente marchando na Plaza de Mayo porque, para essas mulheres, baixar os braços ou desistir da luta nunca foi uma opção. “Quiséramos nós que não existissem as ‘Madres de Plaza de Mayo’ ou seus ‘pañuelos blancos’. Ninguém escolheu ser uma, ao contrário, mas esse foi nosso destino”, disse Taty Almeida, uma referência entre as Madres, hoje a seus 88 anos de idade. Seu filho Alejandro, de 20 anos, desapareceu em 17 de junho de 1975.

No dia 24 de março, quando se comemora o Día Nacional de la Memoria por la Verdad y la Justicia na Argentina, para não esquecer o golpe de 1976 e o terrorismo de Estado que levou a 30 mil desaparecidos em todo o país, elas estavam novamente presentes. Em abril, foi identificada na Espanha a neta número 129, filha dos militantes de esquerda Carlos Solsona e Norma Síntora, que estava grávida de nove meses quando foi sequestrada pela ditadura. Ela nunca foi encontrada. Aos 70 anos, Carlos, que nem sabia se o bebê era menino ou menina, se torna pai de uma mulher de 42 com quem foi impedido de conviver. “Ninguém tem ideia das milhares de noites que passei sem dormir esperando este momento”, disse.

Fico com a frase de Estela de Carlotto sobre sua luta e a passagem do tempo: “Às vezes eu digo, para ilustrar o quanto temos andado pelo mundo, que vamos continuar andando enquanto tivermos mobilidade. Por isso usamos bengala, para que nunca nos ajoelhemos” .

Aprendamos.

Tradução de Elisabete Bustamante
Fonte: Socialista Morena

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INTERPRETAÇÃO MAGISTRAL SOBRE O FILME “OS MISERÁVEIS”.


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AVICENA É UMA LUZ NA IDADE MÉDIA



Avicena é uma luz na Idade Média. Mais do que um médico, foi um grande filósofo, buscador da verdade. Sua forte busca pelo saber não se limitava às dimensões de sua personalidade; suas obras enciclopédicas nos mostram essa vontade inquebrantável que habitava seu coração. Busca no neoplatonismo e em Aristóteles as bases para seus ensinamentos, mantendo viva a memória desses grandes filósofos. Foi exemplo de médico e de filósofo.
ABN ALI AL HOSAIN IBN ABDALLAH IBN SINA, também conhecido como Avicena, foi filósofo, médico, matemático, astrólogo, alquimista, poeta, músico, físico, político e místico. Segundo H.P.Blavatsky, Avicena era um “filósofo persa, nascido em 980, apelidado de “o famoso”, autor das primeiras obras de alquimia conhecidas na Europa; diz a lenda que tendo o conhecimento do Elixir da vida, ainda está vivo, como um adepto que se manifestará aos profanos no fim de certo ciclo”. Devido a sua ânsia de saber, também era chamado de al-Shaij al-Rais “o primeiro dos sábios”. Nasceu em Afshana, fronteira com Afeganistão. Ao nascer sua família mudou para Brujara.
Desde cedo mostrou suas aptidões intelectuais. Aos dez anos recitava o Alcorão de memória. Antes dos dezesseis, quando já estudava e praticava medicina; conhecia lógica, física, matemática e metafísica. Empenhou-se muito nos estudos da filosofia e das ciências com uma vontade inquebrantável para além do sono e da fadiga. Sua fama como médico era tão conhecida que, com apenas 18 anos, foi nomeado médico da corte do soberano samaní de Bujara. Permaneceu nesse cargo até a queda do império samaní em 999, e passou os últimos 14 anos de sua vida atuando como conselheiro científico e médico do governante de Ispahán.
Conta Yuzyani, seu fiel discípulo, que aos dezenove anos não se encontrava ninguém que pudesse se igualar a ele nas diversas disciplinas. Sua memória era surpreendente. Quando a monumental biblioteca de Brujara foi queimada, as pessoas se consolavam: “o santuário da sabedoria não pereceu; transferiu-se para o cérebro de Al-Shaij al-Rais.”
Antes de completar 21 anos, escreveu o seu Cânone de Medicina que por muitos anos permaneceu como a principal autoridade nas escolas médicas tanto da Europa quanto da Ásia. É um compêndio estruturado de todos os conhecimentos médicos existentes na época, que constava de 5 livros, a obra é uma síntese que recolhe todo o conhecimento dos grandes médicos greco-romanos: Hipócrates, Galeno, Dioscórides e Aristóteles. A essa base teórica somam-se os conhecimentos de caráter prático da antiga Pérsia e da Índia. Escreveu “O sentido e a Essência”, de quase vinte fascículos, e o livro “O Bem e o Mal”.
Em 1014 (ano 450 da emigração muçulmana) estabeleceu-se em Hamadán. Avicena era, naquela época, um médico famoso e foi chamado para atender o Emir de Hamadán, Shamsodawlah. Aqui começa sua etapa política: o Emir dá-lhe o título de primeiro ministro. Pela primeira vez, Avicena tem a oportunidade de transformar seu ideal filosófico em um ideal político e passará da teoria à prática. Como ocorreu com Platão e Confúcio, tenta aplicar seus conhecimentos ao serviço público em benefício da comunidade com um claro fim pedagógico.
Avicena transmite, tanto na medicina como na política, um único fim: “fazer que os homens sejam melhores e mais felizes, aplicando normas estabelecidas de justiça e direito”.
Evidentemente, seu trabalho lhe trouxe muitos inimigos. Como ele mesmo deixou escrito em uma de suas obras: “Se não houvesse deixado sinal algum no coração dos homens, não teriam se ocupado comigo. Não estariam nem a favor nem contra mim.”
Escreveu o Kitab al-Shifa (O Livro da Cura), conjunto de 18 livros que tratam das ciências fundamentais, da lógica, matemática, física e astronomia. A filosofia de Avicena era uma combinação da filosofia de Aristóteles, neoplatonismo e teologia islã. O título dessa obra explica sua intenção humanista e filosófica, porque se o Preceito estava destinado à cura do corpo. Al-Shifa pretende curar a alma, para que os homens sejam moralmente fortes e nobres. Foi a primeira enciclopédia do saber na Europa. É a obra de recompilação e investigação mais ambiciosa que havia sido escrita até aquele momento.
Despertava antes da alvorada para redigir sua obra a um ritmo de quase cinqüenta páginas diárias e recebia seus discípulos ao amanhecer para instruí-los antes de conduzi-los à oração. Por causa das muitas viagens, demorou dez anos para terminar sua obra, que consta de quatro partes: lógica, física, matemática e metafísica. Nela estão expostas idéias de Platão, Aristóteles, Plotino, Zenón e Crisipo, entre outros, unificadas pelo estilo próprio do autor. A intenção de Avicena era expor o fruto das ciências dos antigos, dos filósofos clássicos. Não era um simples comentário de Aristóteles, e sim um compêndio da sabedoria que havia perdurado até então. Como definiu recentemente um dos comentaristas de sua obra, Al-Shifa “é o universo em um livro”.
O Cânone de Avicena tornou-se, ao fim de uma lenta evolução, que levou cerca de um século, a obra básica do ensino universitário medieval, e ainda era largamente usado no século XVI, apesar da ascensão do antiarabismo. Oferecia soluções a pontos de discordância entre dois mestres do pensamento da Idade Média, que foram Aristóteles e Galeno. Dava, principalmente, um conselho geral: deve-se seguir o filósofo em matéria de filosofia, o médico em matéria de medicina. Devido à vasta extensão dessa enciclopédica obra, escreveu posteriormente “Al-Nayat” (a Salvação), que é um resumo do “Shifa”.
Acusaram sua filosofia de falta de originalidade. Ele não pretendia fazer algo novo ou velho, mas sim resgatar o atemporal. Sua obra era uma síntese de mística e filosofia e foi atacada também por teólogos. Avicena abandona a corte e foge com seu discípulo para Ispahán. Nessa cidade escreveu mais livros. Em agosto de 1037, durante uma campanha bélica para Hamadán, Avicena morre. Conta-se que, sabendo-se gravemente doente, libertou seus serviçais e repartiu seus bens com os pobres.
Descobriu muitos medicamentos, identificou e tratou várias doenças tal como a meningite, mas a sua maior contribuição foi na filosofia da medicina. Criou um sistema de medicina no qual a prática médica podia ser realizada e os fatores físicos e psicológicos, medicamentos e dieta eram combinados. Seu tratado tornou-se a matéria médica mais autêntica de sua era.
A Medicina Islâmica combinava o uso de drogas para fins medicinais com considerações dietéticas – como podemos notar no Cânone de Avicena – e um modo de vida totalmente derivado dos ensinamentos do Islã, para criar uma síntese, que não se extinguiu até aos dias de hoje, apesar da introdução da medicina moderna em quase todo o Mundo Islâmico.
Alberto Magno e Tomás de Aquino nutriam grande admiração por Avicena. Sua influência no Oriente não foi duradoura devido à oposição também dos teólogos ortodoxos. No Ocidente, contudo, Avicena foi decisivo para a difusão do pensamento de Aristóteles nos séculos XII e de igual maneira XIII.
Profundo estudioso de Aristóteles, deu, não obstante, interpretações originais à teoria do conhecimento, observando-se em seus estudos forte influência neoplatônica, que talvez tenha motivado sua intenção de criar uma teosofia mística que sustentasse a fé islâmica. Seu pensamento preparou as descobertas do Renascimento
O mundo Otomano era também uma arena de grande atividade médica derivada da herança de Avicena. Os turcos Otomanos eram principalmente conhecidos pela criação de grandes hospitais e centros médicos.
Fez diversas observações astronômicas e planejou um contrivance para aumentar a precisão de leituras instrumentais. Na física, realizou o estudo de formulários diferentes da energia, do calor, de claro e de mecânico, e conceitos como a força, o vácuo e a infinidade. Propunha uma interconexão entre o tempo e o movimento, com investigações também feitas na gravidade específica, usou um termômetro de ar. Seu tratado em minerais era uma das fontes principais da geologia dos enciclopedistas cristãos do décimo terceiro século. São atribuídos a ele 456 livros em árabe e 23 em persa. Também escreveu inúmeras poesias.

Como ocorre com outros personagens proeminentes da história, querer restringir Avicena apenas a uma faceta de filósofo seria injusto. Ele era médico, filósofo, matemático, astrólogo, alquimista, poeta, músico, físico, astrônomo, político e místico. Sua ânsia de saber não tinha limites. Por isso, a palavra que melhor o define é, tal como lhe chamavam seus contemporâneos, al-Shaij al-Rais, “o primeiro dos sábios”.

FONTE: NOVA ACRÓPOLE

BIBLIOGRAFIA:
* http://www.pucsp.br/~filopuc/verbete/avicena.htm
* http://www.islam.org.br/a_medicina.htm
* Canon de Avicena. Autor del Trabajo: Gabriel Garde Herce.
* http://www.newadvent.org/cathen/02157a.htm
* http://faculty.salisbury.edu/~jdhatley/MedArabPhil.htm
* Tradução do Árabe para o Português, do Tratado I, da obra intitulada AL-MABDA’WA AL-MA’_D (A Origem e o Retorno), DE IBN SINA (Avicena 980-1037). Jamil Ibrahim Iskandar.
* Caderno de Cultura. Nº46 . Editora Nova Acrópole – Brasil. Texto de Alberto Granero.
* Glossário Teosófico. Helena Petrovna Blavatsky. Ed. Ground.

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O BRASIL JÁ FOI MODELO DE IMUNIZAÇÃO


MILHÕES DE PESSOAS VACINADAS: RELEMBRE A IMUNIZAÇÃO CONTRA O H1N1

A campanha de vacinação na última pandemia enfrentada pelo mundo impressionou

INGREDI BRUNATO, SOB SUPERVISÃO DE THIAGO LINCOLINS PUBLICADO EM 01/03/2021, ÀS 18H001

Fotografia meramente ilustrativa de vacina de H1N1
Fotografia meramente ilustrativa de vacina de H1N1 – Divulgação

Antes do Sars-cov-2 chegar, a última vez que o mundo havia sido acometido por uma pandemia foi em 2009, com o H1N1, o vírus que provocava a chamada gripe A, ou, como ficou conhecida popularmente, a gripe suína. 

Ainda que na época não tenha havido esforços de quarentena como os que ocorrem hoje, as duas pandemias têm uma semelhança obrigatória, que é a necessidade de, em algum momento, iniciar-se uma campanha de vacinação.

Relembre abaixo como foi feita a imunização da população brasileira na última ocasião em que precisamos lutar contra um surto viral. 

Vacina rápida 

Segundo divulgado pela BBC em uma reportagem do ano passado, apenas um dia após a Organização Mundial de Saúde anunciar que o mundo enfrentava uma pandemia de H1N1 (o que ocorreu no dia 12 de junho de 2009), uma empresa farmacêutica suíça já estava com o primeiro lote do imunizante pronto. 

Imagem meramente ilustrativa do vírus da influenza A / Crédito: Divulgação 

Isso teria ocorrido por conta do causador da gripe A já ser um vírus com o qual os cientistas tinham mais experiência. Em uma entrevista para a CNN em março do ano passado, o infectologista Rodrigo Contrera explicou a situação: 

“O que a gente via na época da H1N1 era uma situação em que existiam três grandes diferenciais: já tínhamos uma vacina e um tratamento, com um medicamento que é o oseltamivir – para os casos mais graves. E o terceiro diferencial foi que já tínhamos um conhecimento maior do vírus, porque ele já era estudado havia muitas e muitas décadas”, disse ele. 

Campanha 

Em setembro de 2009, a China se tornou o primeiro país a iniciar sua campanha de vacinação contra a gripe A, de acordo com o site da ONU. Fazia então por volta de quatro meses que a pandemia fora declarada. 

Como a taxa de mortalidade era muito maior em adultos, na época do surto de gripe suína a vacinação de adultos entre 20 e 39 anos foi uma prioridade. De resto, os outros grupos prioritários foram mais usuais: bebês entre seis meses e dois anos, indígenas, grávidas, pessoas com doenças crônicas. 

Vale dizer ainda que a imunização iniciou-se no Brasil a tempo de prevenir uma espécie de ‘segunda onda’ de contágios do H1N1 que poderia ocorrer com a queda das temperaturas a partir de abril e maio daquele ano. 

De acordo com o Instituto de Medicina Tropical da USP, durante os anos de 2009 e 2010 o influenzavírus contaminou 53.797 brasileiros, e matou 2 mil. 

Fim da pandemia 

Em dez de agosto de 2010, a Organização Mundial de Saúde deu um novo anúncio: a pandemia da influenza A havia oficialmente sido controlada. O vírus não foi erradicado, todavia, o número de casos não configurava mais um surto. 

Segundo divulgado por uma reportagem da Brasil de Fato em 2020, durante os primeiros três meses de vacinação, 80 milhões de brasileiros foram imunizados contra a gripe suína, e posteriormente o Brasil acabou se tornando o país que mais vacinou pessoas através do sistema público de saúde. 

Fotografia de ex-presidente Lula sendo vacinado contra a H1N1 / Crédito: Divulgação/ Ricardo Stuckert

“O Brasil tem todas as condições financeiras, institucionais e técnicas de fazer um grande plano de vacinação para todos e todas. Na pandemia de H1N1, eu era ministro [da Saúde] do presidente Lula, e em 2010 foram mais de 100 milhões de pessoas vacinadas. Destas, 80 milhões em apenas três meses”, comentou o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) para o veículo. 

“Temos instituições públicas, temos tradição, temos o SUS, temos pesquisadores que conhecem de vacina e temos todos os recursos necessários. O problema é que o governo Bolsonaro é contra o programa nacional de imunização”, concluiu ainda Padilha.

Fonte: Aventuras na História

Destaque

12 MULHERES QUE MUDARAM A HISTÓRIA


POR JÉSSICA CHIARELIEM LISTAS

Muitas mulheres que revolucionaram a tecnologia, a ciência, a sociedade ou se transformaram em nomes de peso da literatura não são lembradas devidamente por seus feitos. Para ajudar a contornar essa situação, a Bula reuniu em uma lista algumas mulheres que precisam e merecem ser lembradas, pois de uma maneira direta ou indireta ajudaram a mudar os rumos da história. É importante lembrar que a lista não tem a intenção de ser definitiva e tão pouco consegue abarcar todos os nomes de mulheres pioneiras e consagradas. Alguns nomes lembrados foram os da ativista negra americana Rosa Parks; da cientista Marie Curie; e da psiquiatra brasileira Nise da Silveira. Além de personalidades, optou-se por incluir excepcionalmente uma associação civil formada por mulheres, as Avós da Praça de Maio.Ada Lovelace, criadora da programação

Ada Augusta King, a Condessa de Lovelace, foi uma matemática e escritora inglesa que viveu entre os anos 1815 e 1852. Ela é conhecida por ser a criadora do primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina, a máquina analítica de Charles Babbage. O algoritmo permitia a computação de valores de funções matemáticas. Por esse trabalho ela é considerada a mãe da programação.Alice Ball, criadora da vacina contra hanseníase

Alice Ball se graduou em Farmácia e Química na Universidade de Washington em 1914, aos 22 anos. Depois, foi a primeira mulher, e a primeira mulher negra, a obter mestrado em Química na Universidade do Havaí. Na pós-graduação, estudou o óleo de chaulmoogra, usado para tratar a hanseníase, mas que era muito amargo para ser ingerido. Ela, então, encontrou uma maneira de isolar os ésteres da substância, permitindo que ela fosse injetada, salvando centenas de vidas.Ellen Johnson-Sirleaf, primeira mulher negra eleita presidente no mundo

Ellen Johnson-Sirleaf é uma política liberiana que, em 2005, tornou-se a primeira mulher negra eleita presidente no mundo. Em 2011, ela foi novamente a mais votada nas urnas, e continuou vestindo a faixa presidencial por mais um mandato. Ainda em 2011, ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz, ao lado de Leymah Gboweepor e Tawakel Karman, por sua luta não violenta para a segurança e pelos direitos das mulheres.Gabriela Mistral, primeira Nobel de Literatura da América Latina

Gabriela Mistral, pseudônimo de Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, nasceu em 1889, no Chile, e foi uma poetisa, educadora e diplomata. Por seus poemas, ela foi agraciada com o Nobel de Literatura de 1945, tornando-se a primeira pessoa da América Latina a receber o prêmio. Algumas de suas obras são “Sonetos de la Muerte” (1914), “Desolación” (1922), e “Ternura” (1924).Gertrude B. Ellion, criadora da quimioterapia

A bioquímica americana recebeu o Nobel de Medicina em 1988, depois das suas pesquisas no Wellcome Research Laboratories, do Research Triangle Park, complexo de pesquisa de três universidades da Coralina do Norte. Durante seus estudos, ela desenvolveu uma droga para o tratamento da leucemia. Além disso, descobriu importantes princípios de quimioterapia, amplamente utilizada para o tratamento de vários tipos de câncer na atualidade.Hedy Lamarr, precursora da conexão wireless

Hedy Lamarr, nome artístico de Hedwig Eva Maria Kiesler, foi uma atriz e inventora austríaca que se radicou nos Estados Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial, ela inventou um sofisticado aparelho de interferência em rádio para despistar radares nazistas. A ideia surgiu em conjunto com o compositor George Antheil. O sistema serviu de base para a criação da telefonia móvel e da conexão wireless.Avós da Praça de Maio, associação civil pelo resgate de crianças desaparecidas

Avós da Praça de Maio é uma organização argentina de mulheres que tenta localizar as crianças sequestradas pela ditadura militar no país. A associação é presidida por Enriqueta Estela Barnes de Carlotto, cuja filha grávida foi sequestrada durante o regime. Estela descobriu que seu neto chegou a nascer e foi entregue a outra família. 122 netos já foram encontrados, mas estima-se que cerca de 300 ainda estejam desaparecidos.Rosa Parks, símbolo dos direitos civis americanos

A costureira e ativista negra norte-americana se tornou símbolo dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Ela se recusou a ceder o seu lugar para um homem branco em um ônibus, motivo pela qual acabou presa. A sua atitude desencadeou o movimento “Boicote aos Ônibus de Montgomery”, ocorrido entre os anos 1955 e 1956, e, posteriormente, marcou o início da luta antissegregacionista no país.Maria da Penha, líder do movimento contra a violência doméstica

A farmacêutica brasileira foi líder do movimento de defesa dos direitos das mulheres vítimas de violência doméstica no Brasil. Em agosto de 2006 foi sancionada uma lei que leva o seu nome. Além disso, ela fundou um instituto sem fins lucrativos para auxiliar as mulheres vítimas. Em 1983, o seu marido tentou matá-la duas vezes, deixando-a paraplégica. Ele só foi condenado após 19 anos, e pouco tempo depois foi posto em liberdade.Marie Curie, criadora da teoria da radioatividade

Marie Curie foi uma cientista polonesa radicada na França que desenvolveu pesquisas pioneiras sobre a radioatividade. Ela foi a primeira mulher a receber um Prêmio Nobel e a única pessoa a ganhar o prêmio duas vezes em diferentes categorias: física e química. Além de desenvolver a teoria da radioatividade, termo que ela mesma cunhou, Mari descobriu dois novos elementos químicos, o polônio e o rádio.Nise da Silveira, revolucionou o tratamento psiquiátrico

Nascida em Maceió em 1905, Nise da Silveira foi uma médica psiquiatra brasileira que revolucionou o tratamento psiquiátrico. Durante a sua trajetória profissional, ela se manteve radicalmente contra as formas agressivas de tratamento de sua época, como eletrochoques e lobotomia. Em um de seus trabalhos, ela criou ateliês de pintura e modelagem para possibilitar aos doentes reatar seus vínculos com a realidade por meio da expressão artística.Rigoberta Menchú, líder indígena

Rigoberta Menchú é uma mulher guatemalteca do povo Quiché-Maia. Ela recebeu o Prêmio da Paz em 1992 por sua luta pelos direitos humanos a favor dos povos indígenas. Além disso, ela também recebeu o Prêmio Príncipe das Astúrias de Cooperação Internacional. No fim da Guerra Civil da Guatemala em 1996, ela tentou levar aos tribunais espanhóis políticos e militares por genocídio contra o povo Maia da Guatemala.

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HISTÓRIA DA CULINÁRIA JUNINA


Festa junina é aula de gastronomia e história

Tradição, desde a colonização do Brasil, alimenta os arraiás até hoje

Publicado em 26/06/2019 – 07:00

Por Gilberto Costa – Repórter da Agência BrasilBrasília

Arroz Maria Isabel e bolo de fubá.

Um passeio entre as barracas de comida dos “arraiás” juninos pode render algumas calorias e, aos glutões caipiras mais curiosos, algum conhecimento sobre a formação cultural brasileira e a nossa culinária.

Quem explica é a professora de gastronomia Luiza Buscariolli, que leciona no Senac-DF e no UniCeub e ensinou aos leitores da Agência Brasildois pratos típicos do São João. Segundo ela, os quitutes guardam a história dos portugueses e dos povos ameríndios que habitavam o país antes dos nossos colonizadores.

Professora de gastronomia Luiza Buscariolli

Professora de gastronomia Luiza Buscariolli – Agência Brasil/Marcello Casal Jr

“A gente sabe que havia algumas festas neste mês de junho que os indígenas faziam. Quando os jesuítas estiveram no Brasil [a partir de 1549], aproveitaram dessas festas para trazer a tradição [europeia] de festas juninas, que por sua vez eram uma apropriação das antigas festas pagãs por causa do solstício de verão, que no hemisfério sul é solstício de inverno”, revela.

Enquanto prepara uma porção do prato Maria Isabel, comida típica da região hoje conhecida como o Estado do Piauí, que mistura arroz com carne-de-sol, Buscariolli lembra que a iguaria guarda relação com o ciclo de gado iniciado pelos portugueses no Brasil (século 16). A atividade pecuária foi introduzida por Tomé de Souza, primeiro governador-geral (1549 a 1553) ainda no tempo das capitanias hereditárias, para transporte e alimentação.

O prato Maria Isabel, assim como a paçoca de carne de sol também do Nordeste; o arroz carreteiro (com charque ou carne seca) do Sul e o feijão tropeiro (com torresmo e linguiça) dos sertões de São Paulo, Minas Gerais e Goiás (esse no século 17), são comidas que podiam ser armazenadas e transportadas em longas viagens.

“A lógica é tudo seco, porque se conseguia colocar em uma bolsa [de couro]”. Na hora da fome, a carne era picada e misturada. “Podiam usar água para fazer reidratação”, assinala a professora de gastronomia.

Além da proteína animal, outros ingredientes desses pratos compõem nossa história. O arroz, do Maria Isabel, foi trazido da Ásia pelos colonizadores portugueses. A farinha de mandioca tem origem indígena, e o feijão, ingerido pelo homem desde a antiguidade, tem espécies autóctones no Brasil e outros países americanos.

Assim como a mandioca, usada na produção da farinha e do beiju, os indígenas trouxeram ao cardápio junino os pratos a base de milho. Iguarias provadas durante as festas, como a espiga cozida, curau, pamonha e canjica foram ensinados aos colonizadores pelos indígenas.

“Para os portugueses, milho era comida de animal. Foi muito difícil aceitarem. Passaram a comer porque não tinha outra coisa”, explica Luiza Buscariolli ao preparar um bolo de milho com goiabada para a Agência Brasil.

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História da Matemática


Os textos matemáticos (em escrita cuneiforme) mais antigos foram encontrados na Mesopotâmia. Na China, é inventado o ábaco, primeiro instrumento mecânico para calcular. São criadas as tabuadas e o cálculo de área é desenvolvido. Estas coisas aconteceram entre 3000 e 2500 a.C.

Aproximadamente em 1600 a.C., é escrito o papiro de Rhind, principal texto matemático dos egípcios; este contém regras para o cálculo de adições e subtrações de frações, equações simples de 1º grau, diversos problemas de aritmética, medições de superfícies e volumes.

De 550 até 450 a.C., é estabelecida a era pitagórica, caracterizada por grandes conhecimentos na geometria elementar, como o teorema de Pitágoras. Os pitagóricos foram os primeiros a analisar a noção de número e estabelecer as relações de correspondência entre a aritmética e a geometria. Definiram os números primos, algumas progressões e a teoria das proporções.

O matemático grego Erastótenes idealizou um método com o qual pôde medir a circunferência da Terra, entre os anos de 276 e 194 a.C.

Entre os anos 300 e 600 o povo hindu cria o sistema numérico decimal que usamos hoje.

No ano 1100, Omar Khayyam desenvolve um método para desenhar um segmento cuja longitude fosse a raiz real positiva de um polinômio cúbico dado. Em 1525, o matemático alemão emprega o atual símbolo da raiz quadrada. Em 1545, Gerolamo Cardano publica o método geral para a resolução de equações do 3º grau. Em 1550, Ferrari torna público o método de resolver equações do 4º grau. Em 1591, François Viète aplica, pela primeira vez, a álgebra à geometria. Em 1614, os logaritmos são inventados por Napier. Em 1619, Descartes cria a geometria analítica.

No ano 1642, Blaise Pascal constrói a primeira maquina de calcular, com a qual podia-se somar ou subtrair com números de até seis dígitos. Em 1684, é criado, ao mesmo tempo, por Newton e Leibniz o cálculo infinitesimal. Em 1746, D’Alembert enuncia e demonstra parcialmente que qualquer polinômio de grau n tem n raízes reais.

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Paulo Freire / O maior nome da educação brasileira para o mundo.


Paulo Freire, o mentor da Educação para a consciência

O mais célebre educador brasileiro, autor da “Pedagogia do Oprimido”, defendia como objetivo da escola ensinar o aluno a “ler o mundo” para poder transformá-lo. Leia mais

Paulo Freire (1921-1997) foi o mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais. Conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome, ele desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político. Para Freire, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno. Isso significa, em relação às parcelas desfavorecidas da sociedade, levá-las a entender sua situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação. O principal livro de Freire se intitula justamente Pedagogia do Oprimido e os conceitos nele contidos baseiam boa parte do conjunto de sua obra.

Ao propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos alunos, Freire condenava o ensino oferecido pela ampla maioria das escolas (isto é, as “escolas burguesas”), que ele qualificou de educação bancária. Nela, segundo Freire, o professor age como quem deposita conhecimento num aluno apenas receptivo, dócil. Em outras palavras, o saber é visto como uma doação dos que se julgam seus detentores. Trata-se, para Freire, de uma escola alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele propunha para despertar a consciência dos oprimidos. “Sua tônica fundamentalmente reside em matar nos educandos a cur iosidade, o espírito investigador, a criatividade”, escreveu o educador. Ele dizia que, enquanto a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educação que defendia tinha a intenção de inquietá-los.

Aprendizado conjunto

Freire criticava a idéia de que ensinar é transmitir saber porque para ele a missão do professor era possibilitar a criação ou a produção de conhecimentos. Mas ele não comungava da concepção de que o aluno precisa apenas de que lhe sejam facilitadas as condições para o auto-aprendizado. Freire previa para o professor um papel diretivo e informativo – portanto, ele não pode renunciar a exercer autoridade. Segundo o pensador pernambucano, o profissional de educação deve levar os alunos a conhecer conteúdos, mas não como verdade absoluta. Freire dizia que ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não aprendem sozinhas. “Os homens se educam entre si mediados pelo mundo”, escreveu. Isso implica um princípio fundamental para Freire: o de que o aluno, alfabetizado ou não, chega à escola levando uma cultura que não é melhor nem pior do que a do professor. Em sala de aula, os dois lados aprenderão juntos, um com o outro – e para isso é necessário que as relações sejam afetivas e democráticas, garantindo a todos a possibilidade de se expressar. “Uma das grandes inovações da pedagogia freireana é considerar que o sujeito da criação cultural não é individual, mas coletivo”, diz José Eustáquio Romão, diretor do Instituto Paulo Freire, em São Paulo.

A valorização da cultura do aluno é a chave para o processo de conscientização preconizado por Paulo Freire e está no âmago de seu método de alfabetização, formulado inicialmente para o ensino de adultos. Basicamente, o método propõe a identificação e catalogação das palavras-chave do vocabulário dos alunos – as chamadas palavras geradoras. Elas devem sugerir situações de vida comuns e significativas para os integrantes da comunidade em que se atua, como por exemplo “tijolo” para os operários da construção civil.

Diante dos alunos, o professor mostrará lado a lado a palavra e a representação visual do objeto que ela designa. Os mecanismos de linguagem serão estudados depois do desdobramento em sílabas das palavras geradoras. O conjunto das palavras geradoras deve conter as diferentes possibilidades silábicas e permitir o estudo de todas as situações que possam ocorrer durante a leitura e a escrita. “Isso faz com que a pessoa incorpore as estruturas lingüísticas do idioma materno”, diz Romão. Embora a técnica de silabação seja hoje vista como ultrapassada, o uso de palavras geradoras continua sendo adotado com sucesso em programas de alfabetização em diversos países do mundo.

Seres inacabados

O método Paulo Freire não visa apenas tornar mais rápido e acessível o aprendizado, mas pretende habilitar o aluno a “ler o mundo”, na expressão famosa do educador. “Trata-se de aprender a ler a realidade (conhecê-la) para em seguida poder reescrever essa realidade (transformá-la)”, dizia Freire. A alfabetização é, para o educador, um modo de os desfavorecidos romperem o que chamou de “cultura do silêncio” e transformar a realidade, “como sujeitos da própria história”.

No conjunto do pensamento de Paulo Freire encontra-se a idéia de que tudo está em permanente transformação e interação. Por isso, não há futuro a priori, como ele gostava de repetir no fim da vida, como crítica aos intelectuais de esquerda que consideravam a emancipação das classes desfavorecidas como uma inevitabilidade histórica. Esse ponto de vista implica a concepção do ser humano como “histórico e inacabado” e conseqüentemente sempre pronto a aprender. No caso particular dos professores, isso se reflete na necessidade de formação rigorosa e permanente. Freire dizia, numa frase famosa, que “o mundo não é, o mundo está sendo”.

Três etapas rumo à conscientização

Embora o trabalho de alfabetização de adultos desenvolvido por Paulo Freire tenha passado para a história como um “método”, a palavra não é a mais adequada para definir o trabalho do educador, cuja obra se caracteriza mais por uma reflexão sobre o significado da educação. “Toda a obra de Paulo Freire é uma concepção de educação embutida numa concepção de mundo”, diz José Eustáquio Romão. Mesmo assim, distinguem-se na teoria do educador pernambucano três momentos claros de aprendizagem. O primeiro é aquele em que o educador se inteira daquilo que o aluno conhece, não apenas para poder avançar no ensino de conteúdos mas principalmente para trazer a cultura do educando para dentro da sala de aula. O segundo momento é o de exploração das questões relativas aos temas em discussão – o que permite que o aluno construa o caminho do senso comum para uma visão crítica da realidade. Finalmente, volta-se do abstrato para o concreto, na chamada etapa de problematização: o conteúdo em questão apresenta-se “dissecado”, o que deve sugerir ações para superar impasses. Para Paulo Freire, esse procedimento serve ao objetivo final do ensino, que é a conscientização do aluno.

Biografia

Paulo Freire nasceu em 1921 em Recife, numa família de classe média. Com o agravamento da crise econômica mundial iniciada em 1929 e a morte de seu pai, quando tinha 13 anos, Freire passou a enfrentar dificuldades econômicas. Formou-se em direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional para o magistério. Suas idéias pedagógicas se formaram da observação da cultura dos alunos – em particular o uso da linguagem – e do papel elitista da escola. Em 1963, em Angicos (RN), chefiou um programa que alfabetizou 300 pessoas em um mês. No ano seguinte, o golpe militar o surpreendeu em Brasília, onde coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do presidente João Goulart. Freire passou 70 dias na prisão antes de se exilar. Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal de Educação de São Paulo. Freire foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Foi nomeado doutor honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte.

Tempos de mobilização e conflito

Aula em Angicos, em 1963: 300 pessoas alfabetizadas pelo método Paulo Freire em  um mês. Foto: acervo fotográfico dos arquivos  Paulo Freire do Instituto Paulo Freire

O ambiente político-cultural em que Paulo Freire elaborou suas idéias e começou a experimentá-las na prática foi o mesmo que formou outros intelectuais de primeira linha, como o economista Celso Furtado e o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997). Todos eles despertaram intelectualmente para o Brasil no período iniciado pela revolução de 1930 e terminado com o golpe militar de 1964. A primeira data marca a retirada de cena da oligarquia cafeeira e a segunda, uma reação de força às contradições criadas por conflitos de interesses entre grandes grupos da sociedade. Durante esse intervalo de três décadas ocorreu uma mobilização inédita dos chamados setores populares, com o apoio engajado da maior parte da intelectualidade brasileira. Especialmente importante nesse processo foi a ação de grupos da Igreja Católica, uma inspiração que já marcara Freire desde casa (por influência da mãe). O Plano Nacional de Alfabetização do governo João Goulart, assumido pelo educador, se inseria no projeto populista do presidente e encontrava no Nordeste – onde metade da população de 30 milhões era analfabeta – um cenário de organização social crescente, exemplificado pela atuação das Ligas Camponesas em favor da reforma agrária. No exílio e, depois, de volta ao Brasil, Freire faria uma reflexão crítica sobre o período, tentando incorporá-la a sua teoria pedagógica.

Para pensar

Um conceito a que Paulo Freire deu a máxima importância, e que nem sempre é abordado pelos teóricos, é o de coerência. Para ele, não é possível adotar diretrizes pedagógicas de modo conseqüente sem que elas orientem a prática, até em seus aspectos mais corriqueiros. “As qualidades e virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distância entre o que dizemos e fazemos”, escreveu o educador. “Como, na verdade, posso eu continuar falando no respeito à dignidade do educando se o ironizo, se o discrimino, se o inibo com minha arrogância?” Você, professor, tem a preocupação de agir na escola de acordo com os princípios em que acredita? E costuma analisar as próprias atitudes sob esse ponto de vista?

Quer saber mais?

Convite à Leitura de Paulo Freire, Moacir Gadotti, 176 págs., Ed. Scipione, tel. 0800-161-700, 41,90 reais
Pedagogia da Esperança – Um Reencontro com a Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire, 254 págs., Ed. Paz e Terra, tel. (11) 3337-8399, 40,50 reais
Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire, 218 págs., Ed. Paz e Terra, 35 reais

INTERNET
No site, você encontra informações sobre Paulo Freire e escritos de e sobre o educador, além de notícias de eventos e atividades relacionadas a ele

Fonte: Revista Nova Escola

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Fernando de Noronha na história/ Nome de Noronha é homenagem a português que nunca foi à ilha


Fernando de Noronha é hoje o destino dos sonhos de muita gente. Mas não foi sempre assim. Descoberta em 1503 por Américo Vespúcio – sim, o mesmo dá nome ao nosso continente – na segunda Expedição Exploradora, o lugar chamado pelo navegador de paraíso desde o primeiro momento foi entregue no ano seguinte pela Coroa, como Capitania Herediária, ao fidaldo português Fernão de Loronha, financiador da missão. Loronha – com ‘l’ mesmo – e a família nunca pisaram lá. Não sabem eles o que perderam.

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LUIZ GONZAGA – O REI DO BAIÃO



CRONOLOGIA DA VIDA DE LUIZ GONZAGA
1912
Dia 13 de dezembro, sexta-feira. Nasce LUIZ GONZAGA DO NASCIMENTO, na Fazenda Caiçara, em Exu, situada junto a Serra do Araripe, Pernambuco. Segundo dos nove filhos do casal Januário José dos Santos, o Mestre Januário, sanfoneiro de 8 baixos afamado na região, e Ana Batista de Jesus, conhecida por Santana.

1920
O filho do Mestre Januário recebe seu primeiro cachê ao tocar substituindo o sanfoneiro em festa tradicional na fazenda: 20$000 (vinte mil réis). Ainda adolescente, torna-se conhecido em boa parte das regiões vizinhas.

1926
Aos treze anos, Luiz Gonzaga compra sua primeira sanfona, na cidade de Ouricuri, graças ao empréstimo concedido pelo coronel Manoel Ayres de Alencar: um 8 Baixos, Koch, marca veado, igual ao do Mestre Januário, ao preço de 120 mil réis. Quando saldou sua dívida, anunciou ao coronel Ayres que não iria mais trabalhar com ele, pois a partir de então, seria sanfoneiro profissional.

1929
Participa de um grupo de escoteiros e conhece Nazarena, por quem se apaixona e com quem namora às escondidas. Rejeitado pelo pai da moça, de família importante, aproveita o dia da feira e vai tirar satisfações da desfeita armado com uma faquinha, após uns goles de cana. Leva uma surra de Santana e foge de casa para o Crato, no Ceará, onde vende sua sanfoninha de 8 baixos.

1930
Luiz Gonzaga aumenta sua idade para sentar praça no Exército, na cidade de Fortaleza. Com o advento da Revolução de 30 segue em missão militar pelo Brasil como soldado Nascimento. Mestre Januário consegue reaver a sanfona vendida no Crato por 80 mil réis, através de um amigo, o Sr. José Lindolfo.

1931
Após o término do tempo legal de serviço militar, o soldado Nascimento escolhe continuar servindo no Exército, instituição que representou o papel de uma grande e importante escola. Nas horas vagas acompanhava, pelos programas de rádio, os sucessos musicais da época.

1933
Por não conhecer a escala musical, é reprovado num concurso para músico numa unidade do exército, em Minas Gerais. Vira tambor-corneteiro e ganha o apelido de “bico de aço”.

1936
Gonzaga aprende a tocar sanfona de 120 baixos em Minas Gerais, com um soldado de polícia chamado Domingos Ambrósio. Para treinar, adquire uma sanfona de 48 baixos e aproveita as folgas da caserna para tocar em festas.

1938
Gonzaga é ludibriado por um caixeiro-viajante, a quem paga 500 mil réis em prestações mensais para adquirir uma sanfona branca, Honner, de 80 baixos. Foge do quartel, em Ouro Fino (MG), para ir buscar a sanfona em São Paulo. Lá chegando, descobre que não vendiam sanfona no endereço que o caixeiro lhe dera. Ao retornar ao hotel onde se hospedara, acaba comprando uma sanfona igualzinha à que tinha ido buscar, pelo valor das prestações que faltavam pagar, 700 mil réis, e que ele havia arrecadado com a venda da sanfona de 48 baixos.

1939
Luiz Gonzaga dá baixa das Forças Armadas, impulsionado por um decreto que proibia para os soldados um engajamento superior a dez anos no Exército. Desembarca no Rio com bilhetes comprados para Recife, de navio, e Exu, de trem. Enquanto aguardava a chegada do navio que o levaria ao Recife, resolve conhecer o Mangue, o bairro boêmio vizinho. E lá, com sua sanfona Honner branca, faz sucesso tocando valsas, tangos, choros, foxtrotes e outros ritmos da época. Através de um músico amigo, o baiano Xavier Pinheiro, casado com uma portuguesa, Gonzaga vai morar no morro de São Carlos, à época tranqüilo reduto português no Rio.

1940
Luiz Gonzaga modifica o seu repertório, pressionado por estudantes cearenses, e consegue tirar nota máxima no programa Calouros em desfile, de Ary Barroso, na Rádio Tupi, executando a música Vira e Mexe, um “xamego” (chorinho) lá do seu pé-de-serra. Pouco tempo depois vai trabalhar com Zé do Norte no programa A hora sertaneja, na Rádio Transmissora. Chega ao Rio seu irmão José Januário Gonzaga, fugindo da seca devastadora e trazendo um pedido de ajuda por parte de Santana. Zé Gonzaga passa a morar com o irmão.

1941
5 de março. Data da primeira participação de Luiz Gonzaga numa gravação da Victor, atuando como sanfoneiro da dupla Genésio Arruda e Januário França, na “cena cômica” A viagem de Genésio. Seu talento chama a atenção de Ernesto Augusto Matos, chefe do setor de vendas da Victor. E no dia 14 de março Luiz Gonzaga grava, assinando pela primeira vez como artista principal, e exclusivo da Victor, quatro músicas que são lançadas em dois 78 rotações. É publicada a primeira reportagem sobre Luiz Gonzaga na revista carioca Vitrine, com o título Luiz Gonzaga, o virtuoso do acordeom. Ainda em 41, Gonzaga grava mais dois 78 rotações. O sucesso havia chegado, e Gonzaga já era chamado como “o maior sanfoneiro do nordeste, e até do Brasil”.

1944
O apelido “Lua”, invenção de Dino 7 Cordas pelo rosto arredondado de Gonzaga, é divulgado pelo radialista Paulo Gracindo na Rádio Nacional.

1945
11 de abril. Luiz Gonzaga grava o 25º disco de sua carreira como sanfoneiro, e o primeiro como cantor, com as músicas Dança Mariquinha, mazurca de sua autoria com letra de Miguel Lima, e Impertinente, polca também de sua autoria, instrumental. Mas a afirmação como intérprete só chega com o 31º disco, lançado em novembro, pelo sucesso estrondoso da mazurca Cortando o pano, uma parceria com Miguel Lima e Jeová Portella. Em 22 de setembro nasce Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, Gonzaguinha, fruto de um relacionamento com a cantora Odaléia Guedes. Desejoso de encontrar o parceiro certo para expressar sua musicalidade sertaneja, Luiz Gonzaga procura o cearense Lauro Maia. Este apresenta-lhe o cunhado, também cearense, advogado e poeta, Humberto Teixeira. Era o mês de agosto. Esse primeiro encontro rendeu a primeira parceria, No meu pé de serra, xote que só seria gravado em novembro do ano seguinte.

1946
No mês de outubro o conjunto Quatro Ases e um Coringa, da Odeon, acompanhado pela sanfona de Luiz Gonzaga, grava a segunda parceria de Gonzaga e Humberto Teixeira, a música Baião, sucesso em todo país. Depois de receber a visita de Santana, Gonzaga volta à sua terra, Exu, após 16 anos ausente. No retorno para o Rio, passa pela primeira vez no Recife, participando de vários programas de rádio e muitas festas. Nesse momento conhece Sivuca, Nelson Ferreira, Capiba e Zédantas, estudante de medicina, músico por vocação, apaixonado pela cultura nordestina.

1947
Luiz Gonzaga grava em março o 78 rpm que se tornaria um clássico da música brasileira: a toada Asa Branca, sua terceira parceria com Humberto Teixeira, inspirado no repertório de tradição oral nordestino. A partir desse ano, Luiz Gonzaga adota o chapéu de couro semelhante ao usado por Lampião, a quem tinha verdadeira admiração, à sua apresentação artística, – embora a Rádio Nacional ainda não o permitisse apresentar-se ‘como cangaceiro’ nos seus programas – assumindo, ao mesmo tempo em que também plasmava, a identidade nordestina no cenário nacional. Num domingo de julho, Gonzaga conhece na Rádio Nacional, a contadora Helena das Neves Cavalcanti, e a contrata para ser sua secretária. Rapidamente o namoro acontece, e Gonzaga pensa em casar.

1948
No dia 16 de junho Luiz Gonzaga e Helena casam-se no Rio de Janeiro, e passam a morar, juntamente com a mãe de Helena, dona Marieta, no bairro de Cachambi.

1949
Aproveitando uma folga entre as gravações, Luiz Gonzaga leva a esposa e sogra para conhecerem o Araripe, e sua terra Exu. Porém, interrompem a viagem quando estavam no Crato, por causa das desavenças e mortes entre os Sampaio e os Alencar. A grande violência que marcava a disputa entre os clãs rivais ameaçava sua família, ligada aos Alencar. Preocupado, Gonzaga aluga uma casa no Crato, para onde leva seus pais e irmãos, enquanto preparava a mudança de sua família para o Rio de Janeiro, o que ocorreu ainda em 49.

1950
Em janeiro, o médico formando Zédantas chega ao Rio, a fim de prestar residência no Hospital dos Servidores, para alegria de Gonzaga, que vai esperá -lo na plataforma da estação de trem. Nesse ano, Luiz Gonzaga lançou, gravando ou cedendo para outros intérpretes, mais de vinte músicas inéditas, a maioria parcerias com Humberto Teixeira e Zédantas que se tornariam clássicos da MPB. Em junho lança a música A dança da moda, parceria com Zédantas que retratava a febre nacional pelo baião.

1951
Luiz Gonzaga já era o consagrado ‘Rei do Baião’, e o advogado Humberto Teixeira o ‘Doutor do Baião’! Em maio Luiz Gonzaga sofre um grave acidente de carro, junto com seus músicos: João André Gomes, apelidado Catamilho, do zabumba, e Zequinha, do triângulo. Humberto Teixeira candidata-se a Deputado Federal, e recebe o apoio do parceiro. Durante todo o ano de 51 Gonzaga foi convidado permanente da série No Mundo do Baião, produzido por Zédantas, parte das atrações do Departamento de Música Brasileira da Rádio Nacional, cuja direção era de Humberto Teixeira. Gonzaga havia aproximado os dois parceiros, mas essa convivência era difícil e durou pouco tempo. Foi No Mundo do Baião que Luiz Gonzaga coroou, com chapéu de couro, Carmélia Alves como Rainha do Baião. Ela interpretava o baião com acompanhamento de orquestra, e levava a música do Rei para as boates e ambientes da elite. Luiz Gonzaga e Helena adotam uma menina: Rosa Maria.

1952
Outubro de 1952, data do 71º disco da carreira de Gonzaga, o último 78 rpm com Humberto Teixeira, músicas já lançadas em anos anteriores. Hervê Cordovil é apresentado à Gonzaga por Carmélia Alves, e tornam-se parceiros.

1953
Catamilho é afastado por Gonzaga do seu conjunto, e Zequinha o acompanha. Gonzaga contrata Jurai Nunes, o Cacau, para tocar zabumba, e Oswaldo Nunes Pereira, o Xaxado para o triângulo. Mais tarde, por causa de sua baixa estatura, Xaxado seria apelidado de Salário Mínimo.

1954
Luiz Gonzaga conhece Neném, mais tarde Dominguinhos, aos 14 anos, na cidade de Garanhuns. Nesse mesmo ano seu primo, o vaqueiro Raimundo Jacó, é assassinado na região do Araripe.

1955
1955 Luiz Gonzaga apresenta o trio formado por Marinês, Abdias e Chiquinho, que ficou conhecido como Patrulha de Choque Luiz Gonzaga.

1956
Marinês é coroada Rainha do Xaxado na Rádio Mayrink Veiga. A cantora japonesa Keiko Ikuta grava as músicas Baião de Dois e Paraíba.

1960
11 de junho: morre Santana, vitimada pela doença de Chagas, no Rio de Janeiro. 05 de novembro: Januário, aos 71 anos, casa-se com Maria Raimunda de Jesus, 32 anos, no Exu. Gonzaga participa, gratuitamente, da campanha de Jânio Quadros à Presidência da República.

1961
Gonzaguinha vai morar com o pai em Cocotá, Rio de Janeiro. Luiz Gonzaga torna-se maçom, e sofre outro acidente de carro que lhe desfigura o lado direito do rosto, ferindo gravemente o seu olho.

1962
11 de março: morre Zédantas, aos 41 anos. Luiz Gonzaga conhece João Silva.

1963
Luiz Gonzaga teve sua sanfona Universal, preta, roubada. Antenógenes Silva, seu amigo e afinador, lhe empresta uma sanfona branca. A partir de então, adota a cor branca para suas sanfonas, e a inscrição “É do povo” em todos os seus instrumentos. Luiz Gonzaga conhece o poeta cearense Patativa do Assaré.

1964
Gonzaga compra terrenos em Exu, onde irá construir o Parque Aza Branca.

1968
Carlos Imperial, apresentador de programas de rádio e televisão, espalha o boato de que The Beatles gravara a toada Asa Branca. Luiz Gonzaga conhece Edelzuíta Rabelo, advogada, numa festa junina em Caruaru.

1971
A Missa do Vaqueiro é celebrada pela primeira vez, em memória de Raimundo Jacó. Desde então passa a ser anualmente celebrada, tornando-se evento tradicional em Pernambuco.

1972
Gonzaga apresenta o espetáculo Luiz Gonzaga volta para curtir, no Teatro Tereza Rachel, no Rio, produzido por Capinam, para uma platéia formada maciçamente por estudantes. Nesse ano, rompe o contrato de 32 anos com a RCA.

1973
Gonzaga é levado para a EMI-Odeon por Fernando Lobo, onde permanece por dois anos. Recebe o título de Cidadão Paulista, e inicia a reforma dos imóveis que havia comprado na entrada da cidade de Exu.

1975
Luiz Gonzaga reencontra Edelzuíta, o grande amor da fase final de sua vida.

1976
Luiz Gonzaga assina novamente contrato com a RCA Victor.

1978
11 de junho: morre o Mestre Januário.

1979
No mês de outubro morre Humberto Teixeira.

1980
Luiz Gonzaga canta para o Papa João Paulo II na capital cearense. Inicia, em parceria com Gonzaguinha, a turnê do show Vida do Viajante, que percorre várias cidades brasileiras, estendendo-se até o ano seguinte, quando é lançado o álbum duplo da gravação do show, ao vivo.

1982
Luiz Gonzaga viaja para Paris, onde se apresenta na casa de espetáculos Bobino, na noite de 16 de maio, a convite da cantora amazonense Nazaré Pereira. A partir desse ano, Luiz Gonzaga passa a assinar como Gonzagão quase todos os seus disco, forma como havia sido chamado por ocasião de sua turnê com Gonzaguinha.

1984
Gonzaga recebe o primeiro disco de Ouro com o LP Danado de Bom, no qual tinha João Silva por principal parceiro, e que receberia um segundo Disco de Ouro em seguida. João Silva seria seu grande parceiro, a partir de então. Morre Jackson do Pandeiro. Gonzaga recebe o Prêmio Shell.

1985
Gonzaga recebe o prêmio Nipper de Ouro, homenagem internacional da RCA a um artista de seu quadro. Luiz Gonzaga recebe dois discos de ouro para o LP Sanfoneiro Macho.

1986
Luiz Gonzaga participa do festival de música brasileira na França, Couleurs Brésil, evento que inaugura o programa dos anos Brasil-França 86-88. O Rei do Baião apresentou-se na Grande Halle de La Villette no show de encerramento, junto com outros artistas brasileiros, para um público aproximado de 15 mil pessoas. O LP Forró de Cabo a Rabo, deu a Luiz Gonzaga dois discos de ouro e um de platina.

1988
Em junho pede o desquite, separa-se de Helena, e assume o relacionamento com Edelzuíta Rabelo. Neste ano também desliga-se definitivamente da RCA.

1989
Luiz Gonzaga grava pela Copacabana Records seus últimos discos. 21 de junho: é internado no Hospital Santa Joana, no Recife. 02 de agosto: morre Luiz Gonzaga, aos 76 anos de idade.

Fonte: Memorial Luiz Gonzaga

ACESSE MEMORIAL LUIZ GONZAGA CLICANDO AQUI.

Destaque

O NAZISMO EM PERNAMBUCO


A ligação com a família Lundgren.
“Não somos nazistas”
Por Suetoni Souto Maior
Descendentes da família Lundgren, que construiu um império econômico, negam ligação com nazismo

Entrevista com o empresário

Primos Lundgren abriram o casarão para contar a história da família e negar relação com o Partido Nazista. Passados 66 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, são quase inevitáveis
as referências à família Lundgren, uma das mais poderosas do Brasil no século
XX, sem que alguém lembre a proximidade dela com os alemães e, em alguns
casos, façam referências a uma suposta ligação do clã com o nazismo. Uma pecha
combatida sem trégua pelos descendentes, mas que ganhou força, recentemente,
com a abertura dos arquivos da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops). As
referências, é fácil imaginar o porquê, são odiadas pela família.

“Os Lundgren não são, nunca foram e nunca serão simpáticos ao nazismo”,
garantem dois representantes da terceira geração da família de origem sueca
e dinamarquesa, radicada no Brasil, Nilson Nogueira Lundgren, 74, e Albenita
Lundgren Illi, 73. O objetivo deles é pôr fim a uma acusação que se arrastou ao
longo de praticamente todo o século passado e que ganhou fôlego em referências
feitas através de prontuários e fotos arquivadas pelo Dops.

Os documentos, fruto da espionagem feita pelo temido serviço secreto brasileiro
durante a Era Vargas (1930-1945), trazem relatos sobre reuniões do Partido Nazista em Pernambuco a partir de 1932 e que ocorreram com regularidade até 1938. O roteiro de encontros, segundo o Dops, incluía as instalações da Companhia de Tecidos Paulista e a própria casa grande, pertencentes à família. Uma informação negada veementemente pelos Lundgren.

“Olhei as fotografias. Desafio qualquer um a percorrer todos os cômodos dessa
casa e provar que aqui existe esse piso”, disse de forma enfática Nilson Lundgren,
apontando para reportagem publicada no Diario de Pernambuco, no dia 10 de julho, ilustrada com a foto de uma reunião do Partido Nazista, que teria ocorrido na casa grande, residência oficial da família. Uma informação tratada como errônea pela família.

O envolvimento com o nazismo é contestado pelos Lundgren, que se referem à
relação com os alemães apenas como o trato entre empregadores e empregados.
A informação, inclusive, conta com uma concordância do diretor do Arquivo Público
do estado, Paulo Moura. Ele assegura, no entanto, com base nos arquivos do Dops, que apesar de não haver registros sobre a participação da família nas reuniões, elas corriam, sim, em Paulista.

Os prontuários do Dops, pontua Moura, revelam que a fotografia da reunião do Partido Nazista, publicada pelo Diario, teria sido feita no escritório da Fábrica de
Tecidos Paulista. Uma informação contestada por Nilson Lundgren. “Não conheço,
mas arriscaria dizer que essa foto foi feita no consulado alemão. Não temos esse
piso por aqui”, enfatizou, sem fazer referência à arquitetura germânica também presente no casarão.

Na verdade, a relação dos Lundgren com os alemães é bastante antiga e remonta
à chegada do patriarca da família, Herman Theodor Lundgren, ao Recife, em 1852.
Fluente em quatro idiomas (sueco, inglês e alemão) e já dominando o português,
ele logo tornou-se cônsul dos países nórdicos em Pernambuco. Daí, fundou um
Ship Chandlers (abastecedora de navios) e, com isso, deu início à construção do
império da família no Brasil.

Um sucesso que teve seu maior impulso com a construção de uma fábrica
de pólvora, ainda no século XIX, a primeira da América Latina e que surgiu
da sociedade com um alemão. De terras germânicas vieram o maquinário e o
conhecimento técnico para o projeto. “A Alemanha era a maior potência do mundo.
Tudo o que era maquinário vinha de lá”, lembrou Nilson Lundgren, ao falar da
Pernambuco Powder Factory.

A afinidade com os alemães não acabou por aí. Com a morte de Herman, em
1907, Frederico João Lundgren assumiu os negócios da família e deu início, em
1908, ao plano para criar, a partir de Pernambuco, o maior grupo fabril da América
Latina. E tudo começou com a compra da Companhia de Tecidos Paulista, na
cidade que deu nome à fábrica. O plano, para sair do papel, exigia três coisas:
dinheiro, maquinário e mão de obra altamente especializada.

O dinheiro para financiar o projeto veio do Bank of London and South America. Já
o maquinário e a mão de obra vieram da Alemanha. Eram engenheiros, mecânicos, operadores de caldeira, etc. Eles montaram as máquinas, construíram as fábricas de Paulista, em Pernambuco, e Rio Tinto, na Paraíba. Depois ficaram para manter a operação. Uma imigração incrementada após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra, que deixou a economia do país destruída.

O número de alemães trabalhando na fábrica era pequeno dentro do universo
de 30 mil operários das duas unidades fabris. Girava em torno de 100, todos em
funções técnicas. Eles, inclusive, tinham participação ativa na sociedade. Os cargos
de direção ficavam com os ingleses. O presidente da companhia, após a sua
fundação, era inglês. “Era mister Donald Valentine”, lembra Nilson. Havia também
cerca de 100 britânicos na empresa. Apesar da paridade entre alemães e britânicos nas fábricas, por causa do nazismo e da entrada do Brasil na Segunda Guerra, a presença alemã passou a ser vista com desconfiança. E sua imagem ligada aos Lundgren. Inclusive com muita carga negativa. “Ainda hoje somos abordados por pessoas que nos dizem: ‘Ah! Você é Lundgren. Sua família é alemã?’ Aí digo: de alemã eu não tenho nada. A origem da minha família é de suecos e dinamarqueses. Falo alemão porque meu marido é suíço. Só isso”, enfatizou Albenita Lundgren.

Saiba mais

Companhia de Tecidos Paulista

Hierarquia na fábrica

Ingleses cargos de direção

Alemães cargos técnicos

Italianos área comercial

Portugueses área comercial

Brasileiros áreas menos especializadas

Total de empregados

15 mil Paulista (PE)

15 mil Rio Tinto (PB)

Outros números

200 km de ferrovia própria

20 mil hectares para o plantio de 150 milhões de pés de eucaliptos usados para gerar energia nas caldeiras

6 milhões de metros de tecido por mês eram produzidos
na fábrica

CLIQUE AQUI E SAIBA MAIS.

Fonte: Diário de PE.

Destaque

HISTÓRIA DO BRASIL EM FILMES PELA INTERNET



O Instituto Claro, em parceria com a Conspiração Filmes, apoia a série “Histórias do Brasil”, que mostra fatos importantes do país nos últimos cinco séculos a partir de uma mescla de dramaturgia e documentário. Unindo cenas de ficção a entrevistas com alguns dos maiores estudiosos da vida brasileira, o projeto reconta passagens da trajetória dos brasileiros através dos hábitos, costumes e “pequenas histórias” dos cidadãos de cada época retratada.

Clique aqui para ver.

Destaque

OS CÃES TAMBÉM TÊM HISTÓRIA



O melhor amigo
Companheiros há cerca de 13 mil anos, os cães ganharam centenas de formatos
por Tiago Cordeiro

Há 135 mil anos, alguns lobos cinzentos do leste asiático ganhavam características diferentes. Logo eles passariam a acompanhar os hominídeos, ajudando-os na busca de alimentos – e, claro, deliciando-se com as sobras. Com o passar do tempo, no entanto, os cães foram totalmente integrados à rotina humana. De acordo com estimativas mais conservadoras, há 13 mil anos (no mínimo) eles estão completamente domesticados. “A parceria entre seres humanos e cães é uma das mais bem-sucedidas da natureza. É algo extremamente vantajoso para ambos”, diz a pesquisadora americana Karen Overall, do Centro de Neurologia e Comportamento da Universidade da Pensilvânia.

Os cachorros acompanharam a humanidade desde as primeiras viagens exploratórias – há quem diga que a travessia pelo estreito de Bering (entre Ásia e América) só foi possível com o suporte deles. São caçadores, protetores e policiais. Ao longo do tempo, desenvolveram a capacidade de se moldar às necessidades do amigo bípede. “Nenhum outro mamífero existe com tal variação de cores, tamanhos, pesos e tipos de pelo”, afirma Adam Miklosi, chefe do departamento de Etologia da Universidade Eötvös, na Hungria. São 701 diferentes linhagens (o termo “raças” é incorreto). E o futuro promete que esse número se multiplique exponencialmente.

Para todos os gostos
As principais linhagens e a época em que elas surgiram

5000 a.C. – Força e rapidez
Existem alguns candidatos a primeiro tipo de cão conhecido. O mais forte deles é uma versão do greyhound. Variedades desse animal forte e rápido (corre até 65 km/h) foram localizadas no Egito antigo, no Oriente Médio e no atual Afeganistão.

4000 a.C. – Apoio e comida
Na China, o chow chow é companheiro nas caçadas e o sharpei é colocado em rinhas de luta – ambos também vão para o prato (hoje, de 11 milhões a 13 milhões são consumidos na Ásia por ano). Cerca de 2 mil anos depois surgiriam os pequineses.

3500 a.C. – Nobreza árabe
Cerâmicas do Irã documentam a existência do saluki – cuja imagem está presente em tumbas egípcias de 2100 a.C. Seu porte nobre e sua agilidade na caça conquistaram povos avessos ao animal, como os árabes. Na Índia, os saluki deram origem aos kanni.

1000 a.C. – Companhia no gelo
Fundamentais para os primeiros moradores da região gelada da Sibéria, os huskies siberianos são uma das poucas linhagens ligadas diretamente aos mais antigos antepassados. O nome vem de “eskie”, como eram chamados pelos inuits, tribo que habitava a região.

800 a.C. – Moradores de mosteiros
No Tibete, os lhasa apso eram usados como cães de guarda dos monges. Séculos depois, viajantes europeus encontrariam outra linhagem, que batizaram de “terrier tibetano” – ele não é um terrier, mas uma linhagem que remonta aos antepassados da raça.

Século 4 a.C. – Latidos mitológicos
A mitologia grega fala de Cérbero, o cão infernal de três cabeças. Homero cita Argus em sua Odisseia. Os gregos são considerados os primeiros povos ocidentais a tratar os cachorros como parte da família. Platão dizia que o seu era um “amante do aprendizado”. Os cães antigos da Grécia dão origem ao atual mastim espanhol.

Século 1 – No pastoreio
As legiões romanas usavam o rottweiler no pastoreio. Em viagens para os recantos da Europa, também descobriram as variedades de hounds e mastifes dos britânicos. Essas linhagens dariam origem a várias outras conhecidas. Dos hounds, por exemplo, saem os beagles.

1000 – Linhagens nobres
Os reis do fim da Idade Média valorizam as raças consideradas puras, cujo cruzamento é estritamente controlado. Os bloodhounds (nome que vem de “sangue puro”) ganham coleiras de ouro. Misturados ao mastife e ao antigo buldogue, eles iriam gerar o fila brasileiro.

1880 – Bom companheiro
O labrador começou a surgir no Canadá, na província que ganharia o nome da linhagem. Era uma mistura de cães de origem europeia, incluindo o mastim. Um dos cachorros foi levado à Inglaterra, onde nobres ingleses continuaram fazendo cruzamentos até chegar a esse animal dócil.

1890 – Cão de guarda
O alemão Karl Friedrich Dobermann (1834-1894) tinha um emprego perigoso (coletar impostos) e queria um animal que o defendesse. Ele cruzou pelo menos quatro raças para gerar o dobermann, uma versão gigante do pincher – que existe desde pelo menos o século 15.

1899 – Sob medida
A fim de gerar e identificar novas linhagens, a Sociedade Phylax busca novas espécies para isolar e reproduzir. Um de seus líderes, Max von Stephanitz (1864-1936), anuncia a descoberta mais famosa do grupo: o pastor alemão, criado a partir da mistura de diferentes animais.

2010 – Sem limite
Fazendeiros norte-americanos fazem cruzamentos para criar (e vender) novas raças. A atividade deu origem a labradoodles (labrador com poodle) e cookerpoos (cocker spaniel americano com poodle miniatura).

Destaque

A ANOREXIA NA HISTÓRIA



Anorexia
Anorexia: A magreza já foi santa
Se hoje as mulheres param de comer para atingir um padrão de beleza, na Idade Média as anoréxicas procuravam a comunhão com Deus
por Álvaro Oppermann
A adolescente italiana Catarina Benincasa, filha de um artesão da Toscana, não conseguia mais comer. Magérrima e extremamente pálida, ingeria por dia um pedaço de pão com ervas cruas. Às vezes, o estômago não suportava nem esse pouco e ela vomitava. Catarina não era obcecada por um corpo esbelto. Longe disso – estava se lixando para a beleza física. Mais tarde, ficou conhecida como Santa Catarina de Sena (1347-1380). E virou uma das jejuadoras mais ilustres da história.
Por toda a Idade Média, centenas de moças, como Catarina, deixaram de comer para sofrer como Jesus Cristo. Caso, por exemplo, das mulheres que ficaram conhecidas como Santa Clara de Assis (1193-1253) e Santa Rosa de Lima (1586-1617), esta última peruana. Só assim acreditavam entrar em comunhão com Deus.
Hoje, historiadores denominam esse tipo de comportamento de “anorexia santa”, que tem sintomas parecidos com os da moderna anorexia nervosa. A doença, atualmente, é considerada um transtorno do comportamento alimentar que se caracteriza por uma grave restrição de ingestão de alimentos, pela busca incessante da magreza, distorção da imagem corporal (a pessoa acha todo mundo magro, menos ela), medo mórbido de engordar e ausência de fluxo menstrual. “Através dos séculos, os médicos depararam com sinais e sintomas similares, mas suas interpretações foram coloridas pelas crenças da sociedade em que viveram”, diz o médico inglês J.M. Lacey, autor de um artigo sobre o tema para o British Medical Journal.
O hábito de jejuar existe na história ocidental desde pelo menos o Egito antigo. Lá, quem quisesse ser iniciado nos mistérios dos deuses Ísis e Osíris tinha de passar antes uns bons dias sem comer. A Bíblia está repleta de casos de jejuns voluntários, praticados, por exemplo, por Moisés e Jesus Cristo. Até no Oriente, reza a lenda que Sidharta Gautama, o Buda histórico, jejuou intensamente antes de atingir a iluminação. Mesmo quem desconhecia o jejum para fins místicos, como os gregos, o adotavam: Hipócrates (460-370 a.C.) o receitava como tratamento de doenças.
Segundo a psicanalista Cybelle Weinberg e o psiquiatra Táki Cordás, autores do livro Do Altar às Passarelas – Da Anorexia Santa à Anorexia Nervosa, depois da Idade Média a Igreja começou a ver com maus olhos os casos das santas jejuadoras – poderia ser possessão diabólica, e não santidade – e o hábito caiu em desuso. Nos conventos, bem entendido, porque o jejum migrou para as feiras populares. No século 17, várias moças que, garantia-se, passavam semanas sem comer, se apresentavam para o povão. Eram as “virgens jejuadoras”. Uma delas, a inglesa Martha Taylor, de 19 anos, dizia ter jejuado por 13 meses. No século 19, outra virgem, Sara Jacobs, teve um fim trágico. Aos 10 anos, foi posta pelos pais como atração de circo nos Estados Unidos, mas acabou morrendo aos 12 de inanição. Os pais de Sara, considerados culpados de negligência, foram condenados a trabalhos forçados.

Greve de fome
Conheça algumas mulheres famosas que tiveram a doença
Santa Vilgefortis (século 8)
Diz a tradição que, quando o pai a prometeu em casamento para um nobre dissoluto, a portuguesa Vilgefortis – que queria entrar para o convento – fez um jejum rigoroso. Pediu também para Deus que a enfeasse. Dito e feito. Pêlos teriam começado a crescer em seu corpo cadavérico. O nobre, assustado, pulou fora.
Santa Clara de Assis (1193-1253)
A italiana não comia nada durante três dias da semana. Nos outros, passava quase sempre a pão e água. Para as irmãs da sua ordem, porém, recomendava moderação.
Santa Rosa de Lima (1586-1617)
A peruana comia apenas três dias por semana. O cardápio nunca mudava: batatas com ervas amargas.
Santa Verônica Giuliani (1660-1727)
Na sexta-feira, esta italiana só comia cinco sementes de laranja, em memória às cinco chagas de Cristo.
Sara Jacobs (1857-1869)
A irlandesa começou a jejuar cedo. Virou atração de circo, mas morreu aos 12 anos de inanição.
Santa Catarina de Sena (1347-1380)
Também italiana, a moça, além dos jejuns rigorosos que fazia, só dormia uma hora a cada dois dias.
Mary Stuart (1542-1587)
Herdeira do trono inglês, suspeita-se que teve anorexia – mas morreu executada, a mando da rainha Elizabeth I.
Katherine Anne Porter (1890-1980)
Escritora americana anoréxica, foi a primeira a tratar do tema na ficção, no romance Old Mortality, de 1937.
Juliette Greco (1927)
A cantora francesa teve anorexia – dizem que após o jazzista Miles Davis acabar um romance com ela, em 1949.
Jane Fonda (1937)
A atriz americana lutou contra a anorexia dos 15 aos 40 anos.
Sally Field (1946)
Quando a americana fazia A Noviça Voadora, nos anos 60, pesava 45 quilos para 1,70 metro.
Karen Carpenter (1950-1983)
A americana da dupla pop The Carpenters era gordinha na infância e ficou obcecada com a magreza ao se tornar famosa. Morreu em 1983, de anorexia.
Diana Spencer (1961-1997)
A princesa de Gales confessou que teve anorexia e bulimia (comia e provocava o vômito).
Victoria Désirée Bernadotte (1977)
A princesa é filha do rei Gustaf da Suécia e da rainha brasileira Silvia. Em 1997, veio à tona o seu distúrbio alimentar.
Keira Knightley (1985)
A atriz inglesa, do filme Piratas do Caribe, teve avó e a bisavó anoréxicas. Ela garante que não é…
Ana Carolina Reston (1985-2006)
A modelo Ana Carolina Reston Macan morreu em novembro do ano passado por causa de problemas decorrentes da anorexia. Ela tinha 19 anos e pesava 42 quilos – e reacendeu a polêmica da ditadura da magreza.

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HISTÓRIA DAS COPAS DO MUNDO



PROMETI PARA ALGUNS ALUNOS, DISPONIBILIZAR INFORMAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DAS COPAS DO MUNDO E ENCONTREI UM SITE DE DOCUMENTÁRIOS CONFIÁVEL ( BBC DE LONDRES ), QUE É UM DOS MAIORES E MELHORES DO MUNDO NO RAMO.

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DURANTE A COPA, PUBLICAREI HISTÓRIAS E CURIOSIDADES SOBRE ALGUNS PAÍSES E POVOS ENVOLVIDOS, NO MAIOR EVENTO FUTEBOLÍSTICO DA TERRA.

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HIPÁCIA, MORTA POR INTOLERÂNCIA



Em época de Páscoa (passagem), é sempre bom lembrar que a arrogância e a intolerância religiosa negam historicamente o sacrifício de Jesus. Um desses momentos se deu em Alexandria (Egito), num mês de março, no ano de 415.

Uma mulher foi arrastada pelas ruas, despida, descarnada dentro de uma igreja e seus membros foram arrancados e queimados por ser pagã. Ou melhor, por não ser Cristã. Hipácia é o nome desta filósofa, matemática, professora, conselheira política e belíssima mulher. Que certamente não foi morta apenas por questões religiosas, mas também por questões políticas e ser uma mulher que se destacava num mundo controlado pelo masculino.

Clicando aqui, o leitor/ra será conduzido/a a uma página que tratará do assunto com bastante propriedade.

Boa leitura!

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Joaquim José, o Tiradentes



Herói, idealista e líder que demonstrou caráter ímpar em face do julgamento e da morte, ou simples figurante numa conspiração de ricos e poderosos?
por F. G. Yazbeck
Manhã de 21 de abril de 1792. O condenado é conduzido pelas ruas do Rio de Janeiro, cercado pela tropa, desde a prisão até o patíbulo instalado no largo da Lampadosa. A cabeça e a barba raspadas, coberto por uma túnica grosseira e portando um crucifixo, sobe calmamente os degraus, acompanhado do frei encarregado de lhe dar o amparo de orações na hora da morte. A multidão reunida assiste a tudo consternada. Ao atingir o patamar, o homem dirige-se ao carrasco e pede-lhe que abrevie seu sofrimento, ao que este responde pedindo perdão, pois apenas cumpria o que mandava a lei. Tão logo o corpo ainda vivo do Tiradentes projetou-se no espaço vazio, o carrasco Capitania jogou-se sobre seus ombros, firmando-se na corda e forçando seu peso sobre o do enforcado para apressar sua morte.

Cumpria-se assim a sentença pronunciada três dias antes, que condenava o réu “a com baraço e pregão ser conduzido pelas ruas publicas ao lugar da forca e nella morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Villa Rica aonde em lugar mais publico della será pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes pelo caminho de Minas” (sic).

SAIBA MAIS. CLIQUE.

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O JESUS HISTÓRICO



Estamos bem próximos da Semana Santa e tantas “vias crucis” serão realizadas pelo mundo afora. E tantas opiniões e polêmicas devem circular acerca deste homem (?) e ou mito (?) chamado Jesus Cristo, cuja história comove milhões.
O Mania de História para não ficar de fora desta polêmica boa, deixamos o link abaixo para os curiosos e insatisfeitos de plantão darem uma pesquisada e quem sabe, chegarem a alguma conclusão.
Boa Leitura!

CLIQUE AQUI.

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BREVE HISTÓRIA DO CARNAVAL DE PERNAMBUCO



A História do Carnaval
de Pernambuco, Brasil.

A História do Carnaval

Os festejos carnavalescos foram trazidos pelos portugueses com o nome de entrudo. Era uma brincadeira violenta, onde os foliões lançavam farinha, tinturas e até água suja. Foi proibida oficialmente e aos poucos as batalhas passaram a usar confete e serpentina.

No século XIX, surgem o frevo e o passo, dando ao carnaval de Pernambuco uma identidade única no Brasil. A partir de então, operários urbanos organizaram as primeiras agremiações nos bairros populares.

No início, muitas corporações mantiveram identidade profissional: os caiadores desfilavam juntos, assim como os lenhadores. Mas, com o tempo, foram sendo criados clubes mais abertos, com nomes engraçados: Canequinhas Japonesas, Marujos do Ocidente, Toureiros de Santo Antonio.

Ao lado dos maracatus, dos ursos, dos caboclinhos, das escolas de samba, estes clubes, troças e blocos, unindo as influências européias, africanas e indígenas, transformaram o carnaval de Pernambuco no maior caldeirão cultural do Brasil.

Para saber mais da História do Carnaval

A palavra carnaval deriva do latim carnem levare (abstenção da carne) – pois a festa sempre foi comemorada no período que antecede a quaresma, quando se praticava a abstinência da carne. Como diversão popular, o carnaval assume as peculiaridades dos lugares onde ocorre. Todos os carnavais são reminiscências das festas dionisíacas da Grécia Antiga, das bacanais de Roma e dos bailes de máscara do Renascimento.

Se você quer saber mais sobre o Carnaval de Pernambuco, visite a Casa do Carnaval. Ela fica no Pátio de São Pedro, casa 52, bairro de São José, e possui um belo acervo de máscaras, estandartes, roupas de antigas agremiações, além de documentos e mais de mil partituras carnavalescas. Os telefones são: 0055 – 081 – 3424.4942 e 0055 – 081 – 3424.1561.

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A FORÇA DOS NATIVOS



O retorno dos incas

Depois de quase cinco séculos, os índios voltam a ganhar espaço na vida política da América Latina
por Fred Linardi

No ano 1533, o assassinato do rei Atahualpa marcou a queda do Império Inca, que havia surgido no século 13 e rapidamente alcançado o posto de maior território unificado da América pré-colombiana, com 1,8 milhão de quilômetros quadrados de extensão. Depois que os espanhóis dominaram a região, passaram-se quase 500 anos sem que os nativos tivessem espaço na política da América Latina. E, de fato, ainda hoje vários países de grande população indígena têm poucos representantes no governo – entre eles, o Peru, onde fica Cuzco, a antiga capital dos incas. Nos últimos anos, essa situação começou a mudar, pelo menos em um local: a Bolívia.

“Antes, os indígenas bolivianos só trabalhavam como carregadores em supermecados ou como empregados domésticos. Agora é possível encontrá-los diante de uma mesa de escritório”, afirma Vivian Urquidi, professora do Observatório de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo. Essas alterações começaram em outubro de 2005, quando o descendente de índios Evo Morales foi eleito presidente. Além de declarar como oficiais as 36 línguas faladas em território nacional, ele levou os nativos a cargos políticos de grande responsabilidade. A ministra da Justiça, Casimira Rodríguez, que era líder sindical da etnia quíchua, é um desses casos. A vereadora Gumercinda Quisbert, o ministro da Água, Abel Mamani, e o deputado Ricardo Díaz são outros nomes locais situados em importantes gabinetes.

Mas não é só a eleição de Morales que explica essa mudança. “O contingente indígena da Bolívia é bem mais politizado que em outros países vizinhos. Há décadas essas pessoas se organizam em sindicatos”, diz a professora Vivian. Desde que o país se tornou uma república independente, em 1825, a população índia, que hoje soma 85% do total, organiza protestos contra a política de distribuição de terras, que, segundo os manifestantes, é discriminatória. Em meados do século 20, os nativos chegaram a ocupar o poder por poucos anos. Foi em 1952, quando uma revolução levou o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) ao governo. O grupo nacionalizou as minas bolivianas, iniciou uma reforma agrária e instituiu o voto universal – até então, mulheres e índios não votavam. Também nessa época surgiram os movimentos campesinos, formados por plantadores de coca, uma planta muito consumida por etnias locais, que a usam para fazer chá ou mastigar sua folha. A grande importância cultural dos “cocaleros” deu força política à Federação do Trópico de Cochabamba. Em 1997, a entidade levou seu presidente, Morales, a conquistar uma vaga no Congresso. Como mandatário do país, em 2007 ele elaborou uma nova Constituição. Entre as leis que encontram mais resistência estão a que obriga todo presidente boliviano a falar pelo menos um dialeto indígena e a que cria tribunais locais com juízes nascidos na região onde atuam. A Carta precisa ser aprovada em plebiscito.

FORÇA NATIVA
A situação dos índios no continente

EQUADOR
População indígena: 25%
Situação: Lideram uma grande entidade social, a “Confederación de Nacionalidades Indígenas del Ecuador”. Em 1990, paralisaram o país com confllitos por terra. Em 1997, ajudaram a derrubar o presidente Abdalá Bucaram

PERU
População indígena: 40%
Situação: Na terra de Cuzco e Machu Picchu, os poucos índios que alcançam cargos políticos evitam assumir publicamente a condição de mestiços

CHILE
População indígena: 5%
Situação: No início deste ano, o assassinato de um estudante de ascendência mapuche causou forte pressão contra o governo, que reagiu criando às pressas uma coordenadoria de políticas indígenas.

GUATEMALA
População indígena: 40%
Situação: Depois de forte repressão nos anos 70 e 80, hoje o país conta com quase 20 deputados indígenas e uma ministra descendente de maias.

BRASIL
População indígena: 0,2%
Situação: Em 2005, o índio José Nunes se tornou o primeiro prefeito a governar um município brasileiro. O local é São João das Missões, aldeia ao norte de Minas Gerais, que também passou a ter dois vereadores descendentes.

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CARLOS MARIGHELLA


Este homem não pode cair no esquecimento.
Nas escolas praticamente não se ouve falar dele. Saiba que este Brasileiro morreu pelo seu País, e principalmente por uma causa ainda maior, pela emancipação do nosso povo.
clique aqui e saiba tudo sobre a vida e a obra de Carlos Marighella.
mariguella

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2009: O ANO DA FRANÇA NO BRASIL


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Como a França moldou o Brasil

Apesar do fracasso em ocupar o território da antiga colônia portuguesa, os franceses exerceram uma influência decisiva na formação brasileira

por Laurentino Gomes

Este é o Ano da França no Brasil. De 21 de abril até novembro, brasileiros de 15 cidades poderão ver o que os franceses têm de melhor. A lista inclui exposições de arte, concertos musicais, espetáculos de dança, teatro e cinema, debates e celebrações. É parte de um projeto ambicioso de intercâmbio, que começou em 2005, comemorado como o Ano do Brasil na França, com o objetivo de mostrar as novidades da cultura dos dois países.

Essa história é bem mais antiga do que se imagina. Envolve uma relação de confronto e sedução de parte a parte, que acabaria por moldar de forma decisiva a identidade brasileira. Nos bistrôs e cafés parisienses, a música brasileira é onipresente. Os franceses adoram o samba, o carnaval, a literatura e o cinema brasileiros. O escritor Paulo Coelho é mais celebridade nas ruas de Paris que no Rio de Janeiro. Mas a França já era obcecada pelo Brasil antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral à Bahia. A recíproca se provaria verdadeira ao longo dos cinco séculos seguintes. Atualmente, os brasileiros fazem negócios com os Estados Unidos, mas cultuam a gastronomia, a moda, a arte e os prazeres da vida franceses.

No período colonial, o Brasil deixou de ser francês por pouco. Foram os franceses que precipitaram a decisão do rei dom João III (1502-1557) de criar, em 1534, o sistema de capitanias hereditárias, o primeiro esforço de povoamento do Brasil. Nas primeiras décadas do século 16, franceses exploravam pau-brasil no litoral do Nordeste como se fossem donos do território. Há evidências de que já conheciam a costa brasileira bem antes de 1500. Um deles, Jean de Cousin, teria tentado se estabelecer na Amazônia em 1488.

A guerra entre França e Portugal pela posse do Brasil durou mais de dois séculos. O primeiro confronto de que se tem notícia aconteceu em novembro de 1529, quando a nau La Pellérine invadiu a feitoria do rio Igaraçu, em Pernambuco, onde os portugueses tinham uma pequena fortaleza. Os franceses foram expulsos em 1532 pelo comandante Pero Lopes de Sousa (1497-1539). Meio século mais tarde, em 1550, Nicolas Durand de Villegaignon (1510-1571) ocupou o Rio de Janeiro por 12 anos, até ser derrotado por Mem de Sá (1500-1572). Em 1612, outra tentativa de ocupação, dessa vez no Maranhão, reconquistado após dois anos por Jerônimo de Albuquerque (1510-1584). No começo do século 18, haveria ainda mais duas investidas de corsários franceses contra o Rio. A última ocorreu em 12 de setembro de 1711. Ao amanhecer, encobertas pelo denso nevoeiro, 18 embarcações comandadas por René Duguay-Trouin (1673-1736) tomaram a cidade. Trouin foi embora em troca de um grande resgate pelos bens que havia saqueado.

Marcas culturais

Cessada a luta pela ocupação territorial, a influência francesa no Brasil se daria no campo das artes, dos costumes e das ideias. As consequências seriam profundas e duradouras. Seu marco foi a transferência da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte (1769-1821). Ao chegar ao Brasil, dom João VI (1767-1826) iniciou um acelerado período de transformações. O esforço não foi apenas administrativo. Enquanto mandava abrir estradas, construir fábricas e organizar a estrutura de governo, dom João também se dedicava ao que o historiador Jurandir Malerba chamou de “empreendimentos civilizatórios”. Nesse caso, a meta era promover as artes e a cultura e tentar infundir algum traço de refinamento e bom gosto nos hábitos atrasados da colônia.

A maior dessas iniciativas foi a contratação, em Paris, da famosa Missão Artística Francesa. Chefiada por Joaquim Lebreton (1760-1819), secretário perpétuo da seção de belas-artes do Instituto de França, a missão chegou ao Brasil em 1816 e era composta por alguns dos mais renomados artistas da época, incluindo o pintor Jean-Baptiste Debret (1768-1848), Auguste Taunay, escultor (1791-1687), e Grandjean de Montigny (1776-1850), arquiteto.

Oficialmente, o objetivo da missão francesa era a criação de uma academia de artes e ciências. O plano nunca saiu do papel, mas alguns historiadores consideram a chegada da missão o início efetivo das artes no Brasil. Na época da corte, a influência francesa era marcante no Rio de Janeiro. As lojas estavam repletas de novidades que chegavam de Paris. Incluíam vestidos e chapéus da última moda, perfumes, água-de-colônia, luvas, espelhos, relógios, tabaco, livros e uma infinidade de mercadorias até então proibidas e ignoradas na antiga colônia.

Mas foi no campo das ideias que os franceses mais ajudaram a transformar o Brasil. Elas estavam por trás da Inconfidência Mineira, da Revolta dos Alfaiates na Bahia, da Revolução Pernambucana de 1817, da Confederação do Equador, em 1824, e de inúmeros outros movimentos de rebelião. Nos Autos de Devassa da Inconfidência foi encontrada uma coleção dos enciclopedistas francesas na casa de um dos conspiradores. Isso num tempo em que a circulação dessas obras era reprimida. O movimento da Independência, em 1822, foi tramado, em boa parte, dentro das Lojas Maçônicas, que tinham seu berço na França.
Em resumo: às vésperas de sua independência, o Brasil dormia com o autoritário e conservador Portugal, mas sonhava mesmo era com a charmosa e libertária França.

Saiba mais

LIVROS

Capítulos da História Colonial, Capistrano de Abreu, Civilização Brasileira, 1976
Descreve a sociedade brasileira em formação.

Brasil 5 Séculos, Hernâni Donato, Academia Lusíada de Ciências, Letras e Artes, 2000
Um passeio pela história do Brasil até os dias atuais.

A Corte no Exílio, Jurandir Malerba, Companhia das Letras, 2000
Relata o encontro dos nobres com os comerciantes locais.

Versalhes Tropical, Kirsten Schultz, Civilização Brasileira, 2008
Analisa o impacto da mudança da corte para o Brasil.

Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808), Ronaldo Vainfas (org.), Objetiva, 2000
Descreve os hábitos públicos e privados do Brasil Colônia.

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INDEPENDÊNCIA DO BRASIL: A MAIS CONSERVADORA DAS AMÉRICAS


INDEPENDENCIA
1822: a Independência escravizada
ESCRITO POR MÁRIO MAESTRI do Correio da Cidadania
08-SET-2009

Em janeiro de 1821, no Rio Grande do Sul, Auguste de Saint-Hilaire anotava em seu diário que o Brasil perigava ser “perdido pela casa de Bragança” e que “suas províncias” podiam explodir em nações independentes, “como as colônias espanholas”, considerando-se a tamanha diferença entre elas. Escrevia enfaticamente o arguto naturalista: “Sem falar do Pará e de Pernambuco, a capitania de Minas e do Rio Grande, já menos distanciadas, diferem mais entre si que a França da Inglaterra”.

Desde sua origem, a América portuguesa foi mosaico de regiões semi-autônomas, de frente para a Europa e África, de costas umas para as outras. As diversas colônias exportavam seus produtos e importavam os manufaturados e cativos que consumiam pelos portos da costa. Eram muito frágeis os contatos entre as capitanias e, mais tarde, as províncias, inexistindo o que hoje definimos como mercado nacional.

Nas diversas regiões, os grandes proprietários controlavam o poder local e viviam em associação subordinada às classes dominantes portuguesas metropolitanas. Os proprietários luso-brasileiros sentiam-se membros do império lusitano, possuíam laços de identidade regional e desconheciam sentimentos ‘nacionais’, impensáveis devido à inexistência de entidade nacional .

Quando do projeto recolonizador da Revolução do Porto, em 1820, as classes dominantes provinciais mobilizaram-se por independência restrita aos limites das regiões que controlavam. O Brasil seguia sendo entidade sobretudo administrativa, sem laços econômicos e sociais objetivos e subjetivos. A construção do Estado-nação brasileiro esboçou-se no II Império e foi sobretudo produto do ciclo nacional-industrialista dos
anos 1930.

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PROJETO CONHECENDO PERNAMBUCO: O CICLO DO AÇÚCAR


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A parceria entre a Escola Monsenhor e a Empresa Norte-Sul vem rendendo bons frutos!
Várias foram as viagens promovidas a partir do desejo de ambas as instituições em promover a educação e a cultura entre jovens estudantes desta Escola da Rede Pública Estadual.
Desta vez, nosso destino foram as ladeiras do Sítio Histórico de Olinda ( Patrimônio Histórico da Humanidade ) e o Museu do Homem do Nordeste. O objetivo: estudar o impacto provocado pela colonização portuguesa em Pernambuco no contexto do “ciclo da cana-de-açúcar”. As mudanças foram muitas e profundas. As imagens retratam muito bem este acontecimento histórico.

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EUCLIDES DA CUNHA – 100 ANOS


euclides
Num dia de agosto, exatamente 15 deste mês fatídico no ano de 1909, tombou vítima de um tiro e por amor (e ciúmes ), um dos maiores escritores de nossa história. O autor do grande clássico, OS SERTÕES, Euclides da Cunha.

Em sua homenagem, Mania de História traz dados biográficos e coloca à disposição de nossos leitores informações a perder de vista sobre o consagrado escritor, extraídas de sua página na ABL – Academia Brasileira de Letras.

Dados biográficos

Euclides Rodrigues da Cunha nasceu em Cantagalo, 20 de janeiro de 1866. Foi escritor, sociólogo, repórter jornalístico, historiador e engenheiro brasileiro. Órfão de mãe desde os três anos de idade, foi educado pelas tias. Freqüentou conceituados colégios fluminenses e, quando precisou prosseguir seus estudos, ingressou na Escola Politécnica e, um ano depois, na Escola Militar da Praia Vermelha.

Cadete republicano
Contagiado pelo ardor republicano dos cadetes e de Benjamin Constant, professor da Escola Militar, atirou durante revista às tropas sua espada aos pés do Ministro da Guerra Tomás Coelho. Euclides foi submetido ao Conselho de Disciplina e, em 1888, saiu do Exército. Participou ativamente da propaganda republicana no jornal O Estado de S. Paulo.

Proclamada a República, foi reintegrado ao Exército com promoção. Ingressou na Escola Superior de Guerra e conseguiu ser primeiro-tenente e bacharel em Matemáticas, Ciências Físicas e Naturais.

Euclides casou-se com Ana Emília Ribeiro, filha do major Frederico Solon de Sampaio Ribeiro, um dos líderes da República.

Ciclo de Canudos
Em 1891, deixou a Escola de Guerra e foi designado coadjuvante de ensino na Escola Militar. Em 1893, praticou na Estrada de Ferro Central do Brasil. Quando surgiu a insurreição de Canudos, em 1897, Euclides escreveu dois artigos pioneiros intitulados “A nossa Vendéia” que lhe valeram um convite d’O Estado de S. Paulo para presenciar o final do conflito. Isso porque ele considerava, como muitos republicanos à época, que o movimento de Antonio Conselheiro tinha a pretensão de restaurar a monarquia e era apoiado pelos monarquistas residentes no País e no exterior.

“Tragédia da Piedade”
Morreu em 1909. Ao saber que sua esposa, mais conhecida como Ana de Assis, o abandonara pelo jovem tenente Dilermando de Assis, que aparentemente já tinha sido ou era seu amante há tempos – e a quem Euclides atribuía a paternidade de um dos filhos de Ana, “a espiga de milho no meio do cafezal” (querendo dizer que era o único louro numa família de tez morena) -, saiu armado na direção da casa do militar, disposto a matar ou morrer. Dilermando era campeão de tiro e matou-o. Tudo indica que o matou lealmente, tanto que foi absolvido na Justiça Militar. Ana casou-se com ele.

O corpo de Euclides foi examinado pelo médico e escritor Afrânio Peixoto, que também assinou o laudo e viria mais tarde a ocupar a sua cadeira na Academia Brasileira de Letras.

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AGOSTO NA HISTÓRIA


Juscelino Kubitschek
Presidente entre 1956 e 1960, morre vítima de acidente de carro entre Rio de Janeiro e São Paulo, Jucelino Kubitschek. A morte do ex-presidente é envolta em mistério até hoje, pois suspeita-se que o líder político não perdeu a vida por uma fatalidade e sim, por ação secreta das forças militares, que governavam o Brasil naquele período através de uma ditadura.

Para saber mais sobre o Político e sua Obra, acesse o Memorial JK. Clique aqui.

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AGOSTO NA HISTÓRIA


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O MÊS DE AGOSTO É SOMBRIO, ESPECIALMENTE PARA O MUNDO DA POLÍTICA BRASILEIRA. É MÊS DE ACONTECIMENTOS MARCANTES, PARA O BEM OU PARA O MAL. ESPERA-SE ATÉ QUE SARNEY CAIA JUSTAMENTE NO MÊS QUE MORREU TANCREDO NEVES.

FOI NUM MÊS DE AGOSTO QUE SUICIDOU-SE ( ?) O EX-PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS E EM SUA MEMÓRIA REPRODUZIMOS AQUI UMA MATÉRIA DA REVISTA HISTÓRIA VIVA, PARA DELEITE DE NOSSOS LEITORES/AS.

As duas cartas de Getúlio Vargas
A história ainda não tem um veredicto sobre as mensagens atribuídas ao presidente, deixadas como testamento político, por ocasião de seu suicídio

ACERVO ÚLTIMA HORA/ AESP

O adeus: foto publicada em jornais, em agosto de 1954, para anunciar o suicídio/ Enterro em São Borja (RS): comoção popular varreu o país
Antes de se suicidar com um tiro no peito, Getúlio Vargas (1882-1954) escreveu uma carta-testamento ainda hoje polêmica, pois existem dela duas versões: uma manuscrita, bastante concisa, e outra mais longa, datilografada, que foi distribuída para a imprensa como a mensagem oficial do político ao povo brasileiro. Em ambas, porém, Getúlio informa que deu cabo à própria vida em virtude de pressões de grupos internacionais e nacionais contrários ao trabalhismo – ou seja, criou sua versão das “forças ocultas” que algumas vezes leva a rupturas no poder.

Os dois documentos são ainda um libelo pró-nacionalismo e recendem personalismo, uma das marcas registradas do político. Getúlio se colocou, até na hora da morte, como defensor do povo e líder martirizado justamente para libertar os brasileiros. “Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco”, registra a versão datilografada. No manuscrito, há um trecho com recado semelhante. “Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não dos crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes.”

Há quem atribua o estilo do texto “oficial” ao redator dos discursos de Vargas, o jornalista José Soares Maciel Filho. De fato, Maciel Filho confirmou à família do presidente que datilografou a versão lida para a imprensa, mas nada disse sobre tê-la modificado. De todo modo, por causa da carta-testamento, Maciel Filho é conhecido como o ghost-writer que saiu da sombra habitual do redator de aluguel para entrar para a história.

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WOODSTOCK 40 ANOS


WOOD
AGITADÍSSIMA FOI A DÉCADA DE 60. ÉPOCA DE GUERRA FRIA, CHEGADA NA LUA, GUERRA DO VIETNÃ, MORTE DE LUTERKING, REVOLUÇÃO ESTUDANTIL (MAIO DE 68) E DO MAIOR FESTIVAL DE MÚSICA DA HISTÓRIA: WOODSTOCK.

EM MERECIDA HOMENAGEM PELOS 40 ANOS DE HISTÓRIA DO FESTIVAL HIPPIE, REPRODUZIMOS ESTA MATÉRIA PARA DELEITE DE NOSSOS/AS LEITORES/AS CONTANDO O QUE FOI, COMO ACONTECEU E O QUE REPRESENTOU O ACONTECIMENTO HISTÓRICO.

Toda História de Woodstock 69…

Texto e direito autorais de: The Times Herald-Record – 1994.
Tradução: Helen Dias.
Adaptação e texto final: Mário Santos.

O último fã encharcado de lama deixou o pasto de Max Yasgur a mais de 25 anos atrás. Isso foi quando o debate sobre o significado histórico de Woodstock começou. Verdadeiros crentes na cultura hippie chamam Woodstock de “o marco final de uma era dedicada ao avanço humano”. Os cínicos dizem que foi “o fim adequado e ridículo de uma era de ingenuidade”. Há ainda os que dizem que tudo aquilo foi apenas uma festa dos infernos!
A Feira de Arte e Música de Woodstock, em 1969, trouxeram mais de 450.000 pessoas para um pasto no Condado de Sullivan. Durante quatro dias, o local se tornou uma mini-nação contra-cultural na qual as mentes estavam abertas, drogas eram o que havia de mais legal e o amor era “livre”. A música começou na tarde de 15 de agosto, sexta-feira, às 17:07h e continuou até a metade da manhã do dia 18 de agosto, segunda-feira. O festival fechou a via expressa do Estado de Nova Iorque e criou um dos piores engarrafamentos da nação. Também inspirou um monte de leis locais e estatais para assegurar que nada como isto jamais aconteceria novamente.
Woodstock, como poucos eventos históricos, se tornaram uma espécie de herança cultural, para os EUA e para o mundo. Assim como “Watergate” representa uma crise nacional e “Waterloo” representa derrota, “Woodstock” se tornou um adjetivo imediato que denota o poder dos jovens e os excessos dos anos 60.

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TEMPO PRESENTE: MICHAEL JACKSON


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Da SuperInteressante

Na noite de 16 de maio de 1983, 3 mil celebridades norte-americanas lotaram um teatro em Los Angeles para assistir a uma apresentação comemorativa dos 25 anos da gravadora Motown. De suas casas, 50 milhões de norte-americanos acompanharam pela TV a apresentação dos vários artistas negros até que Michael Jackson se viu sozinho no palco. Ele começou a cantar “Billie Jean”, sucesso do álbum que havia lançado seis meses antes. De repente, Jackson parou de cantar, andou até o canto esquerdo do palco e voltou… deslizando de costas. A cena, que ficou gravada para a posteridade, é impressionante: são 3 mil queixos caídos.
Naquela noite, mais do que mostrar pela primeira vez o passo que batizou como moonwalk (algo como “andando na Lua”), Michael Jackson foi dormir consagrado como nada menos que o Rei do Pop. “Foi aquele momento que cristalizou o status de celebridade de Michael Jackson”, cravou a prestigiada revista americana Rolling Stone. “Moonwalk, no mundo do entretenimento, só é comparável ao andar de vagabundo de Chaplin, à seqüência de Gene Kelly em Dançando na Chuva e aos passos de Fred Astaire no filme Núpcias Reais”, compara o jornalista britânico Nick Bishop em Freak (“Esquisito”, inédito no Brasil), uma das várias biografias não autorizadas do cantor. Pois depois daquela apresentação, tanto Fred Astaire quanto Gene Kelly foram atrás de Jackson para parabenizá-lo. “Kelly veio à minha casa. Depois, ensinei o passo a Astaire”, conta o astro em sua autobiografia, não por acaso chamada Moonwalk (1988).
Hoje é seguro dizer: 16 de maio de 1983 foi a primeira noite do resto da vida de Michael Jackson. A partir daquele momento, ele nunca mais seria esquecido (mas também não poderia andar sozinho nas ruas), nunca mais deixaria de realizar seus sonhos (mas também passaria a ser ridicularizado por cada um deles), nunca mais deixaria de ser adulado pelos fãs (mas também teria passaporte vip para as manchetes sensacionalistas de todo o mundo). Nunca mais, enfim, teria vida normal. E por isso acabaria se refugiando no único lugar onde poderia ser ele mesmo: a Terra do Nunca, nome em português do rancho Neverland.

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COMO MICHAEL JACKSON FICOU BRANCO

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A ORDEM DOS ILUMINADOS


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A ordem dos iluminados
A illuminati, sociedade secreta que aparece no enredo do filme Anjos e demônios, surgiu na Baviera, no século XVIII, e já foi alvo de tantas teorias da conspiração que chegou a ser relacionada com a Revolução Francesa e o processo de independência dos estados Unidos

Por Sérgio Pereira Couto de Leituras na História

Perigosos e dominadores. Assim são lembrados os membros da sociedade secreta Illuminati. Muito antes de surgirem nas telas de cinema no filme Anjos e demônios (Estados Unidos, 2009), baseado no livro homônimo do escritor norte-americano Dan Brown, os participantes desse misterioso grupo já eram relacionados com teorias conspiratórias que se referem à dominação do mundo. A Illuminati parece ter sido tão poderosa, que a escritora norte-americana Shelley Klein, autora de As sociedades secretas mais perversas da história, chegou a dizer: “de todas as sociedades secretas que pesquisei, essa é a mais vil”.

A palavra “illuminati” vem do latim e significa “iluminado” (no plural, illuminatus). Pesquisar sobre a história da Illuminati não é fácil, já que a maioria dos textos existentes sobre o assunto são artigos de pouca ou nenhuma base acadêmica e que fazem a festa de “conspirólogos”. Mesmo assim é possível usar as poucas fontes existentes para estabelecer uma origem para a ordem.

ILLUMINATUS DA BAVIERA

A seita Illuminati foi fundada em 1° de maio de 1776 pelo alemão Adam Weishaupt (1748- 1830), filósofo e professor de lei canônica da Universidade de Ingolstadt, localizada na Baviera, Estado federal da Alemanha. Weishaupt era adepto do Iluminismo, movimento do século XVIII que buscava o conhecimento por meio da razão e da Ciência, contradizendo os dogmas da Igreja Católica.

Para fugir do controle imposto pelos católicos, homens como Weishaupt fundaram diversas sociedades secretas. Além da Illuminati, apare- ceram outras como a Estrita Observância (ligada à maçonaria e à tradição templária) e a Rosacruz (que propaga o mito de Christian Rosenkreuz, personagem lendário que teria vivido entre os séculos XIII e XIV).

O objetivo inicial de Weishaupt era que sua organização servisse para que as pessoas pudessem entrar em contato com ideias do progresso e da razão. Para isso, ele buscou a adesão de intelectuais e membros da maçonaria e elaborou um esquema em que o iniciado no grupo passaria por um processo de adesão em três passos: no- viciado, minerval e minerval iluminado, também chamado de illuminatus minor. A cada etapa, as pessoas deveriam ter contato com ideias de auto- res como o escritor Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), o filósofo Johann Gottfried von Herder (1744-1803) e o poeta Christoph Martin Wieland (1733-1813).

Diferente das demais sociedades secretas, que utilizavam um sistema de aprendizado contínuo para revelar informações ocultas, o projeto de Weishaupt era mais ambicioso: ele faria que os interessados ampliassem seu conhecimen- to por meio de leituras acessíveis e, assim, se subvertessem à sua causa.

A finalidade era minar a autoridade da Igreja Católica. A sociedade de Weishaupt ficou conhecida como a Illuminati da Baviera, tendo em vis- ta que existiram outros grupos que também se chamavam de “ilumina- dos”, em latim.

Weishaupt utilizou toda uma nova nomenclatura para definir a hierarquia da Illuminati. Até mesmo rebatizou as cidades onde os membros de sua sociedade estavam ativos. Para isso, ele se inspirou em nomes das pólis gregas. Assim, Ingolstadt ficou conhecida com o codinome de Elêusis; Muni- que se tornou Atenas; Ravensberg virou Tebas, e assim por diante. Já os apelidos dos membros tinham origem na mitologia: o líder tornou-se conhecido como Spartacus e os outros membros assinavam com nomes clássicos como Tibério, Ájax e Agaton.

Porém, apesar de todo o trabalho de Weishaupt, até 1780 a Illuminati só contava com cerca de uma centena de membros. Foi nessa época que o ale- mão tentou ampliar o poder e influência do grupo, voltando-se para a loja maçônica em que havia sido iniciado por volta de 1777, em Munique, chamada Zur Behutsamkeit (“A Prudência”, em português). Weishaupt esperava que, com a aproximação entre a Illuminati e a maçonaria, ele pudesse usar a rede de contatos maçônica para difundir seus ideais.

MUDANÇA DE ORDEM

Placa em memória à illuminati, localizada na Universidade de ingolstadt
Um dos primeiros maçons que aderiram tam- bém à organização de Weishaupt foi o escritor Adolf Von Knigge (1752-1796), até então mem- bro da Estrita Observância. Um dos motivos que o levaram a se juntar à Illuminati foi o desejo de encontrar um grupo que permitisse realizar ex- periências alquímicas. Não demorou muito para que Adolf Von Knigge se tornasse um membro quase tão influente quanto o próprio Weishaupt, a quem ele acusava de ser exagerado em seu sen- timento anticlerical.

O envolvimento de Von Knigge com a Illuminati deixou a Estrita Observância, que era profundamente cristã, em estado de alerta. O que não adiantou muito, já que a Illuminati, codiri- gida por Weishaupt e Von Knigge, tirou proveito dessa competição de uma maneira mais agressiva. Como primeira provocação, Von Knigge criou três altos graus na hierarquia da Illuminati e deu a eles títulos originalmente maçônicos: franco- maçom, illuminatus major e illuminatus dirigens. Pouco depois é acrescentada uma segunda classe de altas posições: sacerdote, regente e magnus rex.

Essa hierarquia fez que a Illuminati conquis- tasse centenas de maçons que se mostravam insatisfeitos com a Estrita Observância. Não demorou muito para que a seita fundada por Weishaupt chegasse ao impressionante número de 3 mil membros e se tornasse influente não apenas na Ba- viera, mas também em regiões da Áustria e Hungria. Logo o processo de seleção para ingressar na sociedade tornou-se mais exigente e a Illuminati passou a aceitar apenas banqueiros, mercadores em franca ascensão financeira, militares de altas patentes e, por incrível que pareça, até mesmo alguns membros do clero que entram por causa da fachada maçônica que a ordem divulgava.

AS MARCAS DO DÓLAR

Para aqueles que acreditam que os membros da Illuminati sempre estiveram infiltrados no governo dos Estados Unidos, as provas estão nos símbolos da moeda norte-americana

Estariam os adeptos da illuminati infiltrados no governo dos estados Unidos desde a formação do país? apesar de essa ideia parecer mirabolante demais para a maioria das pessoas, há quem acredite nela, incluindo pesquisadores como paul H. Koch e Robert Goodman.

A teoria conspiratória foi divulgada no livro La conspiración de los Illuminati, do jornalista espanhol santiago camacho. segundo ele, para verificar a influência da illuminati no governo norte-americano, basta analisar a nota de 1 dólar. Vire-a e observe a figura da pirâmide, do lado esquerdo da nota, com um triângulo em seu ápice e um olho brilhante. esse é o famoso “olho que tudo vê”, um símbolo que os pesquisadores creem que seja originalmente da illuminati e que os maçons tenham se apropriado, já que representa o olho de deus. na visão dos “conspirólogos”, o olho significa uma mensagem da illuminati: “estamos em todos os lugares e vemos tudo o que acontece ao nosso redor”

A base da pirâmide é cega e feita de tijolos de tamanhos e formas iguais, que sim- bolizariam a população que a ordem quer controlar. abaixo da pirâmide, há a inscrição “novus ordo seclorum”, que significa “nova ordem dos séculos” e que os “conspirólogos” afirmam ser uma alusão à “nova ordem mundial”, o conceito de domínio mundial da illuminati.

A base da pirâmide é cega e feita de tijolos de tamanhos e formas iguais, que sim- bolizariam a população que a ordem quer controlar. abaixo da pirâmide, há a inscrição “novus ordo seclorum”, que significa “nova ordem dos séculos” e que os “cons- pirólogos” afirmam ser uma alusão à “nova ordem mundial”, o conceito de domínio mundial da illuminati.

Esse progresso todo acabou atraindo muitos inimigos importantes, como membros da realeza. Um deles foi Frederico Guilherme II (1744-1797), da Prússia, que já era um iniciado na Rosacruz.

Foi o apoio dele que demarcou o conflito entre as lojas maçônicas de Berlim, adquiridas pela Rosa- cruz, e a Illuminati, acusada de minar a religião cristã e fazer da sociedade um sistema político.

O pesquisador brasileiro A. Tenório de Albu- querque descreveu em sua obra Sociedades secretas o pensamento de Weishaupt: “Adam Weishaupt negava a legitimidade política e religiosa, jul- gando que o melhor meio para alcançar resul- tados a que se propunha era cercar os príncipes de pessoas idôneas, capazes de dirigi-los com os seus sábios conselhos, induzindo-os a confiar o exercício da autoridade em mãos de homens de provada pureza e retidão”.

O trecho do livro de Tenório de Albuquerque reflete a ideologia da Illuminati. Foi por causa dessa forma de agir e pensar que a sociedade ganhou a fama de tentar se envolver com os grandes líderes mundiais a fim de assumir o controle da situação e dominar o panorama social e político. No entanto, os membros da Illuminati nunca se identificavam como tais e agiam sorrateiramente

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CONHECENDO PERNAMBUCO


O “Projeto Conhecendo Pernambuco”, coordenado pelo Prof. Luís Carlos Lins da Escola Monsenhor João Rodrigues de Carvalho e a Empresa de Viação Norte Sul, através do “Projeto Viagem Solidária”, empreenderam mais uma aula-passeio.

Desta vez o destino foi o Alto do Moura, localizado em Caruaru no agreste Pernambucano.

O Alto do Moura (Caruaru/PE) é considerado o maior Centro de Arte Figurativa das Américas ( segundo a UNESCO) e foi o ambiente de morada e de trabalho do Mestre Vitalino, que se vivo estivesse, estaria completando 100 anos.

Abaixo, algumas imagens ilustrativas da viagem, que foi considerada pelos alunos/as e professores presentes, um verdadeiro sucesso!
FOTOS - ESCOLA MONSENHOR 043
A viagem contou com o apoio muito agradável e competente do Motorista da Empresa Norte Sul, Zé Mário
FOTOS - ESCOLA MONSENHOR 041
Os estudantes do “2º A”, os Professores Luís Carlos, Elionais Alves, Akassi e Dayse Rufino, no ponto de partida da viagem
FOTOS - ESCOLA MONSENHOR 044
Posando para foto com muita ansiedade antes da partida
FOTOS - ESCOLA MONSENHOR 046
Professoras Akassi e e Dayse Rufino, em clima de festa
FOTOS - ESCOLA MONSENHOR 048
Portal de entrada do Alto do Moura em Caruaru, cidade considerada a Capital do Agreste Pernambucano
FOTOS - ESCOLA MONSENHOR 049
Casa onde morou o Mestre Vitalino, totalmente preservada e transformada em Museu
FOTOS - ESCOLA MONSENHOR 050
Busto em homenagem ao Mestre Vitalino, que além de artesão, era um exímio tocador de pífano
FOTOS - ESCOLA MONSENHOR 051
Os alunos/as da Escola Monsenhor fazem registro fotográfico do Museu Mestre Vitalino
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Olaria onde trabalhava o Artista Mestre Vitalino
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O senhor à esquerda de chapéu é o filho mais velho (74 anos) de Vitalino, Amaro Vitalino
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Trabalho artesanal feito em barro (reprodução do trabalho de Vitalino)
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O Alto do Moura é um grande pólo de arte feita em barro e que mobiliza muitas pessoas, herdeiras do Mestre Vitalino
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Área interior do Museu Mestre Vitalino com recepção de Severino Vitalino, filho e herdeiro do Mestre e em plena atividade


Vitalino de barro e luz Caruaru
Com fotos de Helder Ferrer e instalação de um casario, exposição celebra o centenário do ceramista
André Dib
andredib.pe@diariosassociados.com.br – Do Diário de PE

No próximo 10 de julho, Mestre Vitalino completa cem anos de nascimento. Uma das comemorações já começou e

Fotógrafo optou por privilegiar detalhes das peças que pertencem ao Museu do Homem do Nordeste e à coleção particular do senador Jarbas Vasconcelos. Foto: Helder Ferrer/Divulgação
se chama 100 Olhares de Vitalino, exposição fotográfica em cartaz em Caruaru, terra natal do ceramista. Os realizadores montaram uma estrutura que privilegia a imagem fotográfica e vai além ao reproduzir o ambiente das antigas moradias à base de taipa. Todo o barro usado pela exposição foi retirado do Ipojuca, rio onde Vitalino brincava quando criança e, anos depois, retirava a matéria-prima que deu forma à sua arte. A exposição segue até 10 de julho, na antiga Estação Ferroviária de Caruaru, hoje conhecida como Galpão das Artes.

Como o nome sugere, 100 Olhares de Vitalino apresenta uma centena de fotos produzidas por Helder Ferrer, dispostas nas fachadas de um casario cenográfico, como fossem portas e janelas iluminadas por trás (backlight). A força dessas imagens, literalmente sustentadas pelo barro, é amplificada por uma “instalação” formada por lamparinas e cercas de ripa. Tudo contribui para provocar uma experiência sensorial-afetiva incomum, até mesmo para os visitantes acostumados com esse tipo de paisagem. “As pessoas da região se encantam, e beliscam o barro para ver se é de verdade”, diz a idealizadora Lina Rosa, da Aliança Comunicação e Cultura. Desde que foi inaugurada, a exposição promovida pela Prefeitura de Caruaru precisou refazer o acabamento algumas vezes.

Frente aos inúmeros registros existentes do trabalho de Vitalino, Hélder Ferrer optou por retratar não somente os bonecos internacionalmente famosos, mas o universo em que eles foram produzidos: fornos de queima de barro, bandas de pífano e outros artesãos na lida com o barro. Os bonecos fotografados são do acervo do Museu do Homem do Nordeste e da coleção particular do senador Jarbas Vasconcelos. “Em vez de retratar peças inteiras, busquei os detalhes. Levei as peças para o estúdio, onde usei luz ‘dura’ e alguns planos desfocados. Isso gerou sombras de expressão que me surpreenderam”, explica Ferrer.

Rosa ainda explica que, para chegar ao conceito final, foi necessário fazer um levantamento da trajetória pessoal e profissional do mestre. “Queria fazer algo que não fosse baseado somente nas fotos, mas no diálogo com a arte de Vitalino, ou seja, entre o tradicional e o contemporâneo”.

Por isso, além de trazer um texto sobre Vitalino assinado por Joaquim Cardozo, a exposição convidou o músico Ortinho (que também é de Caruaru) para compor uma trilha sonora baseada em sons de pífano e depoimentos de “herdeiros” do artista popular, como Manoel Eudócio, Luis Antonio da Silva, Zé Galego, Elias Francisco e os familiares Maria e Severino Vitalino.

Serviço

100 Olhares de Vitalino
Onde: Galpão das Artes – Antiga Estação
Ferroviária – Rua Frei Caneca, s/n, Centro, Caruaru
Quando: Hoje, 28 e 29/06 e 10/07, das 17h à 0h; nos demais dias, das 18h às 23h. Até 10 de julho
Quanto: Entrada franca

Destaque

LUIZ GONZAGA


Não tem jeito não!

É chegar a época das “Festas Joaninas (juninas)” que vem na lembrança o arrasta-pé, a fogueira ( que em tempos de aquecimento global, precisamos rever), as comidas gostosas de milho, brincadeiras diversas, os fogos de artifício e muita musicalidade.

O Nordeste brasileiro é berço de “Monstros Sagrados” de ontem e de hoje, porém o velho Gonzagão é inesquecível e singular.

Em homenagem ao leitor – Luiz Gonzaga já é mais do que venerado -,publicamos aqui, uma pequena história da vida do homem que melhor cantou a “alma” do povo nordestino e deixamos um link – no final do artigo – para que vocês escutem as melhores e insuperáveis canções do Rei do Baião.

luiz_gonzaga
Fonte: Fundação Joaquim Nabuco

Conhecido como o rei do baião, Luiz do Nascimento Gonzaga nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, na fazenda Caiçara, município de Exu, localizado no sopé da Serra do Araripe, Pernambuco. Filho de Januário José dos Santos, sanfoneiro e consertador de instrumentos e Ana Batista de Jesus.
Passou toda a sua infância ao lado do pai, acompanhando-o desde os oito anos de idade aos bailes, onde o ajudava a tocar sanfona. Trabalhou também na roça, nas feiras e tomando conta de rebanhos de bode.

Em 1924, aos doze anos, comprou sua primeira sanfona, fole de oito baixos, da marca Veado e aos quinze já tinha adquirido prestígio na região como sanfoneiro.

Em 1930, por causa de uma paixão frustrada, desentendeu-se com a família e fugiu à pé até o Crato, no Ceará, alistando-se no Exército. Com a eclosão da Revolução de 30 viajou por todo o país com sua tropa. No Exército, ficou conhecido como o Corneteiro 122.

Quando recebeu baixa do serviço militar, em 1939, foi para o Rio de Janeiro, na época a capital da república e passou a cantar e se apresentar no Mangue, zona de prostituição da cidade, onde havia muitos cabarés e gafieiras.

Apresentou-se no programa de auditório de Ary Barroso, bastante popular na época, cantando música nordestina e conquistou a nota máxima, sendo depois contratado pela Rádio Nacional. Em 1941, gravou seu primeiro disco pela RCA.

Em 1945, nasceu o seu filho, Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, e no mesmo ano ele inicia sua parceria com Humberto Teixeira.

Casou-se, em 1948, com a professora pernambucana Helena Cavalcanti que havia conhecido nos bastidores da Rádio Nacional.

Como Humberto Teixeira resolveu dedicar-se à carreira de deputado, Luiz Gonzaga encerrou sua parceria com ele, passando a compor com o médico pernambucano José de Souza Dantas, o Zédantas, seu outro grande parceiro. Com Humberto Teixeira, Zédantas e outros, compôs uma grande quantidade de baiões, toadas, xotes, polcas, mazurcas, valsas, deixando registrada na discografia brasileira mais de 600 músicas. Muitos desses discos podem ser encontrados no acervo da Coordenadoria de Fonoteca, do Centro de Documentação e Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade, da Fundação Joaquim Nabuco.

Em 1980, cantou para o Papa João Paulo II, em Fortaleza, quando da sua visita ao Brasil. Nessa ocasião, retirou da cabeça o seu chapéu de cangaceiro, que se tornara sua marca registrada e colocou-o, respeitosamente, na cabeça do Papa que o abençoou e disse Obrigado, cantador!

Luiz Gonzaga tornou-se um símbolo cultural brasileiro: subiu em palanques de presidentes da República, animou jantares de reis e chegou, inclusive, a se apresentar no Olimpia de Paris, em 1986.

Morreu no dia 2 de agosto de 1989, às 15h15, no Hospital Santa Joana, no Recife, onde estava internado há 42 dias. Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa de Pernambuco e enterrado na capela do Parque Asa Branca, em Exu, sua cidade natal.

Entre suas composições mais conhecidas estão:

Asa Branca, Juazeiro, Assum preto, Cintura fina, A volta da asa branca, Boiadeiro, Paraíba, Respeita Januário, Olha pro céu, São João do carneirinho, São João na roça, O xote das meninas, ABC do sertão, Riacho do Navio, O cheiro da Carolina, Derramaro o gai, A feira de Caruaru, Dezessete e setecentos, A morte do vaqueiro, Ovo de codorna, Forró nº 1.

Quando ôiei a terra ardendo
Quá fogueira de São João
Eu perguntei, ai, pra Deus do céu, ai
Pruquê tamanha judiação

Qui braseiro, qui fornáia
Nem um pé de plantação
Pru falta d´água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a Asa Branca
Bateu asas do sertão
Entonce eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas légua
Numa tristea solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortá pro meu sertão

Quando o verde dos teus óio
Se apoiá na prantação
Eu te asseguro, num chore não, viu?
Que eu vortarei, viu, meu coração!

Asa Branca, toada de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1947

Fontes consultadas:
CÂMARA, Renato Phaelante da. Luiz Gonzaga e o cantar nordestino: memória. Recife: UFRPE, [199-]
FERRETTI, Mundicarmo Maria Rocha. Baião dos dois: Zédantas e Luiz Gonzaga. Recife: FJN, Ed. Massangana, 1988.
A VIDA e os 60 maiores sucessos do rei do baião Luiz Gonzaga. Recife: Coqueiro, [199-].

ESCUTE MÚSICAS DE LUIZ GONZAGA AQUI.

Destaque

SITE INDÍGENA PARA CRIANÇAS


ISA lança site de povos indígenas para o público infanto-juvenil
[03/06/2009 16:59]

Destinado à pesquisa escolar, o novo site Povos Indígenas no Brasil (PIB) Mirim mostra a diversidade cultural desse povos de forma didática e em linguagem acessível. Uma das formas encontradas pela equipe do ISA para despertar o interesse das crianças foi a criação da Aldeia Virtual – jogo online com referências reais sobre diferentes etnias com o qual eles podem interagir e se sentir parte daquele ambiente.

Ilustração do jogo Aldeia Virtual criado especialmente para as crianças

indios
O site PIB Mirim entra no ar com conteúdo preparado especialmente para as crianças sobre as culturas dos povos indígenas no Brasil. Por meio de material destinado à pesquisa escolar, no qual temas centrais se desdobram em uma série de questões organizadas pela equipe do Instituto Socioambiental (ISA), e do espaço Aldeia Virtual – jogo online situado em uma aldeia circular no Cerrado brasileiro – pretende-se apresentar a diversidade de povos, romper com a idéia do “índio genérico” e despertar o interesse e o respeito das crianças às culturas indígenas existentes no Brasil. Tudo isso escrito em linguagem acessível para o público infanto-juvenil.

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PESQUISADORES INDÍGENAS SE REÚNEM NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. LEIA MAIS…

CONHEÇA TAMBÉM O BLOG DA ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL. CLIQUE AQUI.

Destaque

PEQUENA HISTÓRIA DAS FESTAS JUNINAS


festas
Nasceram com a fogueira, as celebrações da colheita. Portugueses juntaram-se a índios e africanos, e as festas viraram coisa nossa, as festas “joaninas”.

Texto: Ronaldo Evangelista
Produção e Fotos: Laura Huzak Andreato

Das comemorações brasileiras, as festas juninas estão entre as mais antigas e mais recheadas de histórias. Em nosso País, figuram ao lado do Natal e do Carnaval em popularidade. Ressaltemos seu caráter tão festivo, a animação e a quantidade de costumes e rituais. Fogueiras, bandeiras, danças, fogos de artifício, comidas, quermesses, pau-de-sebo, correio elegante, casamento caipira, balões, quentão, mil superstições.

De onde vêm tantas tradições? Por que dançamos quadrilha? Por que passamos a noite ao redor do fogo? Como tudo na história de nosso País, as festas juninas misturam rituais que se perdem nos confins da história, assimilados e adaptados ao jeito brasileiro.

Cai, cai, balão!
Você não deve subir
Quem sobe muito
Cai depressa sem sentir.
Cai, Cai, Balão (Assis Valente, 1956).

“Essas canções são diabólicas!”

O folclorista Gustavo Barroso (1888-1959), em O Sertão e o Mundo, escreve que a comemoração a que tradicionalmente chamamos festa de São João não é brasileira e muito menos católica. Ela é tudo o que há de mais profundamente humano e de mais visceralmente pagão. Velha como o mundo, se tem transformado ao sabor de cada meio e ao gosto de cada povo.

As milenares festas remontam a tempos bem anteriores à rememoração católica dos santos a cada dia de cada mês. Fontes apontam como provável origem dos festejos a celebração dos solstícios de verão, na França, em meados do século 12.

Gustavo Barroso, no livro citado, defende que devemos levar em consideração também as mais antigas festas em louvor de Agni, deus hindu do fogo (segundo o dicionário Houaiss, Agni é o fenômeno e a divindade do fogo, na mitologia védica).

A festa de São João é a festa de Agni, do fogo, a festa que comemora o solstício do verão, escreve Barroso. Lembra que, no século 7, antes de a Igreja popularizar o lado cristão das comemorações juninas, Santo Elói, em plena Idade Média, condenava aquelas festas “pagãs”:

“Não vos reunais”, dizia ele, numa encíclica aos diocesanos, na época dos solstícios. “Nenhum de vós deve dançar, ou pular em torno do fogo, nenhum de vós deve cantar no dia de São João. Porque essas canções são diabólicas!”

No Brasil, trazidas pelos portugueses com seus costumes europeus, as festas ganham ares de regozijo igualmente pelo período das colheitas, início do ano agrícola. O solstício de verão deles se torna o nosso solstício de inverno. A isso, somam-se aos poucos o sentido religioso introduzido pelo cristianismo, os costumes dos indígenas e os dos escravos africanos.

Assim, as festas juninas constituem produto único e nacionalíssimo, resultado de toda essa mistura de influências.

Capelinha de melão
É de São João
É de cravo, é de rosa
É de manjericão
São João está dormindo
Não me ouve, não
Acordai, acordai
Acordai, João.
Capelinha de Melão (domínio público).

Um mês (ou mais) de festa para três santos

Dizemos “as festas”, no plural. Concentram-se em três dias dedicados a santos cristãos: Antônio (13), João (24), o mais festejado -o povo até diz “festas joaninas”-, e Pedro (29). Mas em certas regiões a festa vara o mês e entra pelo começo de julho.

Antônio

Casamenteiro e encontrador de coisas perdidas

Santo Antônio é conhecido principalmente pela fama de casamenteiro. Na véspera do dia 13, instituiu-se entre nós o Dia dos Namorados, o que reforça a simbolização do santo como cupido. São comuns as simpatias feitas por fiéis em busca de um amor.

Também se atribui a Santo Antônio a fama de encontrador de coisas perdidas – tarefa que divide com São Longuinho. Mas, enquanto Longuinho ganha três pulinhos, Antônio sofre: sua imagem fica de cabeça para baixo até atender ao pedido.
Santo da fartura. Todo 13 de junho, fiéis vão à igreja receber o pãozinho de Santo Antônio. Dispõem o pão bento e sagrado junto das comidas para não faltar nada em casa.

Chamado às vezes de Antônio de Lisboa ou Antônio de Pádua, nasceu em Lisboa, em 1195, e morreu em Pádua, Itália, aos 35 anos. Português, o culto foi introduzido com força pela colonização.

Eu pedi numa oração
Ao querido São João
Que me desse matrimônio
São João disse que não
São João disse que não
Isso é lá com Santo Antônio.
Isso É Lá com Santo Antônio (Lamartine Babo, 1934).

João

Fogueira anuncia o nascimento do primo de Cristo

João Batista, historicamente, é um dos santos mais próximos de Cristo – inclusive parente de sangue: sua mãe, Isabel, era prima de Maria, a Nossa Senhora, e estavam grávidas ao mesmo tempo.

Em Didática do Folclore, Corina Maria Peixoto Ruiz conta a história, segundo a qual Isabel visita Maria e conta que também daria à luz em breve. As duas combinam: Isabel, assim que seu filho chegasse ao mundo, acenderia fogueira bem grande para que Maria ficasse sabendo e fosse visitar o recém-nascido.

João pregava, como Cristo, e sempre reconheceu o primo como o Messias, divulgava Sua vinda. Adultos, João batizou humildemente Jesus no Rio Jordão. Daí ter no nome o Batista (do grego, através do latim, “aquele que batiza”).

Foi numa noite igual a esta
Que tu me deste teu coração
O céu estava assim em festa
Pois era noite de São João
Havia balões no ar
Xote e baião no salão
E no terreiro o seu olhar
que incendiou meu coração.
Olha pro Céu (Luiz Gonzaga e José Fernandes, 1951).

Pedro

“Farei de ti um pescador de homens.”

Pedro, o pescador, tem especial importância para a religião cristã: um dos fundadores da Igreja Católica, é considerado o primeiro papa. Foi um dos 12 apóstolos escolhidos pessoalmente pelo Cristo para criar sua Igreja:
“Segue-Me e farei de ti um pescador de homens”, é a famosa frase do Filho de Deus.

A presença de São Pedro é repetidamente afirmada ao longo do Livro Sagrado. Segundo a história, morreu também crucificado. Mas pediu para que o pusessem de ponta-cabeça: declarou-se indigno de morrer da mesma maneira que Jesus Cristo.

Vibram nossas almas

Gustavo Barroso escreve: No nosso interior, essa comemoração assume aspectos maiores e muito mais interessantes. Ela recorda todo o nosso passado de costumes singelos e profundamente nacionais. Nela vibram todas as almas rudes dos nossos matutos.

Foram muitos os costumes que viraram coisas novas, coisas nossas. Como fazemos com tudo que nos aparece, pegamos as tradições e os rituais e os recheamos de novos sentidos, relevantes à nossa
realidade. Talvez os dois principais e mais conhecidos ritos das festas juninas sejam a fogueira de São João e a dança da quadrilha.

O balão vai subindo
Vem caindo a garoa
O céu é tão lindo
E a noite é tão boa
São João! São João!
Acende a fogueira
No meu coração
Sonho de Papel (Alberto Ribeiro e João de Barro, 1935).

Com a filha de João
Antônio ia se casar
Mas Pedro fugiu com a noiva
Na hora de ir pro altar.
Pedro, Antônio e João (Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago, 1939).

Saruê! Anavã! Anarriê!

No Dicionário de Folclore, de Mário Souto Maior e Rúbia Lóssio, lemos que a quadrilha é dança palaciana francesa do século XIX que se popularizou no Brasil depois que os mestres da orquestra Millet e Cavalier trouxeram-na para o Rio de Janeiro, onde causaram muito sucesso.

E Maria Amália Corrêa Giffoni, em Danças Folclóricas e Suas Aplicações Educativas, diz que a quadrilha surgiu em Paris, no século XVIII e é derivada da contredanse française, que por sua vez é uma adaptação da country danse, inglesa, introduzida na França. No Brasil, acrescenta, esta dança ultrapassou os salões e a sua difusão foi tamanha que deu origem a outras danças no mesmo estilo, como a quadrilha caipira. Quanto à sua música, os compositores brasileiros deram-lhe colorido nacional.

As quadrilhas francesas se abrasileiraram. Os comandos do animador do baile ganharam muito charme. Soirée (reunião social noturna, ordem para todos se juntarem no centro do salão) virou “saruê”; en arrière (para trás) virou “anarriê”; en avant (para frente) virou “anavã”.

Cerimônia ancestral: atear fogo à lenha

Há muitas explicações para a indispensável fogueira. Dançar em torno do fogo é ritual antiqüíssimo, quem sabe tão antigo quanto a própria descoberta do fogo. A fogueira atual é uma soma de várias histórias e já ganhou um sentido só seu, adaptado aos nossos rituais. Comemoração da chegada do solstício, do ano agrícola, do nascimento de São João, revivificação, tudo já faz parte do folclore brasileiro.

O historiador e pesquisador Alceu Maynard Araújo (1913-1974), no livro Folclore Nacional, conta que a fogueira é em geral acesa logo que o Sol se põe. Sempre antes da meia-noite. Em geral quem acende é o dono da festa, ou melhor, o dono da casa. Nos lugares onde há abundância de lenha é costume fazê-la a mais alta possível, pois tal dará prestígio a quem a armou.

(© Almanaque Brasil de Cultura Popular)

AS FESTA JUNINAS NASCERAM NO ANTIGO EGITO (SAIBA MAIS CLICANDO AQUI)


FONTE: NORDESTE WEB

PARA QUEM QUISER CONHECER CARUARU, A CAPITAL DE FORRÓ E DO AGRESTE PERNAMBUCANO, CLIQUE AQUI.

ARTISTAS DE CARUARU. LEIA MAIS…

Destaque

ESTAMOS TODOS DE PARABÉNS!


Mês a Mês acompanhamos o desenvolver do Mania de História, os assuntos mais lidos, os comentários com críticas e sugestões dos leitores, e claro, a quantidade de visitas que recebemos.

E é com muita satisfação que detectamos uma crescente em números de acessos por parte daqueles que utilizam a internet como fonte de pesquisa e informação histórica.

De dezembro de 2008 ao mês de maio deste ano, foram mais de 54 mil acessos, num espaço que não tem propaganda, não visa o lucro de nenhuma forma e que se presta única e exclusivamente à (in) formação.

Estamos todos de parabéns! Nós que fazemos o Mania de História e você, que tem este espaço virtual para seu enriquecimento cultural.

Abraços,
– Equipe Mania de História –

Destaque

TEMPO PRESENTE: INJUSTIÇA CONTRA OS ÍNDIOS XUKURU DO ORORUBÁ


marcos
Parece hilário, para não dizer trágico! Após a colonização portuguesa -macomunada com a Santa Igreja Católica Apostólica Romana -, ter dizimado (mediante armas brancas, de fogo e biológicas), milhares de índios em terras brasileiras, o poder econômico e a truculência continuam tentando dar às cartas pelas bandas do sertão -onde resistem bravamente os Xukurus de Ororubá. Incriminando as vítimas da luta perversa pelo DIREITO SAGRADO A TERRA E A CULTURA e contra a negação da identidade dos povos autóctones. Mas apesar da violência que se arrasta desde tempos remotos, a articulação e o poder de mobilização dão o tom neste momento em que querem punir com a prisão o cacique Marcos, filho do saudoso cacique Xicão.
Cartas, Manifestos, Religiosos, Intelectuais, Personalidades de vários recantos deste imenso Brasil, têm prestado apoio não só à causa do Cacique Marcos, mas acima de tudo, à causa dos povos primeiros de nossa terra.
Abaixo, reproduzimos várias dessas manifestações que nos foram enviadas pelo Professor e Pesquisador da UFPE, Edson Hely Silva e o Mania de História se soma a essa corrente de luta por justiça ao Cacique Marcos e os Xukurus.

NOTA DE SOLIDARIEDADE AO POVO XUKURU DO ORORUBÁ

Nós Pesquisadores, Professores e Estudantes do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/FIOCRUZ, da Universidade de Pernambuco, da Universidade Federal Rural de Pernambuco e da Universidade Federal de Pernambuco, que trabalhamos com a temática da Saúde e Ambiente na Etnia Indígena Xukuru do Ororubá:

Conhecemos os processos históricos de esbulhos, perseguições, violências, assassinatos e prisões de lideranças do povo Xukuru que se organiza, se mobiliza e se articula para reivindicar e garantir seu território e seus direitos;
Sabemos que apesar da demarcação de considerável parte do território tradicional Xukuru, continuam as perseguições àquele povo;
E, em razão dos 43 indígenas processados, dos 31 condenados, dois presos e da recente condenação judicial de seis xukurus, incluindo o Cacique Marcos, expressamos a nossa grande indignação pelas contínuas ingerências externas de grupos e forças econômicas e políticas que objetivam a desmoralização do povo Xukuru e de suas lideranças, provocando conflitos e procurando impedir o pleno desenvolvimento desse povo.
Identificamos a criminalização como um problema de saúde pública que acarreta, além das repercussões psicológicas e psicossomáticas das lideranças, de seus familiares e de outros membros da etnia, o grande aumento de medicalização de antidepressivos constatado inclusive pelas autoridades sanitárias.

Vimos manifestar publicamente a nossa solidariedade ao povo Xukuru do Ororubá, diante do contínuo processo de criminalização de suas lideranças.

Esperamos que as decisões judiciais levem sempre em conta o amplo e livre direito de defesa, os processos históricos, os contextos políticos e as atuais situações vivenciadas pelo povo Xukuru.

Por fim, reafirmamos o nosso propósito de continuar colaborando com o povo Xukuru para conquista, garantia e consolidação de seus direitos junto à comunidade científica, os poderes públicos e a sociedade em geral, que devem ter em consideração as formas socioculturais próprias Xukuru.

Recife, 28 de maio de 2009

André Monteiro Costa

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Pesquisador Doutor e Chefe do Departamento de Saúde Coletiva

Idê Gomes Dantas Gurgel

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Pesquisadora Doutora
Paullete Cavalcanti de Albuquerque

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/FIOCRUZ e Universidade de Pernambuco – Pesquisadora e Professora Doutora

Edson Hely Silva

Colégio de Aplicação e Centro de Educação/UFPE – Professor Doutor
Rafael da Silveira Moreira

Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Pesquisador Mestre

Tatiane Fernandes Portal de Lima

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Colaboradora/Assistente de pesquisa Mestre
Ederline Suelly Vanini Brito

Universidade de Pernambuco – Enfermeira, colaboradora/Assistente de pesquisa
Ana Lucia Martins de Azevedo

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Doutoranda

Ludimila Raupp de Almeida

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Bióloga, colaboradora/Assistente de pesquisa
Angélica Sá

Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Odontóloga, residente em Saúde Coletiva
Ana Catarina Veras Leite

Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Mestranda

Juliana Siebra

Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Residente em Saúde Coletiva
Marcondes Pacheco

Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Sociólogo, colaborador/Assistente de pesquisa
Simone Brito

Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Psicóloga, colaboradora/Assistente de pesquisa

Carlos Fernando dos Santos Júnior

Universidade Federal de Pernambuco – Bacharelando em História
Alyne Isabelle Ferreira Nunes

Universidade de Pernambuco – Licencianda em História

Luiz Paulo Pontes Ferraz

Universidade Federal de Pernambuco – Licenciando em História

Bruna Fernandes Teixeira Cavalcanti

Universidade Federal de Pernambuco – Licencianda em História

Júlia Ribeiro da Cruz Gouveia

Universidade Federal de Pernambuco – Licencianda em História

Edmundo Cunha Monte Bezerra

Universidade Federal Rural de Pernambuco – Licenciado em História
Denise Batista de Lira

Universidade Federal Rural de Pernambuco – Licenciada em História

DECLARAÇÃO DO BISPO DE PESQUEIRA

APÓS A CONDENAÇÃO DO CACIQUE MARCOS LUIDSON, LÍDER DO POVO XUKURU

Lamento muito a condenação do cacique Marcos Luidson, líder do povo Xukuru, assim como a prisão “preventiva” de Rinaldo Feitosa Vieira e a criminalização de várias lideranças do povo Xukuru.

Por exercermos a cidadania, respeitamos as decisões da justiça e a autoridade dos delegados e das polícias. A pergunta que surge, após esta afirmação de respeito, é se a justiça é exercida de forma isenta e imparcial e se as ações policiais são realizadas de forma respeitosa dos direitos humanos fundamentais, também a respeito das minorias, entre as quais incluímos os indígenas.

Não é um chavão repetir a afirmação que sempre são presos, punidos e condenados os mais pobres e os mais indefesos: é uma realidade! Como é possível condenar sumariamente uma liderança sem antes ter ouvido as testemunhas, cerceando assim o direito de defesa? Como é possível prender antecipadamente um acusado sem provas, só com o “pretexto” de que se trata de uma pessoa “perigosa”? Já declarei por escrito e reafirmo que o Rinaldo é uma das pessoas mais pacíficas que tenha conhecido e de boa família. Desde o direito romano vale o princípio que uma pessoa é considerada inocente de qualquer crime até que seja provado o contrário! Trata-se de um princípio universal, aceito em todos os códigos e em todas as culturas.

Temos a impressão que a justiça no nosso país seja um poder dentro do poder, exercido em certos casos arbitrariamente e sem nenhum controle social! Ainda numa sociedade que se proclama democrática, como a nossa, a violência policial e o desrespeito dos direitos humanos acontecem à luz do sol, deixando-nos pasmos e impotentes! Só a imprensa, às vezes denuncia de forma eclatante alguns desses abusos, e normalmente, passado o impacto da notícia, depois de uma semana a própria denúncia cai no esquecimento!

Costumo dizer, até brincando, que também os índios, como os brancos, não são isentos do “pecado original”! Se houve crimes, seja de índios como de brancos, seja de pobres como de ricos que sejam averiguados e punidos, atendendo a todas as formalidades da lei que garante para todos, brancos e índios, liberdade, defesa e apresentação de provas!

Criminalizar uma nação indígena significa minar a sua auto estima, exercer a tentativa da divisão interna de um povo e, portanto, enfraquecer a sua luta diminuindo a sua resistência diante da cultura dominante.

Há quase seis anos conheço cada dia mais profundamente o povo Xukuru. Preparamos um padre e um diácono, através de cursos especializados no conhecimento da cultura indígena a fim de atender pastoralmente e de forma inculturada esta nação indígena e sempre mais estou convicto de que a alma deste povo é pacífica, orgulhosa de resgatar a sua cultura, altaneira na defesa de seus direitos.

Por isso cheguei à conclusão que a criminalização sistemática de suas lideranças não passa de uma armação de elites incomodadas com a sua organização ou até de autoridades que, tendo encontrado limites no exercício arbitrário de seu poder, estão retribuindo desta forma, que considero desumana, injusta e prevaricatória, às atitudes que o povo Xukuru tomou, na defesa de seus direitos e de suas prerrogativas.

Faço votos que as autoridades competentes tomem as providências cabíveis e que a justiça seja exercida de acordo com os cânones do direito, isenta de todo tipo de interesses a fim de estabelecer um clima de paz e de concórdia entre a sociedade civil de Pesqueira e a nobre nação Xukuru.

Pesqueira, 28 de maio de 2009

+ Dom Francisco Biasin

Bispo de Pesqueira

Peço a vocês do CIMI que façam chegar a nossa mensagem até o Marquinho.

Pedro Casaldáliga

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Querido povo Xukuru, povo do patriarca Xikão, mártir dos direitos do
seu povo; e do meu afilhado Marcos, o Marquinho, tão admirado.

Me associo ao testemunho de milhares do Brasil e do exterior, que
respaldam vossa luta pelos direitos fundamentais de terra, cultura,
justiça e paz. Denunciamos os fraudes, a corrupção comprada e a
insensibilidade de certas autoridades estaduais e federais.

Com vocês e com esses milhares de irmãos e irmãs solidários, louvamos
de coração a declaração tão certeira do Bispo de Pesqueira, Dom
Francisco e renovamos nosso compromisso de vivenciar a causa indígena,
e concretamente a causa Xukuru, em uma solidariedade fraterna.

O sangue dos nossos mártires e o testemunho dos nossos patriarcas e
matriarcas nos batizam de coragem e de esperança.

Recebam um forte abraço de comunhão e um beijo no coração de cada um e
na terra Xukuru mesmo.

Pedro Casaldáliga

LIBERDADE PARA O POVO XUKURU!

Como professores e alunos da Universidade Federal da Paraíba, vimos de público manifestar nossa solidariedade ao Povo Xukuru do Ororubá, em Pesqueira – PE, que vem sofrendo seguidos ataques e violações dos seus direitos sociais, por parte da ganância do latifúndio e da insensibilidade da Justiça, que tem penalizado seguidamente diversas lideranças e outros membros do Povo Xukuru.

Até o presente, tem-se conhecimento de 43 Indígenas processados, 31 condenados, dois presos, ao que se soma a recente condenação de mais seis, inclusive o Cacique Marcos Kukuru, sempre com o aval e a ingerência de poderosas forças econômicas e políticas da região, como numa orquestrada do processo de criminalização dos movimentos sociais e da pobreza, em curso no País.

Reivindicamos que a Justiça cumpra seu papel, inclusive assegurando ampla defesa aos acusados, o que nem sempre tem ocorrido.

João Pessoa, 30 de maio de 2009

Alder Júlio Ferreira Calado

Marcos Antônio Freitas de Araújo

Eízia de Assis Romeu

Thayse Carla Barbosa Ribeiro

Ana Maria Fernandes da Silva

Glaucineth C. de Albuquerque Lima

Cristiane Cavalcanti Freire

Elismar Maria Nunes de Sousa

Márcio de F. Lucena Lira

Almira Almeida C.

Jussara F. de Sousa

Fernanda Wachesi

Juliana Carneiro do Nascimento

Enyjeanny Machado

Surya A. de Barros

Marcelo Xavier de Oliveira

João Paulo da Silva

Amanda M. Vaz de Lima

Waldomiro Cavalcanti da Silva

Alexandre Gadelha Reis

Edvaldo Carvalho

Rejane G. Carvalho

Edilane A. Heleno

Rubens Elias da Silva

Rolando Lazarte

Flávio Nascimento

Gabriela de Souza Arruda

Henry Tavares de Araújo

Wanessa Belarmino de Morais

Giulia Carolina de Melo

Francisco Xavier Pereira da Costa

Yure Silva Lima

Mara Edilara B. de Oliveira

Shousne Itoinhora Freire Nunes

Paula A. Coelho

Márcio Marciano

Jacqueline Alves Carolino

Ariana N. R. Oliveira

Adathiane Farias de Andrade

Emanuel Luiz Pereira da Silva

Josefa Adelaide Clementino Leite

Ângela Maria Pereira

Custodia Brito de Araujo

Felipe Baunilha T. de Lima

Paulo Jorge Barreira Leal

Maria de Fátima Pereira Alberto

Coralina Morais

Jailton dos Santos Silva

Cleonice Lopes

José Inaldo Chaves Jr

Jonathan Elias Teixeira Lucena

Nilza Maria Fernandes Barreto

Raissa Vale Miranda Cavalcante

Kelly Samara do N. Silva

Francisco Ramos de Brito

Anselmo de Oliveira Nunes

Edgard Afonso Malagodi

Maria Patrícia ? Pereira

Tâmara Ramalho de Sousa

Gabriel Pereira de Sousa

Tamires R. Sousa

Melissa R. G. Sousa

Laís Azeredo Alves

Eymaral Mourão Vasconcelos

Bruno Pontes da Costa

Ana Elvira S.S. Raposo

Isabelle Maria Mendes de Araújo

Thiago F. de Castro

Maria Socorro Silva Miranda

Maria Rosangela da Silva

Abrahão Costa Andrade

Ivana Silva Bastos

Nathália Aquino de Carvalho

Arturo Gouveia de Araújo

Maria de Lourdes S. Leite

Marilene Inácio Pereira

Fernanda Gomes Mattos

André Berquó

Fellipe Souza

Artur Cavalcanti

Núbia Roberta A. da Costa

Francisca Rodrigues

Josimery Amaro de Melo

Kallyne Lígia Dantas e Dantas

Rebeca Medeiros da S. Santos

Lívia Lima Pinheiro

Lucas Trindade da Silva

Artur Barbosa L. Maia

Serge Katembera

Romero Antonio de M. Leite

Lucicléa Teixeira Lins

Maria Costa

Jorge Mário Fernandes

Marlene Eduardo dos Santos

Solange P. Góes Silva

Camila Maria Gomes Pinheiro

Mayk Andrade do Nascimento

Emilia de Rodat F. Moreira

Janilson Nóbrega

Araújo Nascimento

Janaína Brasileiro Formiga

Maria do Socorro Xavier Batista

/Luiz Gonzaga Gonçalves

Ernandes de Queiroz Pereira

Maria da Conceição Miranda Campelo

Romero Venâncio Júnior

Germana Alves Menezes

Maria do Socorro Xavier Batista

Luiz Gonzaga Gonçalves

Ernandes de Queiroz Pereira

Maria da Conceição Miranda Campelo

Romero Venâncio Júnior

Germana Alves Menezes

Senhores e Senhoras,

Eu sou Domilto Inaruri Karajá, estudante de direito na Universidade Federal do Tocantins, licenciado em Ciencias Matematicas pela Universidade do Estado do Mato Grosso, atualmente, eu estou fazendo o curso de especializaçao em Povos Indígenas, Direitos Humanos e Cooperaçao Internacional na Universidade Carlos III de Madrid em Espanha, sou membro da Uniao dos Estudantes Indígenas do Tocantins, Membro do Iny Mahadu Coordenaçao (Organizaçao Karaja), Instituto Teribre (organizaçao na aldeia Teribre).

O que acontecendo com os povos indígenas no Brasil, o fato é preocupante, qual pela estou se preparando melhor com intuito de enfrentar nos tribunais, estamos na era de enfrentamento ou de luta pelo qual os indigenas estao nao preparados. Pelos quais os jovens indigenas estao se aventurando em buscando dos conhecimentos juridicos e de outras areas que atendem necessidades dos povos.Entendo que a educaçao a melhor forma de preparar os jovens para enfrentarem novos desafios nas atualidades…

Os povos indigenas tem garantia constitucional no artigo 231 e que preveleça a favor, que nao acontecer de outra forma de colonizaçao, se refere as instituiçoes ou a administaçao de justiça no Brasil esta sendo usado pelos descedentes dos colonizadores ou matadores indígenas ,porque as instituiçoes foram os produtos de politica colonial. Espero que se aplicar a justiça historica, devolvendo a terra aos povos indígenas dessas terras e assim manter a dignidade humana como necessidade basica e o Estado garante a Paz para esse povo dando o direito a terra ja permanencia há muitos seculos antes da chegando dos colonizadores que mataram os indígenas aos defenderem as suas terras, esse tempo ja estrategia da resistencia dos povos indígenas.

E mantenha seguridade juridica e valores dos povos indigenas nos seus habit natural, e organizaçoes indigenas vem lutando intensamente na proteçao dos direitos indigenas, podemos considera isso descolonizaçao, democratizando o acesso a universidade federais e estaduais e desmercantizaçao, devemos buscar a emancipaçao, autonomia, democracia e a justiça social…

E que se aplique a justiça historica, chegar de matança dos lideranças indigenas…

Bom, eu vou elaborar carta de apoio junto colegas indigenas do Chile, Peru, Venezuela, Equador, Panama, Guatemala, Honduras,Colombia e Bolivia. Peço as informaçoes endereço eletronico para distribuir o apoio a esse Povo Indigena.

Saudaçoes Indígenas

Bill Karaja

PARA SABER MAIS SOBRE OS XUKURU DE ORORUBÁ, CLIQUE AQUI, E LEIA EXCELENTE ARTIGO DO PROF. EDSON HELY SILVA.

Destaque

MAIO NA HISTÓRIA


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TEM HOLANDÊS NA BAHIA

“Não se ouviam por entre as matas senão os gemidos lastimosos das mulheres que iam fugindo; as crianças choravam pelas mães, e elas pelos maridos, e todos, segundo a fortuna de cada um, lamentavam sua sorte miserável” – Padre Antonio Vieira
O breve relato do ainda noviço, Pe Vieira, nos dá uma noção do impacto causado pela invasão holandesa na cidade de Salvador, em 2 de maio de 1624, que chegaram com 26 navios, comandados pelo almirante Jacob Willekens.
Para saber mais sobre os reais interesses que cercaram a invasão e a posterior presença holandesa no Nordeste do Brasil, clique aqui.

guerra

GUERRA CONTRA O PARAGUAI

No dia 1º de maio de 1865, reunidos em Buenos Aires, os representantes da Argentina, Brasil e Uruguai, assinam o Tratado da Tríplice Aliança, com o intuito de combater e derrotar o Presidente Paraguaio Solano López.

Saiba mais sobre este episódio, os interesses envolvidos, e que marca até os dias de hoje as relações entre Brasil e Paraguai. Clique aqui.

SÍMON BÓLIVAR, O LIBERTADOR (CLIQUE AQUI)

JOSUÉ DE CASTRO


Josué de Castro destacou-se por seu trabalho sobre a Geografia da Fome no Brasil, bem como sobre suas causas e os meios para combatê-la.

Josué de Castro, um dos principais pensadores da Geografia

Josué de Castro, um dos principais pensadores da Geografia

Josué de Castro (1908-1973) foi um pensador e ativista político brasileiro nascido na cidade de Recife. Apesar de não ser geógrafo de formação (sua graduação era em medicina), tornou-se um dos maiores pensadores da Geografia, em virtude, principalmente, das obras Geografia da Fome Geopolítica da Fome.

Além de sua formação em medicina, também foi livre-docente em Fisiologia (Faculdade de Medicina do Recife), professor catedrático de Geografia Humana (Faculdade de Ciências Sociais do Recife e na Universidade do Brasil) e de Antropologia (Universidade do Distrito Federal). Foi também embaixador do Brasil na ONU, em Genebra, além de ter sido eleito Deputado Federal pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) em 1954 e em 1958. Como resultado da implantação do regime militar, mesmo tendo sido eleito o Deputado com maior número de votos no Nordeste, Josué de Castro teve seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional n°1 em 1964.

Castro caracterizou seu pensamento por romper com algumas falsas convicções que imperavam em seu período (e que ainda se fazem presentes nos dias atuais) de que a fome e a miséria do mundo eram resultantes do excesso populacional e da escassez de recursos naturais.

Em suas obras, provou que a questão da fome não se tratava do quantitativo de alimentos ou do número de habitantes, mas sim da má distribuição das riquezas, concentradas cada vez mais nas mãos de menos pessoas. Por isso, acreditava que a problemática da fome não seria resolvida com a ampliação da produção de alimentos, mas com a distribuição não só dos recursos, como também da terra para os trabalhadores nela produzirem, tornando-se um ferrenho defensor da reforma agrária.

Logo no início de sua obra Geografia da Fome, Josué de Castro afirmou que “Interesses e preconceitos de ordem moral e de ordem política e econômica de nossa chamada civilização ocidental tornaram a fome um tema proibido, ou pelo menos pouco aconselhável de ser abordado”.

Nessa obra, o autor realizou um intenso trabalho no sentido de mapear toda a distribuição e concentração da fome no Brasil. O resultado foi a derrubada de alguns mitos: de que a fome decorria de influências climáticas ou de que tal processo era culpa da improdutividade da população que optava pelo ócio, argumentos bastante populares ainda hoje.

O autor dividiu o país em cinco regiões conforme as características alimentares de cada uma delas. Analisou as características naturais, bem como alguns processos históricos, como a colonização e as transformações políticas e econômicas de cada localidade. Assim, comprovou que a ocorrência da fome e da desnutrição da população não tinha relação com fatores naturais, mas sim políticos, sendo necessária a adoção de políticas de distribuição alimentar e a implantação da reforma agrária.

Geopolítica da fome

Nessa obra, diferentemente da primeira apresentada, Josué eleva a análise da fome a um nível internacional, regionalizando sua análise entre os continentes da América, África, Ásia e Europa.

Josué prossegue e confirma sua tese de que a questão da fome trata-se da má distribuição das riquezas e dos produtos, e não da escassez em termos quantitativos. Nesse sentido, ele demonstra como os processos de colonização e dependência econômica estão diretamente ligados à geração de pobreza e miséria extrema no mundo.


Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PENA, Rodolfo F. Alves. “Josué de Castro”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/josue-castro.htm. Acesso em 20 de agosto de 2022.

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL


A Primeira Guerra Mundial, conhecida como “A Grande Guerra”, constitui o acontecimento que transformou radicalmente a Europa e o mundo.

Por Me. Cláudio Fernandes

Primeira Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918, foi considerada por muitos de seus contemporâneos como a mais terrível das guerras. Por este motivo, tornou-se conhecida durante muito tempo como “A Grande Guerra”. Para se compreender os motivos de ter sido uma guerra tão longa e de proporções catastróficas é necessário relembrar alguns aspectos do cenário político e econômico mundial das últimas décadas do século XIX.https://caaee8d08a91240c8048651aea3e315f.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html?n=0

Na segunda metade do século XIX, a junção entre capitalismo financeiro e capitalismo industrial proporcionou a integração econômica mundial, favorecendo assim, principalmente, as nações que haviam começado seu processo de industrialização. Essas mesmas nações expandiram significativamente seu território em direção a outros continentes, sobretudo ao Asiático, ao Africano e à Oceania. A Inglaterra, por exemplo, integrou grandes países ao seu Império, como a Índia e a Austrália. Todo esse processo é conceitualmente tratado pelos historiadores como Imperialismo e NeocolonialismoNesse cenário se desencadearam os principais problemas que culminaram no conflito mundial.

No início da década de 1870, a Alemanha promovia sua unificação com a Prússia e, ao mesmo tempo, enfrentava a França naquela que ficou conhecida como Guerra Franco-Prussiana. Ao vencer a França, a Alemanha possou a ter posse sobre uma região rica em minério de ferro, que foi importantíssima para o desenvolvimento de sua indústria, incluindo a indústria bélica. Tratava-se da região de Alsácia e Lorena. A França, na década posterior à guerra contra a Alemanha, desenvolveu um forte sentimento de revanche, o que provocava uma enorme tensão na fronteira entre os dois países. A tensão se agravou quando Otto Von Bismarck, o líder da unificação alemã, estabeleceu uma aliança com a Áustria-Hungria e com a Itália, que ficou conhecida como Tríplice Aliança. Essa aliança estabelecia tanto acordos comerciais e financeiros quanto acordos militares.

A França, que se via progressivamente ameaçada pela influência que era estabelecida pela Alemanha, passou a firmar acordos, do mesmo gênero da Tríplice Aliança, com o Império Russo, czarista, em 1894. A Inglaterra, que era um dos maiores impérios da época e também se resguardava do avanço alemão e temia sofrer perdas de território e bloqueios econômicos, acabou se aliando à França e à Rússia, formando assim a Tríplice Entente.https://caaee8d08a91240c8048651aea3e315f.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html?n=0

A tensão entre as duas alianças se tornou crescente, especificamente em algumas regiões, como a península balcânica. Na região dos Balcãs, dois grandes impérios lutavam para impor um domínio de matiz nacionalista: o Austro-Húngaro e o Russo. A Rússia procurava expandir sua ideologia nacionalista eslava (conhecida como Pan-eslavismo) e apoiava a criação, nos Balcãs, do estado da Grande Sérvia, enquanto que a Áustria-Hungria se aproveitava da fragilidade do Império Turco-Otomano (que dominou esta região durante muito tempo) e procurava, com a ajuda da Alemanha, estabelecer um controle na mesma região, valendo-se também de uma ideologia nacionalista (conhecida como Pangermanismo). No ano de 1908, a região da Bósnia-Herzegovina foi anexada pela Áustria-Hungria, o que dificultou a criação da “Grande Sérvia”. Além disso, a Alemanha tinha interesses comerciais no Oriente Médio, em especial no Golfo Pérsico, e pretendia construir uma ferrovia de Berlim a Bagdá, passando pela península balcânica.

O estopim para o conflito entre as duas grandes forças que se concentravam na região dos Balçãs veio com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono da Áustria-Hungria, por um militante da organização terrorista Mão Negra, de viés nacionalista eslavo. O assassinato do arquiduque ocorreu em 28 de janeiro de 1914, em Sarajevo, capital da Bósnia. Francisco Ferdinando tinha ido a Sarajevo com a proposta da criação de uma monarquia tríplice para região, que seria governada por austríacos, húngaros e eslavos. Sua morte acirrou os ânimos nacionalistas e conduziu as alianças das principais potências europeias à guerra.


O assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do trono da Áustria-Hungria, na cidade de Sarajevo, foi considerado o estopim da Primeira Guerra2

A Áustria percebeu neste fatídico acontecimento a oportunidade de atacar a Sérvia e demolir o projeto eslavo de construção de um forte estado. Sendo assim, Áustria-Hungria e Alemanha deram um ultimato à Sérvia para solucionar o caso do assassinato de Francisco Ferdinando. A Servia negou-se a ceder à pressão dos germânicos e, com o apoio da Rússia, sua aliada, preparou-se para o que veio a seguir: a declaração de guerra por parte da Áustria-Hungria, que foi formalizada em 28 de julho de 1914. Logo a França ofereceu apoio à Rússia contra a Áustria-Hungria, o que fez a Alemanha declarar guerra contra a Rússia e a França. O conflito logo se expandiu para outras regiões do globo.

A guerra se intensificou quando o exército alemão, que era o mais moderno da época, rumou em direção à França, passando pelo território belga, que era neutro. Isso fez com que a Inglaterra, aliada da Rússia, declarasse guerra à Alemanha. A partir desse momento, a guerra ganhou proporções cada vez mais catastróficas. As principais formas de tática militar eram a guerra de trincheiras, ou guerra de posição, que tinha por objetivo a proteção de territórios conquistados; e a guerra de movimento, ou de avanço de posições, que era mais ofensiva e contava com armamentos pesados e infantaria equipada.

Ao longo da guerra, o uso de novas armas, aperfeiçoadas pela indústria, aliado a novas invenções como o avião e os tanques, deu aos combates uma característica de impotência por parte dos soldados. Milhares de homens morreram instantaneamente em bombardeios ou envoltos em imensas nuvens de gás tóxico. Essa característica produziu um alto impacto na imaginação das gerações seguintes à guerra. Escritores como Erich Maria Remarque, Ernst Jünger e J. J. R. Tolkien, que combateram na Primeira Guerra, extraíram dela muitos elementos para composição de suas histórias.

O ano de 1917 foi decisivo no contexto da “Grande Guerra”. Nesse ano, a Rússia se retirou do fronte de batalha, haja vista que seu exército estava obsoleto e sua economia arruinada. Foi neste ano também que os revolucionários bolcheviques fizeram sua revolução comunista na Rússia, fato crucial para a efervescência política europeia das décadas seguintes. Foi ainda em 1917 que os Estados Unidos entraram na guerra ao lado da Inglaterra e da França e contra a Alemanha, que já não mais tinha a mesma força do início da guerra. Sendo que, após o fim da Primeira Guerra em 1918, os Estados Unidos tornaram-se a grande potência fora do continente europeu.

A “Grande Guerra” chegou ao fim em 1918, com vitória dos aliados da França e grande derrota da Alemanha. O ponto mais importante a se destacar quanto ao fim da guerra são as determinações do Tratado de Versalhes. Nessas determinações, os países vencedores não aceitaram a orientação da Liga das Nações de não submeter a Alemanha derrotada à indenização pelos danos da guerra. Sendo assim, a Alemanha foi obrigada a ceder territórios e a reorganizar sua economia tendo em conta o futuro ressarcimento aos países vencedores da Primeira Guerra, sobretudo a França.

O saldo de mortos durante os cinco anos da Primeira Guerra foi de um total de 8 milhões, dentre estes, 1.800.000 apenas de alemães. Esse tipo de mortandade acelerada e terrivelmente impactante tornou a se repetir a partir de 1939, com a Segunda Guerra Mundial.


A Primeira Guerra deixou um enorme número de soldados mortos para todas as nações envolvidas, além da vasta destruição nas cidades europeias

O imaginário da Primeira Guerra povoa os territórios de várias artes. No cinema, por exemplo, temos inúmeros filmes que a tematizam. Dois deles merecem destaque: “Corações do Mundo” (1918), de Griffith, produzido ainda “sob o calor da guerra” e “Glória Feita de Sangue” (1957), de Stanley Kubrick.

Fonte: História do Mundo

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*Créditos das imagens:
1 Wikimedia Commons / National Library NZ on The Commons
2 Wikimedia Commons

INDEPENDÊNCIA DOS EUA


A declaração de independência dos Estados Unidos foi emitida durante o Segundo Congresso Continental da Filadélfia.

Independência dos Estados Unidos foi resultado do choque de interesses dos colonos com os da Inglaterra. A declaração de independência aconteceu em 4 de julho de 1776.A declaração de independência dos Estados Unidos foi emitida durante o Segundo Congresso Continental da Filadélfia.

independência dos Estados Unidos foi declarada em 4 de julho de 1776 e reconhecida pelos ingleses em 1783, após cinco anos de guerra. A independência foi resultado do choque de interesses entre colonos e ingleses. A tensão aumentou consideravelmente por meio das leis e dos novos impostos que os ingleses foram impondo à colônia.

Resumo sobre a independência dos Estados Unidos

  • https://611b9f60e14694f9d6fbea22f9bdbe0e.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html?n=0A independência dos Estados Unidos foi resultado do choque de interesses entre Inglaterra e Treze Colônias.
  • Os ingleses aumentaram sensivelmente a cobrança de impostos e se tornaram mais rígidos no cumprimento das leis.
  • A insatisfação dos colonos motivou protestos e conflitos com os ingleses.
  • Os colonos decidiram pela sua independência depois do Segundo Congresso Continental da Filadélfia.
  • A independência foi anunciada em 1776, e os ingleses reconheceram-na em 1783.

Fatores que contribuíram para a independência dos Estados Unidos

A independência dos Estados Unidos foi resultado do rompimento nas relações entre as Treze Colônias e a Inglaterra. Isso aconteceu porque os interesses da Inglaterra e os interesses dos colonos começaram a se mostrar diferentes, gerando atrito entre as partes. A partir de determinado momento, os colonos passaram a entender que não fazia mais sentido manter os laços coloniais com os ingleses.

Primeiramente pode ser mencionada uma série de conflitos nos quais a Inglaterra se envolveu. Grande parte deles tinha reflexos no continente americano, a exemplo dos casos de conflitos contra os franceses, como aconteceu na Guerra dos Sete Anos. No caso da América, esses conflitos resultavam em combates entre colonos ingleses e colonos franceses.

Os colonos sustentavam todo o peso das batalhas, formando e sustentando batalhões, para, no final, não terem os seus interesses considerados pela Inglaterra. Um exemplo claro se deu quando os ingleses se envolveram na guerra de sucessão do trono austríaco. Ingleses e franceses defendiam lados diversos e isso resultou conflitos na América. Os colonos financiaram um ataque a Louisbourg, tomando um forte local, mas, no final, os ingleses forçaram-nos a devolver o forte para os franceses.

Além disso, os colonos sentiram o peso dos impostos aumentar sobre eles porque, com os conflitos, mais tropas eram enviadas para a América do Norte, e o sustento delas era obrigação dos colonos. As guerras também exigiam o aumento de impostos dos colonos, como veremos mais adiante no texto.

O aumento da arrecadação na colônia é entendido pelos historiadores como uma mudança da política colonial dos ingleses em relação às Treze Colônias. Essa mudança tinha relação com o processo de industrialização da Inglaterra, pois era necessário obter mais matérias-primas e abrir novos mercados consumidores. A expansão da indústria inglesa deu-se mediante a exploração das Treze Colônias.

Por fim, havia a questão da ocupação das terras do oeste. Essas terras foram conquistadas dos franceses depois da Guerra dos Sete Anos, e os colonos ingleses desejavam ocupá-las, mas a Coroa inglesa não permitia a ocupação. A decisão da Coroa era parte da política inglesa em relação aos indígenas, isto é, a metrópole não queria ter problemas com os índios que habitavam essas regiões, e a não ocupação das terras era a melhor forma de evitá-los.

Leia maisEUA no século XIX – principais acontecimentos

Novos impostos

Como mencionamos, os gastos que a Inglaterra teve com as guerras em que ela se envolveu ao longo do século XVIII, a Revolução Industrial e a mudança na política colonial trouxeram uma necessidade de maior arrecadação por parte da Coroa. Essa necessidade passava pela criação de novosimpostos e pelo estabelecimento de mecanismos que garantiriam que eles fossem cobrados.

O aumento de impostos e a maior presença de autoridades inglesas nas Treze Colônias colocaram fim numa política que dava grande autonomia aos colonos. A perda de autonomia, a criação de novos impostos e a maior rigidez das autoridades coloniais contribuíram largamente para que as relações entre metrópole e colônia ficasse bem ruins.

Entre as leis anunciadas pela Inglaterra, destacam-se a Lei do Açúcar, a Lei daHospedagem, a Lei da Moeda, a Lei do Selo e os Atos Townshend. Entre elas, uma das que mais causou indignação foi a Lei do Selo, que determinava que documentos em papéis, como contratos, jornais, cartazes, entre outros, tivessem, obrigatoriamente, um selo inglês que era pago.

Essa lei gerou protestos e boicotes por parte da população colona, forçando a Inglaterra a revogá-la. Entretanto, outras leis foram anunciadas posteriormente, como os Atos Townshend e a Lei do Chá. Esta última serviu como estopim para que a insatisfação dos colonos levasse à independência.

Lei do Chá

Ilustração de colonos jogando caixas de chá no mar na Festa do Chá de Boston.

A Lei do Chá foi anunciada em 1773 e determinava que todo o chá vendido nas Treze Colônias seria obrigatoriamente comercializado pela Companhia das Índias Orientais. Isso afetaria uma série de comerciantes que não poderiam mais comercializar um produto importante e também faria com que o preço dele subisse, pois, agora, apenas uma empresa o venderia, e ela teria o direito de cobrar o preço que quisesse.

A indignação com a lei motivou 150 colonos disfarçados de índios a invadirem o porto de Boston e destruírem carregamentos de chá da companhia. Estima-se que cerca de 340 caixas tenham sido lançadas ao mar. Esse evento recebeu o nome de Festa do Chá deBoston e aconteceu no dia 16 de dezembro de 1773.

As autoridades inglesas ficaram furiosas com o acontecimento e decidiram punir severamente a colônia por meio das LeisIntoleráveis. Entre essas leis estava a determinação do fechamento do porto de Boston até que o prejuízo fosse pago. Além disso, elas determinaram a proibição do direito de reunião, além da autonomia de Massachusetts ter sido revogada e de mais soldados terem sido enviados para lá, sendo obrigação dos colonos abrigá-los e alimentá-los.

Quando os colonos declararam a independência?

As Leis Intoleráveis motivaram representantes das Treze Colônias a se reunirem para debater a situação com os ingleses. Essa reunião se deu com o PrimeiroCongresso Continental da Filadélfia, realizado entre setembro e outubro de 1774. Nesse primeiro encontro, os colonos emitiram sua insatisfação com as leis impostas pelos ingleses, mas mantiveram sua fidelidade com o rei inglês.

A situação se agravou porque os ingleses decidiram enviar mais tropas para as Treze Colônias e, mais uma vez, obrigaram os colonos a sustentá-las. O desgaste nas relações aumentou consideravelmente a partir daí, e os primeiros conflitos armados entre colonos e ingleses aconteceram por meio da Batalha de Lexington e Concord, em 1775.

Posteriormente, organizou-se o Segundo Congresso Continental da Filadélfia, no qual os representantes das Treze Colônias alegaram não haver mais condições de manter os laços coloniais com a Inglaterra. Assim, em 4 de julho de 1776, foi emitida a declaração de independência, documento que explicava os motivos da separação.

A independência dos Estados Unidos foi pacífica?

Não. Depois da declaração de independência, os conflitos entre colonos norte-americanos e ingleses seguiram acontecendo e se estenderam por mais cinco anos. Para garantir a defesa de sua independência, os colonos formaram uma milícia armada, que lutou contra as tropas inglesas. Além disso, os cidadãos norte-americanos puderam se armar para se defender.

A derrota dos ingleses foi sacramentada por meio da Batalha de Yorktown, que ocorreu no final de 1781. Depois dela, os ingleses aceitaram negociar com os norte-americanos, e a independência dos Estados Unidos foi reconhecida por meio do Tratadode Paris de 1783.

Por Daniel Neves Silva em História do Mundo

GRÉCIA ANTIGA


Grécia Antiga foi uma civilização que se desenvolveu no sul da Europa, mais precisamente na Península Balcânica, estendendo-se pela Península do Peloponeso e por diversos locais ao longo da costa do Mar Mediterrâneo. Essa civilização começou a desenvolver-se a partir de 1100 a.C., e sua história deu-se até 146 a.C., quando foi dominada pelos romanos.

Tradicionalmente, os historiadores dividiram a história grega em cinco períodos, sendo que o arcaico e o clássico correspondem ao auge dessa civilização. A grande marca dos gregos foi o desenvolvimento da pólis, uma cidade-estado, sendo que as duas principais foram Atenas e Esparta, cada uma representando um modelo de atuação.

Períodos da história grega

A história do povo grego na Antiguidade é uma das mais longas e ricas que conhecemos. Se adicionarmos a ela o período de formação do seu povo, estaremos falando de cerca de dois mil anos de história. Naturalmente, toda essa trajetória foi marcada por avanços e recuos, e, por conta disso, ela foi dividida pelos historiadores em cinco períodos.

Esses períodos levam em consideração a formação do povo grego e as características básicas das suas civilizações. São divisões aproximadas e que não devem ser enxergadas de maneira engessada. A periodização da história grega é a seguinte:

  • Período Pré-Homérico (2000-1100 a.C.): corresponde ao momento de formação do povo grego e nele se destaca a existência das civilizações minoica e micênica.
  • Período Homérico (1100-800 a.C.): caracterizado por grandes lacunas no conhecimento histórico. Os historiadores sabem que se tratou de um momento de recuo civilizacional devido à destruição dos micênicos pelos dórios.
  • Período Arcaico (800-500 a.C.): fase na qual surgiu a pólis, o modelo de cidade-estado dos gregos. A cultura grega expandiu-se pelo Mediterrâneo por conta da colonização, e avanços significativos — como a invenção do alfabeto fonético — aconteceram.
  • Período Clássico (500-338 a.C.): corresponde ao auge da civilização grega, sobretudo pelo grande avanço que a arte e a cultura gregas alcançaram. Duas grandes guerras aconteceram na Grécia.
  • Período Helenístico (338-136 a.C.): declínio da civilização grega, que passa a ser dominada pelos macedônicos, os responsáveis por difundirem a cultura grega para o Oriente. Ao final desse período, a Grécia foi convertida em um protetorado romano.

Formação do povo grego

Como vimos, o período de formação do povo grego ficou conhecido como Pré-Homérico. Essa fase ocorreu durante quase todo o segundo milênio a.C. e ficou conhecida pela existência de duas grandes civilizações: a cretense (ou minoica) e a micênica. A formação do povo grego deu-se pela mistura da cultura cretense com a de povos indo-europeus que se estabeleceram na região da Grécia.

Os povos indo-europeus começaram a chegar à Grécia por volta de 2000 a.C. Eles eram formados por jônios, aqueus, eólios e dórios. Os primeiros povos indo-europeus a chegarem à Grécia depararam-se com uma grande civilização desenvolvida a partir de 2000 a.C. Estamos falando dos cretenses, também conhecidos como minoicos.

  • Cretenses

Os cretenses foram um povo que surgiu na Ásia Menor (atual Turquia) e migrou para as ilhas que existem no Mar Egeu, sendo Creta a principal delas. Em Creta, sobreviveram da agricultura e da criação de animais e desenvolveram laços comerciais que percorreram a região mediterrânica. A expansão dos cretenses é confirmada pelo fato de que sua forma de escrita (chamada de Linear A) foi encontrada em outros locais da Grécia, assim como na Ásia Menor e até na região de Israel.

Por volta de 1400 a.C., a civilização cretense deixou de existir, sendo substituída pelos micênicos. Acredita-se que o enfraquecimento dos cretenses tenha relação com o uso excessivo do solo somado a desastres naturais, como terremotos e erupções vulcânicas, que prejudicaram sua sobrevivência em Creta.

  • Micênicos

Ruínas de uma construção feita pelos micênicos, povo indo-europeu que desapareceu por volta de 1200 a.C.

Os micênicos chegaram à Grécia em 1600 a.C., e, por volta de 1400 a.C., assimilaram os cretenses. Eles eram um povo indo-europeu que migrou para a região, espalhando-se por todo o território grego e chegando às ilhas do Mar Egeu e à Ásia Menor. Sabemos que os micênicos chamavam a si mesmos de aqueus.

Os historiadores falam que a fusão da cultura micênica com a cretense teve grande influência na formação da cultura do povo grego. Os micênicos organizavam-se em cidades-estado, o poder era exercido por um rei que habitava um grande palácio (com os cretenses também era assim), e eles também tinham muitas relações comerciais.

Por conta do comércio, os micênicos desenvolveram uma escrita com algumas semelhanças com a desenvolvida pelos cretenses. Conhecida como Linear B, essa escrita já era realizada em um idioma parecido com o grego. Além disso, os micênicos dominavam técnicas de cerâmica e metalurgia, além de possuírem uma arquitetura imponente.

invasão dórica, iniciada a partir de 1200 a.C., foi o fator que levou à decadência desse povo. Alguns historiadores e arqueólogos sugerem que outros fatores, como insurreição da população, guerras civis e desastres naturais, foram motivos que explicam o declínio dos micênicos. A partir de então, deu-se início ao Período Homérico.

Desenvolvimento da pólis 

Com o fim dos micênicos, as grandes cidades foram reduzidas a pequenas vilas e parte dos grandes palácios foi destruída. A formação da pólis, o modelo clássico de cidade grega, não se deu repentinamente, mas aconteceu lentamente ao longo de séculos. No contexto do Período Homérico, houve um grande recuo civilizacional, mas os historiadores não sabem quase nada sobre essa fase da história grega.

Algo que se sabe é que nela surgiu o genos, uma comunidade agrícola pequena em que seus membros possuíam um grau de consanguinidade e acreditavam que descendiam de um herdeiro em comum (que, na sua crença, era uma figura mítica). O controle dessa comunidade era realizado por um patriarca conhecido como pater.

Originalmente, o genos era marcado por um forte laço de solidariedade e coletividade, pelo qual a terra e o que ela produzia eram compartilhados entre todos. No entanto, com o passar do tempo, a comunidade presenciou a formação de uma aristocracia que dominava as terras, deixando muitos sem acesso a elas. Formou-se, assim, uma aristocracia.

Por questão de sobrevivência, muitos dos genos juntaram-se com outros, formando fratrias. Essa união trazia problemas significativos porque ampliava a desigualdade e gerava disputa de poder e terras. À medida que essa organização não dava mais conta das necessidades governativas do povo grego, a cidade-estado foi surgindo. Esse processo também contou com o fortalecimento do comércio mudanças sociais e políticas.

pólis estabeleceu-se no Período Arcaico, isto é, a partir do século VIII a.C. Todo o território grego foi ocupado por centenas de pólis, destacando-se algumas, como TebasAtenasEsparta e Corinto. A característica básica do modelo de cidade que se estabeleceu na Grécia foi sua autonomia.

Essa autonomia manifestava-se em todos os aspectos: jurídico, político, econômico, religioso etc. Isso significa que a Grécia nunca fui um império com território coeso e fronteiras definidas. Ela era basicamente uma região que aglomerava povos com cultura e idioma comuns.A acrópole de Atenas abriga um dos prédios mais conhecidos dos gregos: o Partenon.

Dois ambientes marcadamente importantes na cidade grega eram a acrópole e a Assembleia, a primeira centralizava os prédios mais importantes da cidade e a segunda era o local da tomada de decisões. No caso da acrópole, ela consistia em uma zona, preferencialmente construída em um local elevado, que reunia os prédios imprecindíveis para aquela sociedade, como os templos religiosos.

A construção da acrópole em local elevado cumpria propósitos militares estratégicos, e essa zona geralmente era fortificada. A acrópole mais conhecida é a de Atenas, pois abrigava um dos prédios mais conhecidos da civilização grega: o Partenon. Já a Assembleia, chamada de ekklesia, era o local onde os cidadãos da cidade reuniam-se para a tomada de decisões. No caso de Atenas, esse prédio foi o grande símbolo da sua democracia.

Além da acrópole, toda a cidade desenvolvia-se no interior das muralhas (construídas para a segurança local), e as terras ao redor do núcleo urbano, ocupadas por camponeses que produziam os alimentos que sustentavam a pólis, também faziam parte dos seus domínios. A cidade de Esparta, por exemplo, tinha posses sobre terras que correspondiam a 8.500 km2. Era o maior território sob o domínio de uma pólis.

Colonização grega

O estabelecimento da pólis foi marcado também pelo processo de concentração de renda, em que a população empobrecida começou a ter cada vez menos acesso às terras e estava cada vez mais endividada. Os que não conseguiam pagar suas dívidas, tornavam-se escravos.

Nesse momento, o comércio estava em expansão e as embarcações gregas iam para diferentes locais no Mediterrâneo. Parte da população, procurando melhores oportunidades, aproveitou-se dessas conexões com outras regiões para sair do território grego. Assim, um grande número de gregos estabeleceu-se em locais como o norte da África, a Sicília, sul da Espanha e da França etc.

Essa expansão e formação de outras pólis nesses locais ficou conhecida como colonização grega. Essas cidades formadas por gregos fora da Grécia estruturavam-se dentro dos mesmos padrões que as pólis que existiam naquele território. Claro que cada uma dessas colônias acabou incorporando elementos característicos da região em que se estabelecia.

Atenas e Esparta

Os dois grandes exemplos de cidade-estado na Grécia foram Atenas e Esparta, pois foram as mais influentes e poderosas pólis. O modelo existente nelas foi adotado por muitas outras, e uma intensa rivalidade existia entre ambas. Essa rivalidade resultou-se na Guerra do Peloponeso, que durou de 431-404 a.C.

Atenas representava o modelo democrático, mas é importante considerarmos que ele foi resultado de reformas políticas que visavam ao combate da forma aristocrática da cidade. No século VI a.C., uma série de mudanças foram realizadas em Atenas, promovendo a instauração desse modelo democrático.

Isso foi resultado de pressão social, pois uma pequena aristocracia mandava na cidade, mas havia uma demanda crescente por maior representatividade. No começo desse século, Sólon colocou fim na escravidão por dívidas e organizou a participação dos cidadãos atenienses na Assembleia por meio de uma divisão da cidade em quatro grupos definidos pela renda média.

Décadas depois, Clístenes aprofundou essas mudanças colocando fim no critério de renda e promoveu uma nova divisão que levava em consideração a localização da residência dos cidadãos. Isso garantiu um aumento na participação na Assembleia, mas, ainda assim, essa instituição manifestava apenas os interesses da aristocracia da cidade. Importante considerarmos que o cidadão, dentro da lógica ateniense, era o homem nascido na cidade, filho de atenienses e com mais de 18 anos.

Já a cidade de Esparta tinha um modelooligárquico, no qual um grupo muito pequeno comandava-a. Esse controle dava-se por meio da força militar, pois os que controlavam Esparta eram guerreiros. Ser guerreiro era uma condição essencial para os que formavam a aristocracia espartana. Essa aristocracia possuía os direitos políticos, era dona das terras e explorava o trabalho da população.

Parte considerável do trabalho era realizada pelo hilotas, o grupo de escravos que formava a maior parte da população espartana. Como eles eram intensamente explorados, a aristocracia espartana mantinha-os sob controle por meio da violência. De tempos em tempos, guerreiros espartanos invadiam os locais habitados pelos hilotas para matá-los livremente. Era o controle pelo medo.

Essa aristocracia guerreira passava porformação nas artes militares desde a infância e dedicava sua vida a esse ofício, portanto, não trabalhava. Além disso, seus componentes eram os únicos que participavam da política. Apesar do modelo distinto e da grande rivalidade, o século V a.C. presenciou a união de Atenas e Esparta. O objetivo dessa união foi derrotar os invasores persas.

Declínio grego

O período clássico foi o de maior desenvolvimento intelectual e econômico da Grécia, mas também foi o que marcou o início da decadência dos gregos. Dois grandes conflitos caracterizaram essa parte da história grega no final do seu período clássico. Por fim, os gregos foram derrotados pelos macedônicos e dominados por eles.Registro da Batalha das Termópilas, uma das batalhas mais famosas das Guerras Médicas.

Os dois conflitos mencionados foram as Guerras Médicas, duas batalhas travadas entre gregos e persas, e a Guerra doPeloponeso, batalha travada entre atenienses e espartanos que arrastou toda a Grécia para uma guerra civil.

No caso das Guerras Médicas, elas aconteceram em dois momentos, nos quais os persas foram liderados primeiro por Darioe depois por Xerxes. O objetivo dos persas era conquistar a Grécia e anexá-la ao seu território, mas os gregos uniram-se e derrotaram-nos nas duas batalhas. Os dois momentos decisivos foram a Batalha de Maratona (490 a.C.) e a Batalha de Plateia(479 a.C.).

Depois desse conflito, os atenienses tiveram um período de supremacia na Grécia. Essa cidade viveu grande desenvolvimento cultural e econômico, sobretudo pelo seu papel de líder da Liga de Delos. O crescimento da influência ateniense incomodava Esparta, e então uma guerra entre as duas cidades iniciou-se em 431 a.C. Essa foi a Guerra do Peloponeso, que aconteceu em três fases, entre 431 a.C. e 404 a.C.

Os espartanos venceram essa guerra e colocaram-se como a grande força na Grécia. O domínio espartano não agradava a todos, e, em 371 a.C., a cidade de Tebas conseguiu derrotá-los, tornando-se a principal. No entanto, essa sucessão de guerras enfraqueceu a Grécia e tornou-a suscetível a invasões.Em 336 a.C., Alexandre da Macedônia foi corado rei. Ele foi o responsável por expandir seu império pelo Oriente, derrotando os persas.

Em 338 a.C., Filipe II da Macedônia, rei dos macedônicos, liderou as tropas de seu povo e conquistou a Grécia. Dois anos depois, seu filho, Alexandre, tornou-se rei e expandiu os domínios macedônicos pelo Oriente, derrotando os persas. Como os macedônicos eram um povo helenizado, a cultura grega foi difundida por essa região. Depois da morte de Alexandre, o império macedônico enfraqueceu-se, e, séculos depois, os romanos conquistaram a Grécia.

Por Daniel Neves Silva em História do Mundo